A deformação da linguagem

Em entrevista publicada no caderno Sabático, do jornal O Estado de S. Paulo (que, pouco a pouco, transforma-se em uma publicação oficial da esquerda hegemônica, muito mais que a Folha de S. Paulo – ah, a vingança é um prato que se come frio…), Alfredo Bosi, o outro monarca do pensamento literário (sempre em competição com Antonio Candido), discorre sobre as ideologias e as contraideologias.

O monarca número 2 até fala algumas coisas corretas, mas o problema de toda a entrevista é que tanto o repórter que fez as perguntas como o próprio Bosi se comunicam em uma linguagem impenetrável. Aí vem a pergunta: Será que eles sabem pedir uma pizza como uma pessoa normal?

É claro que não. Ontem peguei o livro para dar uma folheada e, já pelo índice, deu para perceber o que vinha pela frente. Para Bosi, a ideologia maléfica é, óbvio, o liberalismo de direita; e a tal da contraideologia seria a esquerda cristã, seja lá o que isso for, pois, como vocês sabem, marxismo e Jesus Cristo nunca combinaram, exceto neste adorável FEBEAPÁ.

(Ah, e prometo que vou ler o livro com cuidado e darei mais informações a vocês, meus caros leitores. Stay Tuned!)

Como se não bastasse, o divertido é ler as notas de rodapé, esta vítima do pedantismo acadêmico (notas de rodapé são sempre divertidas de ler quando têm realmente algo a dizer; no Brasil, elas sempre ficam jogadas no canto, prestes a serem abandonadas – como foram – para o desprezo dos estudantes. Não percebem que o rodapé é a arma do verdadeiro scholar). Bosi só cita como referência de estudo a sua própria tchurma da USP – Janine, Chauí, et caterva – ou então umas teorias que fazem sentido apenas em reunião de departamento. É algo edificante de se ler…

Mas não se você preza a linguagem de alguma forma. Seja na universidade, seja no jornalismo, quem sai estuprada é a linguagem, que deveria expressar corretamente o real tal como é – e este não admite qualquer espécie de ideologia. Porém, se este pessoal não consegue pedir uma pizza, será que se espera coisa diferente quando se trata das coisas fundamentais?

Bem vindos ao mundo maravilhoso da novilíngua!

6 comentários em “A deformação da linguagem

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  2. A entrevista já seria um horror se publicada em 1972; em 2010, então, em plena crise do welfare state, trata-se de um enorme contrasenso. E esse povo ainda cita Gramsci a sério (Martim, tem ainda o monarca número 3, Roberto Schwarz…).

  3. Martim, meu caro:

    É tanto clichê, que nem vale a pensa levar a sério. O que o Bosi diz no trecho desse livro disponível na entrevista podia estar — e logo estará — na apostila de história geral do Objetivo. É simplesmente lamentável — mas, pensando bem, dá gosto de ver, sim: a esquerdalha vai de mal a pior…

  4. Quando vejo um senhor desta idade carregando ainda velhas idéias erradas e já refutadas eu fico me perguntando: como isso é possível?

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