A arte de afugentar hooligans

Ameaçadores grupos de jovens, hooligans, aglomeram-se na entrada de lojas numa pequena cidade inglesa. O que fazem os proprietários? Chamam a polícia? Tiram a espingarda de debaixo do balcão?

Nada disso. A arma mais eficiente para dispersar os maus elementos é tocar Bach nos auto-falantes. Dá o que pensar!

11 comentários em “A arte de afugentar hooligans

  1. “They flee the way Count Dracula fled before holy water, garlic flowers, and crucifixes”

    Hahahahahaha

    Agora coloque “300” no telão e imagine a irresistível atração que a fita exerceria sobre esses marginais. E alguns cretinos da “direita” brasileira chamam aquilo de Arte…

  2. Bonito…Mas você se esqueceu de ler o último prarágrafo, e a frase final do penúltimo, que fazem a gente pensar além desse maniqueísmo, que já virou clichê, de civilização versus barbárie.

  3. Que decepção. Até esse momento, imaginava que ao som de Mozart os jovens hooligans saíam a destruir tudo animadamente, convocando seus druguis para um vandalismo mui horrorshow… Ou será que os companheiros de café do belga eram todos adultos responsáveis, já devidamente reeducados?

    Há toda uma fanfarronice óbvia no texto do Dalrymple, o que nem é raro -principalmente nesses comentários curtos para a City. Apesar de saber disso, não deixo de me incomodar com o conservadorismo superficial da coisa toda, ainda mais desagradável pelo que conheço do autor como um dos luminares atuais da eterna cantilena conservadora a respeito da “decadência do Ocidente”:

    “Rotherham boasts a lot of fine early nineteenth-century architecture (and even a very fine fifteenth-century church), but everything has been overwhelmed, dwarfed, and ruined by highways and brutalist concrete buildings of surreal hideousness, many of them municipal and all of them erected with municipal consent. If the powerful do not care about the world, why should the powerless?”

    Aqui, Dalrymple faz um comentário estético: elogia a beleza de construções históricas, virtude que estaria se perdendo para os olhos dos comuns em meio a modernismos horrendos – blocos de concreto e malignas higways, essas coisas inúteis que se espraiam sob as bênçãos do Cramulhão por aí. Mas ficam as perguntas chatas, aquelas de quem insiste em deixar a retórica (e talvez também a “ideologia”, só para provocar o Theo) e o beletrismo vazio um pouquinho de lado: que highways seriam essas, como cortam a cidade? Quando foram construídas – e sob que justificativas? Quem as utiliza, indo de onde para onde? Seria possível pensar em traçado outro para elas, mais “harmônico” diante das construções históricas de Rotherham – e “mais harmônico” para quem? Para um burocrata, para a massa [a massa reclama das higways?] ou para o médico e colunista Theodore Dalrymple, que deveria ser alçado ao cargo de planejador urbano e preservador arquitetônico da cidade? E os blocos de concreto públicos e privados, “all of them erected with municipal consent”? O município não deveria regular em absoluto as construções? Ou deveria, mais uma vez, deixar a função a cargo do “bom gosto” do Theo, que impediria tão nefandas abominações de atrapalharem a vista da sua igreja querida? O que deve regular(ou não) as construções públicas: libertarianismo, burocracias social-democratas, democratismo plebiscitário, elitismo conservador?

    Nada disso é tocado – o que não impede a afirmação peremptória, decadentismo que na fanfarronice geral chega perto de desculpar a marginalidade dos “powerless” que assaltam os clientes dos mercadinhos ingleses.

    E só para voltar ao ponto inicial: seria demais lembrar que há não muito tempo certos rebeldes revolucionários e profundamente antiocidentais (principalmente o maior-menor deles, o do bigodinho) adoravam ouvir – entre um semita e outro – um rapazote chamado… Richard Wagner??

    Abraços.

  4. Depois falam mal da “estética moralista” do Platão… hehehe

    Podemos até não gostar, mas penso que no fundo ele estava certíssimo. A Música “dispõe o espírito” de acordo com sua harmonia, textura, etc.

    Lógico que ela não DELIMITA estritamente, isso seria insanidade “carola”.

    Mas que, dependendo das circunstâncias, a Música é capaz de estimular as paixões para este ou aquele caminho, bah, disso não tenho dúvidas. Como toda arte, aliás.

    Abs

  5. Claro, o comentarista acima falou bem: Wagner era tocado enquanto judeus eram trucidados. Ou seja, cultura dita “superior”, tal como definem os conservadores, nada tem a ver com civilidade.

    Mas vamos ao Bach. Suas melodias são muito lindas, tocantes, profundamente religiosas, etc. Certo. Gosto de Bach e considero que suas composições são fundamentais para o exercício dos dedos na guitarra heavy.

    Porém, se vamos ao cerne, há melodia demais em Bach. Variações em torno das escalas menores e maiores, com inclusões melódicas … Ou seja, depois de um tempo, passa a ser muito entediantes…

    Diferente dessa concepção “melódica” da música, está o jazz … Dissonâncias, habilidade e improvisação. Muito mais entretido para quem é músico.

    Quem é consumidor de música e valoriza a tal “cultura superior”, mas não sabe porra nenhuma da música como prática, tem mais é que se contentar com Bach mesmo e achá-lo o máximo do máximo.

  6. Jazz é música da selva. É mais “entretido” para quem é músico como um sacrifício humano é mais “entretido” para quem é sacerdote… “Como é tediosa a sua missa”, diria um sacerdote asteca para um padre. O músico que quer se “entreter” deveria amputar um braço, ficaria muito mais divertido, difícil e nada tedioso. Fica a dica.

  7. Sinceramente, não vejo oposição alguma em gostar tanto de estilos populares quanto eruditos.

    Quem vai negar que Bach toca a alma de uma forma mais elevada do que Michael Jackson? Ambos são formidáveis, mas em níveis diferentes. Posso até preferir e me divertir mais com o rei do pop, mas não posso negar que Bach seja um músico superior.

    Coca-Cola e vinho são bebidas ótimas. Aliás, sinceramente, prefiro Coca. Não tenho o menor receio em admitir, no entanto, que vinho seja uma bebida mais refinada e que requeira uma educação do paladar maior para ser apreciada.

    Acho meio ridículo desprezar o jazz em prol da música erudita, com ares de superioridade. E acho o mesmo do fã de jazz que despreza o pop.

    Não sou músico, mas duvido que seja unânime essa opinião de que tocar música erudita seja entediante e tocar jazz seja interessante. Com certeza você tem um ponto aí, eu mesmo tenho um amigo que toca jazz e pensa igual, mas é bem provável que muitos músicos eruditos pensem diferentemente.

  8. Esse discurso de “isso é relativo” é uma doença moderna MESMO para a música. Como a música é possivelmente a arte mais intuitiva que existe, as pessoas, mesmo as mais “cultas”, tendem a dar vazão a essa noção subjetivista. É um erro.

    Não dói a ninguém conformar-se com a verdade, e a verdade é que há, intelectivamente, músicas superiores e músicas inferiores. Superioridade de composição, complexidade, harmonia, textura, enfim, podemos falar até nas razões matemáticas de Pitágoras, ou na “estrutura intrínseca” referida pelos estetas mais “modernistazinhos” da Alemanha e da Inglaterra setecentista, etc.

    Se há músicas mais “patéticas” (pathos) que outras, AÍ é OUTRA questão.

    Devemos valorar as artes somente por seu aspecto patético? Ou somente pelo seu “aspecto intelectivo”?

    Ora, a música erudita, ALÉM de seu “poder intelectual” (“microcósmico”, roubando o termo trabalhado na Antiga Academia platônica), notadamente estimula as paixões.

    É ÓBVIO que todos estão livres para escutar o que bem entenderem; eu mesmo tenho um gosto muito variado. Mas não há como negar a existência de uma escala gradativa de valores nesse universo musical, que não deixa de ser mais um canal por onde expressamos as coisas que nos circundam e que também se manifestam dentro de nós mesmos.

  9. Certo Renan, e é você que irá dizer o que é certo e o que é errado? O que é superior e o que é inferior?

    Você é só um consumidor de música, por isso essa besteira inútil e textual, da “composição, complexidade, harmonia, textura”.

    Nota-se que nao sabe nada de música. Textura não existe, em música, meu caro. Metáfora infeliz que alguns idiotas como você criaram.

    Composição, bem, exceto o barulho descoordenado de a um motor, toda e qualquer música é uma composição.

    Complexidade? Bem, não se aplicam propriamente a muitas composições de Bach e de outros barrocos, que primavam pela simplicidade. Mais complexos e dissonantes são os chamados eruditos contemporâneos (quase inaudíveis para muitos).

    Harmonia? Dê-me uma definição de harmonia? Você sabe o que é isso ou copiou de algum lugar?

    Por favor, quando falarem de música, convidem um músico de verdade, não “achistas” de ocasião.

  10. Meses e meses depois o tal “músico” aparece para responder ao meu comentário.

    Não basta isso, busca, ao invés de negar as minhas afirmações mais fundamentais, desqualificar-me por termos que utilizei, termos que SIM SENHOR são utilizados no estudo da música. Textura musical não existe? Vejo que o sujeito entende de música o mesmo que eu entendo de física de partículas.

    É notório, enfim, que entrou completamente “de sola” na questão discutida no tópico, sem sequer tocar no âmago do debate (disposição espiritual x música).

    Presumo seres um pretenso entendido de música modernistazinho que acabou “googleando” por acaso esta página e se ouriçou com o meu ponto de vista, que nada tem de novo ou absurdo, aliás, conta uma tradição de 2500 anos.

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