A ciência torna a crença em Deus obsoleta?

O debate entre ciência e fé ganhou força nos últimos anos com a publicação de livros polêmicos que combatem a crença em Deus em nome da ciência. Em resposta, há defensores da religião que denigrem a razão humana e questionam o método científico enquanto tal, o que também tem aprofundado a aparente divisão entre os dois campos.

Outras vozes, na minha opinião mais razoáveis, argumentam que não há incompatibilidade alguma entre ciência e fé; o que não deve ocorrer é que uma tente responder questões próprias da outra.

É para levar à frente esse interessante debate que a Fundação John Templeton convidou importantes cientistas, filósofos e teólogos para dar sua resposta à pergunta: “A ciência torna a crença em Deus obsoleta?”

Entre os convidados estão o famoso psicólogo evolucionista Steven Pinker, o polemista ateu Christopher Hitchens, a filósofa Mary Midgley, o nobel de física William D. Phillips e o cardeal Schonborn, arcebispo de Viena, que tem escrito muito sobre o tema. Confiram os textos de cada um deles aqui.

6 comentários em “A ciência torna a crença em Deus obsoleta?

  1. Este debate é extremamente importante e necessário. Não podemos manter tal pretenso conflito, fruto das “Luzes”. Precisamos é alargar a razão, como convida Bento XVI. Penso que a encíclica Fides et Ratio dá muitas contribuições para a discussão…Confronto não! Diálogo e integração sim!

  2. Joel, eu nunca me esqueço de Alberto Oliva (UFRJ) dizer exatamente isto em um livro, há anos. Em outras palavras, crença é uma coisa e ciência é outra. Religião e ciência não respondem à mesma pergunta. Inquietudes sobre nossa existência cabem na religião.

    Claro, existem aí pontos de fronteira, mas, ainda bem, podemos escolher o que fazer…

    Abraços

  3. Mas a pergunta tem de ser formulada nestes termos? Se esse debate fosse sincero, a hipótese contrária também deveria ser colocada, tipo assim: “Deus torna a crença na ciência obsoleta?”

    cumprimentos,

    Fernando.

  4. Prezado Joel,esse conflito parece-me desde sempre desenhado conforme a própria natureza do pensamento.Se vamos permitir que tudo se reduza ao fascínio e à fatalidade de um pensamento pautado pela repulsa a qualquer contradição, então já nem teremos a liberdade necessária para acessar um diálogo verdadeiro.O que essa polêmica pode é dizer muito acerca dos contendedores que somos nós, reféns do conflito.Não creio que a fé seja algo separável do modo como Chesterton (“Ortodoxia”) invoca apenas a sua intuição, o seu bom senso, a sua experiência da realidade.E não se valer de dogmatismos pode bem ser a base de um pensamento que quer se aliviar dos excessos de seu incrível peso próprio, de sua superestrutura autômata e aferidora de identidades, se aliviar de suas formas sutis de dominação.E não ergo barreiras contra a espontaneidade que escuto em Van Gogh:”Cristo foi tão infinitamente grande porque nenhuma mobília ou outros quaisquer acessórios jamais atravessaram seu caminho.”
    Um abraço e parabéns à Dicta&Contradicta

  5. A crença em Deus é “poderoso incentivo para uma vida me­lhor” ? Por que precisais de um incentivo para viver melhor? Ora, por certo, vosso incentivo deve ser vosso próprio desejo de viver com pureza e simplicidade, não achais? Se conferis tanta im­portância ao incentivo, não estais interessado em tornar a vida possível para todos: estais interessado unicamente no vosso in­centivo, que é diferente do meu incentivo — e brigaremos por causa dos nossos incentivos. Se vivemos felizes e unidos, não porque cremos em Deus, mas porque somos humanos, comparti­lharemos os diferentes meios de produção, a fim de produzirmos, para todos, as coisas necessárias. Em virtude da nossa falta de inteligência, aceitamos a ideia de uma superinteligênda, a que chamamos Deus; mas esse Deus, essa superinteligência, não nos dará uma vida melhor. O que conduz a uma vida melhor é a Inteligência; e não pode haver inteligência se há crenças, se há divisões de classes, se os meios de produção se encontram nas mãos de poucos, se há nacionalidades isoladas e governos sobera­nos. Tudo isso indica, por certo, evidente falta de inteligência, e é isso que nos está privando de uma vida melhor, e não a falta de crença em Deus.

    Todos vós credes, de diferentes maneiras, mas vossa crença não tem realidade alguma. A realidade é o que sois, o que fazeis, o que pensais, e vossa crença em Deus é apenas uma fuga do vosso viver monótono, estúpido, e cruel. Além disso, a crença, invariavelmente, separa os homens: temos o hinduísta, o budista, o cristão, o comunista, o capitalista, etc. A crença, a ideia, divide, não une os homens. Será possível unir certo número de pessoas em um grupo, mas este grupo se oporá a outro grupo. Ideias e crenças nunca são unificadoras, ao contrário, são fatôres de desavença, desintegração e ruína. Por conseguinte, vossa crença em Deus só está, na verdade, espalhando misérias pelo mundo. Ainda que vos tenha trazido momentâneo conforto, na realidade ela trouxe mais sofrimentos e mais destruição, sob a forma de guerras, fome, divi­sões de classe, e as crueldades de certos indivíduos. Vossa crença, pois, é sem eficácia. Se deveras crêsseis em Deus, se isso fosse uma experiência real, vossos semblantes irradiariam afeto, e não estaríeis destruindo vossos semelhantes.

    Mas, que é a realidade, que é Deus? Deus não é a palavra; a palavra não é a coisa. Para conhecer aquilo que é imensurável, independente do tempo, a mente deve estar livre do tempo, o que significa que deve estar livre de todo pensamento, de todas as ideias relativas a Deus. Que sabeis de Deus ou da verdade? De fato nada sabeis daquela realidade. O que conheceis são só pala­vras, experiências de outrem, ou alguns momentos de experiências um tanto vagas, de vós mesmos. Isso, naturalmente, não é Deus, não é a realidade, não está fora da esfera do tempo. Para conhecer o que está além do tempo, é preciso compreender o processo do tempo, sendo o tempo pensamento, processo de “vir a ser”, acumu­lação de conhecimentos. Aí está todo o fundo que constitui a mente; a mente, ela própria, é o fundo, consciente e inconsci­entemente, coletiva e individualmente. A mente, por conseguinte, deve estar livre do conhecido, o que significa que deve estar de todo silenciosa, sem ter sido posta em silêncio. A mente que alcança o silêncio como resultado, como consequência de determinada ação, exercício, disciplina, não é mente silenciosa. A mente que é cons­trangida, controlada, moldada, posta numa forma e obrigada a ficar quieta, não é mente tranquila. Podeis conseguir, por certo período de tempo, forçar a mente a um silêncio superficial, mas essa mente não é tranquila. A tranquidade só pode vir quando se compreende todo o processo de pensamento, porque, compre­ender o processo é pôr-lhe fim, e o fim do processo de pensamento é o começo do silêncio.

    Só quando a mente se acha em silêncio completo, não só na superfície, mas no fundo, de ponta a ponta, tanto nos níveis su­perficiais como nos níveis mais profundos da consciência — só então pode o desconhecido manifestar-se na existência. O desconhecido não é passível de ser experimentado pela mente; só o silêncio pode ser experimentado; nada mais senão o silêncio. Se a mente experimenta algo que não seja silêncio, está apenas projetando seus próprios desejos e portanto não está em silêncio; enquanto a mente não está silenciosa, enquanto o pensamento, sob qualquer forma, consciente ou inconsciente, se acha em movimento, não pode haver silêncio. Silêncio é liberdade, é estar livre do passado, do saber, da memória, tanto consciente como inconsci­ente. Quando a mente está silenciosa de todo, quando não está em uso, quando há o silêncio que não é produto de esforço, só então se manifesta o atemporal, o eterno. Esse estado não é um es­tado de lembrança; não há nele entidade que se recorda, que ex­perimenta.

    Por consequência, Deus ou a verdade — ou como quiserdes chamá-lo — é algo que se manifesta de momento a momento, e isso só pode acontecer num estado de liberdade e espontaneidade, e não quando a mente foi disciplinada, de acordo com uma pa­drão. Deus não é produto da mente, não é resultado de autoprojeção; só pode surgir quando há virtude, que é liberdade. Virtude é enfrentar o fato, o que é. E enfrentar o fato é um estado de bem-aventurança. Só quando a mente está repleta de felicidade, tranquila, imóvel, sem nenhuma projeção de pensamento, cons­ciente ou inconsciente — só então se manifesta o Eterno

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