A trágica honestidade de Richard Yates

Dentro de um mês, os leitores brasileiros ouvirão bastante este nome: Richard Yates. Quem é? É o autor de Revolutionary Road, livro publicado em 1961 que foi transformado em um filme estrelado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet e dirigido por Sam Mendes (de Beleza Americana). A tentativa de fazer um produto decente a partir de um quarteto inusitado me faz perguntar se os produtores têm algum senso do rídiculo: colocar o casal de Titanic numa adaptação de um dos livros mais sombrios já escritos sobre o casamento é praticamente realizar um suicídio comercial.

Mas vamos ao livro, que li recentemente no Natal – ops, não, são os doze dias de Feriado, segundo as mensagens comemorativas da Amazon.com. Em primeiro lugar, vamos à pergunta fundamental: ele é bom? Resposta: só nas duas primeiras partes, em que descreve com crueldade o casamento dos Wheelers, um casal formado por Frank, o macho falido que não sabe se é um pastel de homem ou um provedor competente, e April, a moça que queria ser atriz, queria ser uma princesa e acabou por casar com um homem que ela quer mesmo que se comporte como funcionário público. Já na terceira parte, Yates não sabe como resolver os dilemas dos seus protagonistas – que balançam entre o adultério e o aborto – e parte para os clichês de alguém que decide encarar o mundo como uma prisão repleta de mulheres malvadas que sugam a essência de homens vitimizados.

A segunda pergunta vem logo a seguir: vale a pena ler o livro? A resposta é: vale se o leitor quiser saber a insanidade que virou o relacionamento entre homem e mulher nos últimos cinqüenta anos – em especial, este sacramento que é o casamento. Para Yates, não há jeito: um homem e uma mulher jamais se entenderão. Claro que há alguma verdade nesta visão bem sombria das coisas, mas é de se supor que decidir pelo adultério ou pelo aborto também não ajuda em nada a diminuir a lacuna entre os sexos. Portanto, é interessante ler o artigo do biógrafo de Yates, Blake Bailey, para saber o que o próprio pensava (e vivia) sobre as nossas queridas fêmeas. Não é uma história bonita, muito menos edificante, mas dá para perceber através dela quais são os sinais do nosso tempo.

3 comentários em “A trágica honestidade de Richard Yates

  1. Apesar da leitura não ser muito agradável, a história é muito interessante, pois trata de dilemas de casais, que não conseguem solucioná-los, sem dor e muita turbulência.

  2. Achei super interessante o casamento ser tratado como um furucão de ansiedades e perspectivas que se espera de vida perfeita e feliz!!!!!!! É claro que ficou bem sombrio mas é o que pode acontecer com um casal quando se sonha demais e pensa pouco, pois nada é perfeito o que temos que aprender é lidar com todas as areas da nossa vida o que não é facil nem um pouco!!!!

  3. Ainda não li o livro, estou pensando se vale a pena, vi o filme e identifiquei muito com o meu casamento, que felizmente já acabou de forma não trágica, mas gostei em certa parte pois faz refletir várias situações onde o sentimento se sobrepõe à cabeça.

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