A morte nas esferas pública e privada

Não sabemos lidar com a morte. Com menos gente morrendo “fora de hora” (o que é bom), pensamos menos nela. Ao mesmo tempo, a mídia e a Internet confundem as esferas pública e privada. Antes, saber que alguém distante morreu era só mais um fato abstrato; agora temos que ver a mãe chorando na TV e os vídeos-tributo que os amigos publicaram no Youtube. Sentimentos privados vêm a público, e todos se sentem obrigados a partilhar do sofrimento de quem era próximo. Pior: confundimos isso com respeito.

“Que homem bom: ele sente profundamente a morte de todos os seres humanos” – isso pode bem ser verdade, mas as poucas pessoas que de fato sentem assim só se encaixam em dois tipos de vida: se acreditam numa transcendência, vida dedicada à oração ou ritos propiciatórios para os que se foram. Se atéias, vida melancólica contemplando a tragédia da humanidade destinada aos vermes. Claro, a imensa maioria não está nem aí para a morte de desconhecidos, caso contrário viveríamos em luto constante, pois tem sempre alguém morrendo.

Ficamos tristes quando morre alguém próximo. Quanto mais conhecemos sua vida, mas tocados ficaremos em saber de seu fim. Mas se desconheço o morto e não tenho relação com seus entes próximos, por que manter a pose e condenar como “desrespeitoso” quem não entre no jogo? Quem nunca riu com o Darwin Awards que atire a primeira pedra.

Continue a leitura no Terra à Vista.

3 comentários em “A morte nas esferas pública e privada

  1. Pingback: Tweets that mention A morte nas esferas pública e privada | Dicta & Contradicta -- Topsy.com

  2. “a mídia e a Internet confundem as esferas pública e privada […] agora temos que ver a mãe chorando na TV e os vídeos-tributo que os amigos publicaram no Youtube.”

    Bom, eu não “tive” de ver nada disso, de modo que, pelo jeito, há mais confusões entre “esferas pública e privada” do que a princípio se imagina.

  3. Sim, Guilherme, ninguém “tem” que ver nada. Mas o fato é que vêem, e as esferas acabam por se confundir.

    Recentemente um guarda de prisão americano chocou a nação ao tweetar (ou blogar? Não lembro mais) sobre os últimos momentos de vida de um prisioneiro condenado à morte.

    Quando cai um avião, há cobertura intensa das reações das famílias das vítimas, mostrando sua angústia ao olhar a lista de passageiros, o desespero da descoberta, a revolta contra as companhias, etc.

    (Se algum colega libertário libertário estiver lendo isso aqui: não, não estou propondo proibir nada disso – é possível comentar fenômenos sociais sem imediatamente querer louvá-los ou proibi-los).

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