A política e os bispos

Os bispos católicos da Inglaterra e de Gales lançarão um documento com seus pensamentos acerca da campanha política pelo poder no país. Tudo indica que os conservadores se elegerão, depois de uma longa hegemonia trabalhista, então a hora é boa para pronunciamentos desse tipo. Muito já era esperado: crítica às políticas que negam a vida humana, à aceitação civil do homossexualismo e à intolerância religiosa por parte do governo (que quer obrigar escolas católicas, por exemplo, a ensinar seus alunos onde fazer um aborto). E no meio dessas declarações, um insight novo, e que considero na mosca: os bispos alertam para o dano de se tentar substituir a virtude pessoal e cívica por regulamentações burocráticas.

Quanto da civilização ocidental não padece disso? Serviços e leis desenhados para resolver os problemas da vida dos cidadãos, mas cujo efeito acaba sendo destruir pouco a pouco suas vidas. Criação de direitos infinitos (direito à educação, ao lazer, à cultura, ao trabalho – ou seja, direito de ficar de braços cruzados enquanto outros provêm os serviços). Leis que prescrevem integralmente como deve se dar a conduta humana. Vigilância 24 horas por dia para se certificar que ninguém quebra as regras. Nem preciso dizer que a educação, o lazer, a cultura e o trabalho vão todos por água abaixo.

Infelizmente, os bispos ainda não enxergaram que seu ranço anti-mercado tem sua parte nesse sistema de incentivos torpes, e que o governo socialmente solidário que propõem é idêntico ao governo burocrático e viciador que condenam.

3 comentários em “A política e os bispos

  1. “Infelizmente, os bispos ainda não enxergaram que seu ranço anti-mercado tem sua parte nesse sistema de incentivos torpes, e que o governo socialmente solidário que propõem é idêntico ao governo burocrático e viciador que condenam.”

    Alguém vê qualquer semelhança com a atua campanha da fraternindade do ano de 2010 da Igreja Católica no Brasil? Tsc tsc…

  2. Joel,
    o que me irrita no mundo católico é a ignorância econômica episcopal e a incapacidade de bispos bem intencionados perceberem que os remédios propostos nunca alcançarão os fins almejados, pelo contrário, apenas acelerarão a doença. No Brasil é ainda pior, já que nossos bispos não têm apenas aquela suspeita anticapitalista típica dos conservadores continentais europeus, e sim aquela crença idiota de quem foi educado seguindo as crenças cepalinas dos anos 1960. É triste, mas essa geração episcopal que hoje tem lá seus 60 anos é demasiado terceiro-mundista.

  3. É, concordo com você, Sílvio. Acho que houve progressos, contudo. João Paulo II, por exemplo, defendeu um tipo de sociedade muito mais liberal do que seus antecessores próximos (Paulo VI, por exemplo, que exortava os países ricos a pagar mais impostos para salvar os países pobres. Ou ainda Pio XI, que advogava um governo corporativista, no qual o Estado faria a mediação entre patrões e empregados). A importância do empreendedor e da pessoa humana, da pequena escala, da autoridade local (ou seja, a aplicação mais consistente do princípio de subsidariedade), a percepção clara dos danos da burocracia e da tentativa de resolver os problemas humanos via legislação é algo que se harmoniza naturalmente com o pensamento econômico liberal.

    Mesmo aqui no Brasil foi publicado recentemente por um bispo um manifesto anti-socialista. A opinião dominante ainda é um desenvolvimentismo muito equivocado, mas cada vez mais alerta para outras alternativas.

    Acho que as coisas estão, aos poucos, mudando para melhor.

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