A Vitória de Obama e o fechamento epistêmico do Partido Republicano

O grande assunto do dia é a reeleição de Obama. Difícil para um brasileiro se posicionar com furor, pois lá o debate é muito diferente do nosso. O primeiro fato que deveria chamar atenção é que, embora quase todos os partidários da esquerda brasileira louvem Obama, ele, e o Partido Democrata como um todo, são muito mais próximos da nossa “direita” (o PSDB) do que do PT. E assim como não há um equivalente do PT por lá, também não há, por aqui, um equivalente do Partido Republicano (mesmo o DEM toma expressamente, como sua inspiração, o Partido Democrata).

Posso dizer que, se eu fosse americano, votaria em Romney, pois acredito que o que os EUA (e na verdade, todo o mundo) precisam é de um Estado menor e com orçamento sob controle, coisas que a candidatura Romney supostamente simbolizavam. Falando como brasileiro, contudo, não deixo de reconhecer que a reeleição do Obama tem suas vantagens: entrar nos EUA deve ser mais fácil sob ele, e a politica anti-imigração bem menos pesada. Também prefiro Obama no quesito política externa, sendo menos propenso a entrar em guerra com o Irã (e afinal, de que adianta controlar os gastos do governo em casa se se torra quantidades enormes de recursos comprando bombas e financiando ocupações?).

Não nos deixemos, contudo, levar pela propaganda que cria falsamente dois lados extremamente diferentes. O Obama de 2008, o messias da esquerda, não fechou Guantánamo (de fato, aumentou-a) e tem encabeçado uma guerra particularmente brutal no Paquistão. Romney, por sua vez, não é nenhum gênio do capitalismo, e seu enriquecimento não se deveu tanto à criação de valor no livre mercado quanto à astúcia em manipular um sistema – criado e mantido pelo governo – que premia artificialmente o mercado financeiro.

O que mais me intriga nas disputas americanas, contudo, é um outro aspecto. Um aspecto que, de si mesmo, tem tão pouco a ver com o trabalho efetivo dos políticos eleitos que é bizarro constatar que ele seja tão preponderante. Falo da chamada guerra cultural que se desenrola nos EUA. Digo desde já que vejo um grande mérito na existência dela: ao menos, em um país do mundo, alimenta-se uma cultura de debate e discussão em que tudo, ou quase tudo, pode ser questionado. É uma pena, então, que o nível dela seja tão baixo; e grande parte da culpa, parece-me, deve-se exatamente ao lado que, se eu fosse americano, provavelmente seria o meu: o dos Republicanos ou conservadores (cada vez mais sinônimos).

Ser conservador nos EUA envolve aparentemente a aceitação de todo um pacote cultural pré-moldado que determina toda a visão de mundo do indivíduo, dando-lhe opiniões prontas sobre todo e qualquer assunto: porte de armas, casamento gay, teoria da evolução (!), política fiscal, aborto, política externa, aquecimento global, religião, imigração, história nacional, eutanásia e, nos piores momentos, até o local de nascimento do Obama. A atitude básica é a de que o mundo inteiro, todas as instituições outrora consideradas sérias, está envolvido em uma grande conspiração para abafar a verdade, possuída é claro por alguns luminares da direita.

Nas palavras de Rush Limbaugh, influente radialista da direita americana:

“We’re going to talk about Copenhagen. We really live, folks, in two worlds. There are two worlds. We live in two universes. One universe is a lie. One universe is an entire lie. Everything run, dominated, and controlled by the left here and around the world is a lie. The other universe is where we are, and that’s where reality reigns supreme and we deal with it. And seldom do these two universes ever overlap. A great illustration is what’s happening here with what is now incontrovertibly known as a hoax. “ [a farsa a que ele se refere é a teoria do aquecimento global.]

Romney teve que adotar essa postura durante as longas e embaraçosas primárias de seu partido, embora ele seja sabidamente moderado na vida real. Para ele e para a imensa maioria dos políticos, a polarização do discurso serve principalmente como via fácil para conseguir votos fáceis; dê ao eleitorado conservador alguns espelhinhos da vez (casamento gay, imigração, etc.) que eles te dão carta branca para fazer o que bem quiser. Essa estratégia machuca, contudo, seu apelo entre moderados e os diversos decepcionados com o governo Obama. Sua campanha em nada foi ajudada, também, pelas gafes ocasionais que, embora comuns no casulo do conservadorismo altamente ideologizado, provocam escândalo fora dele. A arte de se escandalizar facilmente com pequenas gafes dos adversários, um truque baixo para conseguir uma aura gratuita de moralidade superior, é aliás comum tanto à direita quanto à esquerda; mas comentários pseudocientíficos ridículos como o do candidato a senador republicano Todd Akin – embora não tenham nem o significado e nem a relevância política que a esquerda tentou dar a eles – são presentes perfeitamente evitáveis dados ao adversário.

Alguns articulistas, mesmo entre os republicanos, falam de um fechamento epistêmico da direita: os conservadores, cada vez mais, leem apenas aquilo que confirma sua visão altamente particular do mundo. E passam, assim, a viver em um mundo paralelo. Para muitos, Obama não é apenas um candidato com ideias erradas e políticas desastrosas, mas um revolucionário que quer destruir os EUA e que, se reeleito, finalmente mostrará suas verdadeira face.

Esse fechamento chegou a tal ponto que diversos analistas políticos conservadores davam como certa uma vitória fácil para Romney. As agências que medem as intenções voto, que já mostravam algo bem diferente, estariam trabalhando sob diversos vieses e sem contato com a realidade; sem falar na manipulação perpetrada pela grande mídia esquerdista (qualquer semelhança às acusações contra o “PIG” no Brasil?). A realidade, por fim, encarregou-se de mostrar onde estava o viés.

Vocês podem imaginar o que significaria para os EUA se, na vitória de hoje de Obama, Romney, ao invés de congratular o adversário como é de praxe, fosse à televisão denunciá-lo como um impostor muçulmano nascido fora do país, como insistem certas franjas do Partido Republicano? Isso seria rebaixar a cultura política e as instituições democráticas mais sérias do mundo ao nível abismal da esquerda, não digo nem brasileira – embora certos setores dela não morram de apreço pela solidez institucional – mas venezuelana ou argentina. Tendo em vista o caráter bipartidário da política americana, seria uma verdadeira calamidade.

O pior e mais lamentável é que nada disso – o moralismo estridente, o desprezo pela seriedade científica, a incapacidade de ouvir o outro lado – é necessário a uma opção conservadora ou liberal crítica do mainstream. É letal, contudo, a quaisquer pretensão dessas ou outras vertentes de um dia chegar a constituir um novo mainstream.

Há mais ou menos um mês, na coluna Lexington da The Economist, comentava-se que a estratégia de ambos os partidos americanos é cada vez menos persuadir o outro lado – ou mesmo os indecisos – e cada vez mais apenas convencer seus próprios partidários a votar. Para esse fim, a propaganda mais exagerada e até mentirosa é preferível a argumentos sólidos.

No final das contas, as instituições e o bom senso americanos falaram mais alto (não por causa da escolha do candidato, e sim da serenidade do processo). A vitalidade da república segue sem grandes percalços. Mesmo porque, apesar da polarização dos discursos, os dois candidatos são, como já assinalado, semelhantes. Mas é um tanto lamentável constatar que, justamente no país que poderia nos fornecer alternativas ao discurso já batido da centro-esquerda mundial, vigore cada vez mais o histrionismo e a demagogia fácil do Tea Party e do Occupy. É isso que estamos fadados a imitar?

45 comentários em “A Vitória de Obama e o fechamento epistêmico do Partido Republicano

  1. Uma das premissas do conservadorismo, pelo menos na linha burkeana, é o respeito às tradições e às próprias raízes. Aqui no Brasil, os que se denominam conservadores são ou libertários — dificilmente uma corrente adequada para preservar coisas — ou “aspirantes a republicanos” que querem importar *sem adaptações* um pensamento vindo de uma sociedade diferente. Isso sem falar nos que caem nas garras paranoicas do olavismo, os que se pautam pelo “Index” de certas organizações religiosas etc.

    Assim fica difícil. O diálogo com uma outra tradição é importante, ideias podem ser adaptadas até certo ponto, mas, para usar uma expressão de Russell Kik, o que o pessoal fez nos EUA e os brasileiros querem copiar é fazer do “conservadorismo” não uma disposição ou sensibilidade, mas uma ideologia pronta, acabada e tremendamente agressiva. O Brasil tem muitos problemas, mas o não ter o clima de Fla x Flu políticos dos EUA está longe de ser um deles.

    Um abraço,
    Rodrigo.

  2. Antes de comentar, acho importante deixar algumas posições claras. Se posso me definir ideologicamente de alguma maneira, seria algo como radical de centro, apesar de todo o estrago feito ao termo pelos delírios do Kassab (o Igor Taam se classificou certa vez como “agnóstico ideológico”, ou algo assim. Perfeito. Pacotes pré-estabelecido de opiniões? Estou fora) com tendência ao liberalismo clássico Dito isso, aviso que não aprecio nenhum dos dois partidos dos EUA, se fosse americano provavelmente exerceria o direito de não sair de casa para votar (até o Partido Libertário me parece radical demais) e, ainda assim, torci, sem entusiasmo algum, para o Obama. Prefiro, sem dúvida, certos aspectos da política econômica republicana, mas a política moral do GOP me enoja o suficiente para descartá-los (sou a favor do aborto, do casamento gay e, principalmente, da eutanásia e do suicídio assistido). Aliás, o problema dos liberais brasileiros é essa mistura meio indiscriminada com os conservadores, culpa talvez da hegemonia da esquerda no debate ideológico, que acaba juntando os opositores. Aí vemos nos Facebooks da vida gente do Ordem Livre e do IMB apoiando posições olavistas (tem gosto para tudo…), Franksteins desse nível.

    Agora que 95% dos leitores já fechou a página e me chamou de monstro ou o raio que o parta (adiós), digo que não gostaria que o GOP acabasse ou minguasse, por achar que é bom para a democracia que haja discordâncias ideológicas. Mas temo que o futuro do partido seja bastante complicado. As mudanças demográficas que vão acontecer nas próximas décadas, como a imprensa tem destacado, favorecem consideravelmente os democratas. Considerando que os republicanos consigam fazer ajustes consideráveis de moderação no discurso, ainda assim vão passar por alguns anos bem tensos, pois cortejar, digamos, imigrantes hispânicos neste momento significa incomodar muito WASP na terceira idade. Ainda assim, isso terá que ser feito. É certo que os republicanos não podem perder o discurso da economia de mercado, do empreendedorismo e da responsabilidade individual,

    – Terão, porém, que calibrar o discurso da liberdade: se o governo não interfere na vida das pessoas, também não interfere em questões morais (se não pode aceitar, terá ao menos que tolerar, pois as minorias são cada vez “menos menores”).

    – Terão, porém, que calibrar o discurso da austeridade: se o governo quer diminuir o déficit, não pode manter a mesma quantia de gastos militares, como previa o plano do Paul Ryan.

    – Terão, porém, que entender que ser a favor do capitalismo não significa ser a favor dos capitalistas: não resta dúvida quanto ao favorecimento de empresas de Wall Street na completa e inaceitável distorção que há no sistema econômico americano hoje em dia.

    – Terão, porém, que calibrar o discurso do intelectualismo: não me entra na cabeça um pensamento herdado de Kirk e Strauss ter preconceito contra estudo, como parece haver no Tea Party. Nem vou falar no desprezo à ciência. Esse anti-intelectualismo republicano seria o suficiente para que o partido nunca, de forma alguma, tivesse meu voto.

    – Terão, porém, que admitir que ajustes são necessários: se o governo deve garantir a igualdade para que os melhores sejam premiados pelo esforço, investimento pesado na educação de base precisa, sim, ser feito, pois hoje há uma falsa igualdade, em que os filhos dos ricos têm muito mais chance de entrar numa universidade de primeiro nível – ora, que igualdade de oportunidade é esta? Quanto a isso, sigo defendendo que haja investimento na educação de primeiríssimo nível, elitista (nem sempre os republicanos fizeram apologia da ignorância, vide este relatório feito no governo Reagan: http://www.higher-ed.org/resources/legacy.htm e até mesmo o pai do Romney defendia investimento forte na educação: http://www.newyorker.com/online/blogs/comment/2012/09/a-tale-of-two-romneys-george-and-mitt.html), para que daqui a algumas décadas, com o público preparado para a alta cultura, o mercado não nivele por baixo, como faz hoje (a velha história de quem vai investir em Wagner se vai ganhar mais dinheiro com Cirque du Soleil; falei tudo isso em http://www.dicta.com.br/cemiterio-da-alta-cultura/). E negar que exista algum plano público de saúde, ainda que não seja nos moldes do Obamacare (precisa haver garantia para os não assistidos, só é preciso achar um jeito de não obrigar quem é assistido a aderir), olha, melhor paramos então a discussão por aqui.

    – Terão, porém, que admitir e respeitar a variedade racial, pois hoje vi pessoas em redes sociais endossando teses lamentavelmente racistas, a exemplo de “o Obama só venceu porque os não-brancos não votaram de acordo com os valores americanos de liberdade”. Ahn, como é? Isso é 2012 ou é 1933? Parece tese do Führer a respeito dos judeus.

    Eu acredito, enfim, que ou o GOP passa por um processo de adequação de seus conceitos ao século 21 – repito, sim à economia de mercado, ao empreendedorismo e à responsabilidade individual, mas com todas essas ressalvas que fiz -, ou está condenado a perder uma eleição após a outra, e a cada quatro anos a desvantagem demográfica vai ser maior. Não vejo um meio de isso acontecer. De que adianta ter o Marco Rubio, um trunfo entre os hispânicos, se vai haver um infeliz do Tea Party falando que só os brancos votam de acordo com os “valores americanos” e apoiando leis selvagens sobre imigração? Das primárias, o Jon Huntsman parecia, de longe, ser o mais decente e centrado, só que esse tipo de candidato é considerado “moderado demais para incendiar a base mais radical”. Todo esse extremismo a que o Joel se referiu vai apenas isolar o partido. Roger Kimball, que por sinal cravou meses atrás que não apenas Romney venceria, como daria uma surra em Obama, chorou as pitangas pelo fim do “excepcionalismo americano”. Oh lord – passem alguns séculos legando à humanidade gente do nível de Bach, Michelangelo, Dante e Shakespeare, aí talvez possamos falar de excepcionalismo. Olha, eu vi gente que eu pensava respeitar (acho que me enganei) dizer que o Obama é “socialista”, como se de fato fosse possível instalar um governo socialista nos EUA (concordo com a analogia do Joel entre Democratas e PSDB). Por mais que eu acredite que o modelo de welfare state europeu tenha problemas e seja inviável da maneira como existia há 40 anos, é preciso ser desonesto ou mesmo um desses estúpidos liberais de Facebook que acham que tudo se resume à economia para acreditar que social-democracia seja um modelo socialista. Ora, Keynes lutou para corrigir justamente o, vejam só, capitalismo. Não estou dizendo que concordo com as teses dele; não concordo. Estou dizendo somente que a direita americana tem distorcido e empobrecido lamentavelmente o debate, que está fechada em si mesma e que está presa a um esquema sem saída de apologia da estupidez. Para citar o Joel, “ser conservador nos EUA envolve aparentemente a aceitação de todo um pacote cultural pré-moldado que determina toda a visão do indivíduo, dando-lhe opiniões prontas sobre todo e qualquer assunto: porte de armas, casamento gay, teoria da evolução (!), política fiscal, aborto, política externa, aquecimento global, religião, imigração, história do país, eutanásia e, nos piores momentos, até o local de nascimento do Obama”.

    Enfim, como disse no início, não gosto de nenhum dos dois partidos. O único político americano que realmente admiro hoje é Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, ex-democrata, ex-republicano, apoiador do livre-mercado (é um empresário bilionário, afinal) mas bastante liberal em termos morais, embora eu tenha lamentado a história de proibir refrigerantes grandes. Bloomberg nunca será candidato à presidência (ele mesmo reconhece que fora de Nova York ninguém votaria num judeu bilionário e divorciado), de modo que particularmente nunca não devo jamais me engajar a ponto de torcer de verdade por um candidato nos Estados Unidos. Só falei essas coisas como observador externo, e nem acho que alguém vá prestar atenção. Muita gente parou de ler lá em cima, imagino. Não vou me dar o trabalho de ficar respondendo possíveis comentários do tipo “claro que tem que fazer oposição a aborto”, coisas assim. Sei que esses são os princípios do partido e de seus eleitores. Estou só pensando alto. De resto, não está mais aqui quem falou.

  3. Caros Joel e Jonas, parabéns pela lucidez do texto e do comentário, respectivamente. Coisa raríssima. Brilhantes, claros e não-afetados. Além de lúcidos. Um abraço, Felipe Pimentel

  4. Que tal um PARTIDO NACIONAL REPUBLICANO CRISTÃO PROGRESSISTA SOCIAL DEMOCRATA VERDE INTERNACIONALISTA TRABALHISTA CONSERVADOR LIBERAL para acabar com todo tipo de polarizacao?

  5. É por isso que me sinto um pouco desconfortável quando uso o termo “polarização”, pois ele pode significar mais de uma coisa. Acho excelente que posições diferentes, mesmo radicalmente diferentes, sejam defendidas. A polarização negativa é a de atitudes; a de ver os adversários como inimigos que querem o mal para o país e contra quem deve-se combater não com discussões mas com uma verdadeira cruzada moral.

  6. Discordo: o baixo nível do debate se deve em grande parte aos militantes dos Democratas, que acusam quem é contra a liberação do aborto de empreender uma “guerra contra as mulheres” (como se quem é a favor travasse uma guerra contra os fetos ou contra as crianças) e acusam os republicanos de “odiar os pobres” etc., à maneira dos petistas no Brasil.

  7. É verdade, Rodrigo, isso também aconteceu e é outra manobra eleitoral “terrorista”; até Scarlett Johansson fez vídeo sobre isso.

    Já no Brasil, se você lembrar 2010, todos os candidatos lutaram para parecer contrários ao aborto. A estratégia que funciona aqui é diferente da que funciona lá.

  8. Gostei muito, Jonas.
    Resolver a tensão entre a “liberdade de mercado” e o “moralismo comportamental” é o maior problema para um discurso direitista realista.
    Mas o Bloomberg, não é aquele que queria proibir cigarros em nova york? Tu não acha isso meio brabo?
    Valeu.

  9. Artigo fraco, fraco. Vamos ver o outro lado, Joel. Invertamos as coisas:
    “Ser ‘left liberal’ nos EUA envolve aparentemente a aceitação de todo um pacote cultural pré-moldado que determina toda a visão de mundo do indivíduo, dando-lhe opiniões prontas sobre todo e qualquer assunto: porte de armas (totalmente contra), casamento gay (totalmente a favor), teoria da evolução (!) (a favor de que não seja tratada apenas como uma ‘teoria’, mas como uma verdade absoluta, incontestável e irretocável), política fiscal (aumentem os impostos até o infinito), aborto (a favor, em qualquer tempo – nem que seja realizado aos 8 meses e três semanas), política externa (deixem os talibans agir à vontade, foram os EUA quem os provocaram primeiro), aquecimento global (outra ‘verdade incontestável’ – cozinharemos vivos daqui a alguns poucos anos), religião (contra – deve ser restringida), imigração (abram de vez as fronteiras), história nacional (homens brancos vilões, negros e mulheres vítimas, buá, buá), eutanásia (totalmente a favor) e, nos piores momentos, até o local de nascimento do Obama (ele é 100% americano; só não apresenta a certidão de nascimento para não se rebaixar perante os adversários). A atitude básica é a de que o mundo inteiro, todas as instituições outrora consideradas sérias, está envolvido em uma grande conspiração para abafar a verdade, controlada totalmente pela burguesia direitista e capitalista, dona de toda a mídia.”
    Estou sendo impreciso? Não. E são os conservadores que rebaixam o nível do debate? Faça-me o favor!
    =
    Jonas, monstro aborteiro e liberalóide (gostou desse insulto reacionário?): Você escreveu, escreveu e não disse coisa alguma. É a favor e contra tudo, ao mesmo tempo. Sobre Bloomberg, é um louco que proibiu o fumo em toda a área pública de NY; nem fumar caminhando é mais permitido. Depois, proibiu os refris grandes, como citado. Ou seja, moderado o cazzo: é, isso sim, mais um “proguessista” com aparência serena mas dotado de um descomunal desejo de controle, bem ao gosto das esquerdas.

  10. O Jonas fez um verdadeiro post paralelo que é muito sensato. Só estou esperando algum republicano/conservador dos EUA reconhecer isso. O que tenho visto aqui (estou no Michigan) e na Internet é muito choro e ranger de dentes, ou ainda, por parte de um intelectual como Bruce Frohnen, uma postura do tipo, “Política não é tão importante, vamos trabalhar quietamente na cultura num ambiente desfavoravelmente liberal”, o que me soa uma resignação meio petulante. Mas, enfim, acho que as mudanças no GOP ainda vão levar tempo: eles mantiveram a House of Representatives e o Tea Party ainda está lá. E quando vejo a National Review dando espaço para colunista falar de Obama como “sociopata”, percebo que a coisa ainda está muito grave. Se ainda a reeleição de Obama tivesse sido por uma margem maior…

    Seja como for, concordo que há um empobrecimento degradante do discurso político por parte do que passa hoje por “conservadorismo”. E isso tem um respaldo institucional, em maior ou menos medida, que dificulta as coisas. E é muito ruim ver brasileiros importando isso, de modo que é sempre um alívio encontrar uma “Dicta & Contradicta” para ver que nem tudo é feito de “liberais” que vivem numa Guerra Fria imaginária ou o pessoal das TFPs da vida.

  11. Bem se vê que para muita gente não existe critério além do ideológico (o do pacote pronto), como para esse Roberto Gouveia. Dizer que os conservadores têm um pacote pronto não significa dizer que os liberais não o tenham. Isso acontece dos dois lados, e também no centro. Para mim, é a marca de qualquer posição ideológica, ou seja, de um predomínio do sistema pronto sobre os fatos. Quem vê o mundo assim não consegue sequer imaginar que alguém possa usar outros critérios que não os pré-fabricados. Prova de que a preguiça e o comportamento de gangue está mesmo na crista da onda.

  12. Boa, Joel. O comentário do Jonas vai bem como complemento ao post. E o contraponto do Rodrigo também, afinal quem conhece a Dicta sabe que as críticas ao “conservadorismo do pacote pronto” se aplicam também à esquerda, aqui e alhures. Aliás, Roberto Gouveia, não é difícil perceber certa melancolia do autor ao ver o pensamento conservador sequestrado por uma disposição espiritual semelhante ao que há de pior entre os esquerdistas: maniqueísmo, teorias da conspiração, satanização da divergência, moral de rebanho e, last but not least, a disposição de aderir acrítica e bovinamente a ideias pré-fabricadas, compradas no atacado. É por essas e outras que passear por aqui é um espécie de antídoto contra tal mentalidade. Parabéns.

  13. Essa polaridade é terrível, a vivencio comumente no ambiente acadêmico, em um lado está a esquerda de Lula, no outro a direita de Olavo. Graças a Deus conhecer a obra de Mises me abriu os olhos diante dos extremismos ideológicos de Olavo de Carvalho, infelizmente a juventude não-vermelha está cada vez mais tornando Olavo um farol político, percebe-se isso visitando fóruns sobre política.

  14. Por que não fazem um “vermelho e azul” com o Olavo?
    Afinal de contas, quando se tacha de fanáticos os que são contra o aborto e questionam o nascimento do Obama não se está entrando no típico fanatismo politicamente correto?
    As instituições ocidentais são frágeis sim! Não tem um milionésimo da capacidade de preservação de uma KGB. Vejo assim desde quando li no livre “Os três grandes”, sobre Stalin, Churchill e Roosevelt, que havia espião russo até no FED.
    Sobre o aborto:
    Aquilo que está na barriga da mulher, se não é vida humana, é o quê? Uma pedra?
    E é ou não é verdade que o Obama se recusou a entregar documentos que todos os presidentes americanos entregaram?
    Vcs vão achar que sou “seguidor” do Olavo. Na verdade estou muito mais preocupado com a criação da minha filhinha do que com o berço do presidente americano.
    Mas quando acompanho a mídia atrás de informações só vejo o Olavo expondo claramente o raciocínio.
    Ele diz o Obama parece que não é americano por causa disso e disso.
    Já os Caios Blinders dizem que os que questionam o nascimento do presidente são fanáticos porque…. são!
    Entenderam?
    Ficaria grato se alguém pudesse me esclarecer essas coisas.

  15. André, contra a legalização do aborto eu também sou. Sei, contudo, que essa questão, assim como todas as outras, só será vencida com discussão, diálogo e entendimento mútuo, e não com campanhas de ódio.

    Quanto à certidão do Obama: por que ninguém sério nos EUA leva essa questão adiante? O Romney não queria ganhar?

    O que se vê é espetáculo midiático de baixíssimo nível. Quem é o maior dos birthers? Donald Trump. Se a tese for séria, por que é que só as pessoas menos confiáveis, mais bizarras e oportunistas a defendem?

    Quanto a argumentos específicos contra ele, aí você me pegou. Essa assimetria de informações entre proponentes e críticos é o ponto forte de toda teoria da conspiração. A narrativa da conspiração é complexa e envolve um monte de pequenos detalhes que demandam muita dedicação para que uma resposta seja dada. Se eu vejo um documentário expondo a farsa de que o homem foi para a Lua, tenho algum contra-argumento pronto? Não. “Ora, mas na atmosfera da Lua a bandeira não deveria tremular dessa maneira.” – E eu lá tenho como responder a isso?

    Outro exemplo de conspiração nessa campanha é o documentário do Dinesh D’Souza, “2016: Obama’s America”, tentando mostrar toda uma agenda secreta ultrarradical e antiamericana no Obama, pegando aqui e ali referências intelectuais dele, etc. E algum de nós tem como, sem fazer um igual trabalho intenso de pesquisa, contestar com fatos e dados se aquelas influências são de fato importantes na carreira e nos planos da presidência do Obama?

    E assim, conspiração por conspiração, a mente vai se fechando num mundo próprio e autossustentável, que é muito difícil de demolir. E que também é incomunicável para quem está fora dele.

  16. Entendo seu ponto de vista, Joel. Se um desses republicanos abrisse por exemplo o Tractatus Logico-Philosophicus, e lê-se que “Deus não se revela no mundo” em 6.432, talvez ele sugerisse que há ali uma conspiração contra o Ocidente cristão etc. Em todo caso, uma Melanie Phillips escreveu isto: http://melaniephillips.com/america-goes-into-the-darkness. E ela acho que não é alguém que demonstre “fechamento epistêmico”.

  17. Roberto Gouveia, Carla, estou com vocês. A vida é gang mesmo. Porrada. Que os “sutis”, em sua pretensão de superioridade, se percam nas brumas da própria pseudo-incerteza (pseudo mesmo, porque estão loucos para assumir seu neo-esquerdismo). Lemos: linkar pra texto do “zé pingback” é um desrespeito com os leitores, kkkk… e falar em “fatos” é desabonador para um filósofo.

  18. Franz, eu até prefiro a sua atitude, assumidamente tribal (rs). No mais, tenho tanto horror à esquerda e ao neo-esquerdismo quanto você; disso você pode estar certo.

  19. A tese dos birthers foi desmentida há muito tempo. É só pesquisar em sites sérios — não a Fox News, não Limbaugh/Coulter, não Olavo. Isso já vem de algum tempo e pelo visto vem sendo repetido no Brasil. Lástima.

    Nem todo defensor do aborto chama os opositores de fanáticos. Mas, sim, isso acontece, pois o que está em jogo é uma visão materialista/utilitarista vs. outra mais sacramental/religiosa (em linhas bem gerais). É um dos grandes desafios da modernidade achar uma ética social que concilie essas visões. Mas, como já disseram, isso não se faz espumando e insultando — pois há fanáticos pró-vida também, que não se importariam de matar um adulto para salvar um feto, e não raro choram pelos bebês não-nascidos, mas pouco se importam com brutalidade policial, guerras e pena de morte. Então, um respeito maior pelo campo oposto é pré-requisito para ganhar corações e mentes para a causa, e isso vale para ambos os lados.

    Quanto ao Olavo e sua influência, acho que uma pessoa prudente, na dúvida sobre a mensagem, tem de olhar também o mensageiro. Olavo brigou com quase todos os veículos onde publicou, criticou acidamente e em público todos os ex-patrões acusando-os de perseguição política, autoexilou-se nos EUA e se apresenta como líder da “resistência” à “tirania esquerdista” brasileira, vive pedindo doações, usa frequentemente linguagem chula e ataques pessoais, não tem nenhum reconhecimento acadêmico e é idolatrado por um grupo, geralmente de jovens estudantes, que o julga o maior intelectual brasileiro — jovens esses notórios por denunciarem a “esquerda” por tudo, mas geralmente incapazes de produzirem qualquer coisa mais profunda que libelos anticomunistas (?) em fóruns virtuais.

    Cristo disse que uma árvore se reconhece pelos frutos. Então, cada um julgue por si, mas tome muito cuidado, pois sempre há falsos profetas por aí.

  20. Ainda sobre Olavo de Carvalho, não me lembro de um ato dele como “pensador” que tenha ajudado a direita brasileira a avançar o discurso em prol da livre iniciativa. Olavo Carvalho é uma mistura de velho ranzinza com poser(fumar charutos durante os vídeos…).

  21. Uma boa referência de articulação de visões conservadoras sérias é o site do CIEEP: http://www.cieep.org.br/. Nada a ver com Olavos e Limbaughs, prova de que há esperança de surgir no Brasil algum conservadorismo que, em vez de ser um tumor neopopulista de cores radicais (como tem sido o americano nos últimos anos), seja um contraponto saudável aos clichês tradicionais do pensamento brasileiro.

  22. Venho fazer o advogado do diabo envergonhado. O Olavo fez muito pelo Brasil ao denunciar e mostras as fraudes intelectuais da esquerda tanto o jornalismo como na academia. Diria que até 1997/1998 ele ainda falava coisa com coisa, apesar de seu passado de astrologo. Quanto a ser o maior intelectual hoje, esse jovens devem tomá-lo como um bom início das discussões, pela grande variedade de autores que ele recomenda em diversos campos, e não no fim em si mesmo. A maturidade em reconhecer isso que deve ser incentivado. Enfim esperemos que o Gop não fique refém de demagogos e tolos e mostre sempre que a LIBERDADE é maior que a igualdade.

  23. OK, o Olavo teve sua importância. Mas degenerou de tal forma que eu acho que ele foi importante apesar dele mesmo. Mas essa fase passou e, felizmente, as fontes se diversificaram também.

    Quanto a liberdade ser maior que igualdade, bem, digamos que o fato de algo ser maior não quer dizer que pode prescindir do menor. E talvez uma boa coisa para os conservadores tratarem com mais carinho seja a questão da igualdade. Não raro, eles se limitam à defesa da igualdade civil e incorrem na mais completa negligência em relação às distorções geradas pelo poder econômico. Não à toa é a esquerda que se destaca nessa área, atraindo mais simpatias.

  24. Alguém se lembra da multidão bovina de velas acesas nas mãos, lágrimas nos olhos e bradando ininterruptamente “YES, WE CAN!”, em culto público ao Messias Mulato? Isso foi imediatamente antes da primeira eleição do Obama. Em seguida, o Messias ganhou o Nobel da Paz, sem ter feito (naquele momento e nem até agora) nada pela paz. Foi apenas a forma que a esquerda chic internacional encontrou para participar do culto e confirmar: sim, Obama é o Messias.
    O histrionismo de parte dos republicanos é meramente reativo a estes tipos de histeria, mas muito menos bizarra. E reparem que a histeria pró-Obama é mundial; a histeria anti-Obama é local.

    Considerando as histerias citadas e que haja de fato um “fechamento epistêmico” dos republicanos, a que tipo de “fechamento” os democratas americanos e mais toda e esquerda mundial estaria passando?
    A histeria republicana é reativa e natural; a histeria democrata permanece. Na minha opinião, esse papo de “fechamento” é tentar encontrar cabelo em ovo. A reeleição de Obama foi mais uma vez por pequena margem, mas totalmente esperada. É o mais comum de acontecer: dois mandatos seguidos para cada lado. Foi com Clinton e com W. Bush. Dificilmente os democratas farão o sucessor do Obama.
    Proeza mesmo foi o que fez Reagan: dois mandatos (na reeleição venceu em 49 dos 50 estados!!!) e ainda fez o sucessor (Bush pai, seu vice).

  25. RCaruso,

    A histeria “conservadora” é anterior a Obama. Os problemas no movimento datam de longa data, apenas foram se tornando mais visíveis na década passada. E a “histeria”pró-Obama é que foi reativa: antes dele, houve 8 anos de George W. Bush, com 2 guerras, triunfalismo neocon, retomada de práticas de vigilância e tortura ilegais, adoção de uma agenda influenciada por evangélicos dominionistas. Não são coisas equivalentes. E o advento da mídia dita conservadora não tem equivalente no outro lado — embora, no discurso dela, todo o resto é “o outro lado”.

    Não é preciso ser um liberal ou esquerdista para ver que a direita americana de hoje tem graves problemas. Vários autores conservadores já reconheceram isso, não é teoria da conspiração. Talvez isto ajude a esclarecer: http://www.youtube.com/watch?v=SjE49UnJiwE. (Existe uma transcrição em PDF online em algum lugar, se você quiser procurar.)

    Um abraço,
    R.

  26. Como já disse: ok, ok. A maioria, como o Joel, tem razão.
    Quanto à “histeria conservadora”: É que eu gasto um tempão na internet buscando informações mas nunca vi um debate sério. Quanto aos argumentos em si, para mim os dos conservadores são melhores. E trazem questões que nunca são suficientemente respondidas pelos progressistas.
    Quanto ao Olavo: Poderiam ao menos reconhecer que, apesar das cavalices, ele é muito claro (e refutável) no que diz.
    Aborto: “Não enquanto a ciência não disser com absoluta certeza quando a vida começa”.
    Lula: “Os militares deviam botar o pinto na mesa porque todo o sistema foi corrompido”.
    Evolução: “Não sei”
    Obama: “Tem passado desconhecido, não entregou todos documentos, seus mentores tem ligações ruins…”
    Exceto as teorias conspiratórias, que como bem apontou Joel, são irrefutáveis.

    Lembram-se de Paulo né? Analisai tudo e retenham o que é bom…

    Rodrigo,

    O fato de a direita americana ter perdido duas eleições não significa que ela está em crise. Ou a esquerda esteve em crise pelas suas derrotas contra Bushs, Reagan…?
    Talvez politicamente devam rever estratégias. Ou será que os EUA, mesmo com os latinos, não gostariam de um novo Theodore?

  27. 1. A aceitação de uma agenda pré-definida, ou um pacote de critérios pré-fabricados (Júlio Lemos), é a própria razão de ser de um partido. Ou alguém acha que me vou juntar com meu vizinho para tentar tomar o poder no meu bairro, se (eu e meu vizinho) não tivermos uma concepção de mundo que ao menos se assemelhe no que consideramos essencial?
    Ao que parece, está-se confundindo análise política com disputa de poder.
    Se o analista político deve ou não ser isento, ser nem-nem (nem pra um nem pra outro), isso não significa que quem busque o poder tenha de sê-lo também.
    Uma coisa não tem nada a ver com a outra, e quem as confunde ouve noite promissora quando se fala em nota promissória.
    A disputa do poder político se dá, sim, entre duas gangs, Júlio!
    2. Sobre a idoneidade de Trump no debate políticio, pergunto ao Joel Pinheiro: Por que não?
    Por que Trump, um rico empresário, que, quer queira ou não, fez-se milionário, dá emprego pra um bando de gente, não pode exigir que Obama mostre seus documentos pessoais? Afinal, por que Obama não os mostra?
    Ele estaria fora do debate político porque é excêntrico? Só os bons moços seriam aceitos neste círculo? E qual é a credibilidade de um analista político que nunca participou de uma eleição e só tem que pagar a empregada doméstica que engoma suas camisas?
    3. Agora, a parte mais difícil. Não sei qual é o problema com o Olavo. Ele tem opiniões interessantes, quer sejam exposta com fineza ou com palavrões. O acessório, aqui, não altera o principal.
    Muitos o acusam de teórico da conspiração.
    Bom, a última vez que fizeram isso, foi para ocultar ou desmerecer o Foro de São Paulo.
    Ou será que o Olavo também arquitetou mentalmente o encontro de Lula com Marulanda para dar credibilidade à teoria que havia formulado antes? Ou será que o Foro de São Paulo nunca ocorreu? Será que Lula, Lugo, Correa, Morales, Chavez e Cristina são frutos do acaso?
    4. Acho, por fim, que as últimas coisas escritas pelo Joel e pelo Júlio estão muito aquém da própria capacidade deles, que se montram mais preocupados em não se parecer com o estereótipo da direita do que em colocar suas próprias ideias.
    Abraços,

  28. Tiago, como vai CG? Obrigado pelo comentário.

    Bem, nada do que eu defendi aqui implica uma confusão entre partidarismo e análise política. A crítica se dirige aos intelectuais que não conseguem ver nada além da política rasteira (mesmo que verbalmente anunciem não participar desse jogo — pois o seu ativismo os desmente). Isso acontece — para ilustrar — quando professores da USP, supondo a existência de um consenso que não deveria existir, assinam um manifesto pró-Dilma, e também quando intelectuais brasileiros da derecha ecoam a histeria do Tea Party e assemelhados. O problema é transformar a política em dogma e montar amplas redes de conexão entre fenômenos desconexos (como as teorias da conspiração, que são irrefutáveis e, por isso, não sujeitas à argumentação). Intelectuais de esquerda e de direita o fazem e, por isso, perdem a legitimidade, sendo maus exemplos de razão e prudência. Os partidários, no fundo, se submetem ao jogo do amigo/inimigo schmittiano, e desprezam a verdade em benefício do poder, sendo incapazes de reconhecer erros ou julgar caso a caso. É parte do jogo. Mas, num intelectual, é hediondo. Acreditar na política e na guerra cultural é como acreditar na profunda verdade do futebol. E em seguida enganar todos ao seu redor, como acontece com os alunos da USP (FFLCH).

    Em resumo, o problema é trazer o discurso e a ação das gangues da arena política para discussões que, supõe-se, sejam sérias. Algo que a intelectualidade brasileira, em todo o espectro ideológico, tem feito excessivamente. Creio que seja uma questão importante para quem escreve sobre civilização e pensamento.

    Preocupa-me que pessoas inteligentes tenham dificuldade em vê-lo com clareza, de tão intoxicados com o discurso ideológico. Se nos interessa apenas a verdade, pouco importa que pareçamos mais preocupados em parecer sujeitos, oh, independentes e livres de estereótipos da direita, ou em aparecer como demônios enviados por Satanás para arruinar o plano de salvação ou condenação do mundo lançado por Olavo de Carvalho. Isso tudo é irrelevante. Não somos donos do julgamento, apressado ou não, dos leitores.

  29. Só para esclarecer:

    – A tal certidão do Obama foi mostrada faz tempo. Todo o bafafá a respeito, hoje, é mostra de que muitos que repercutem a história não se importam com os fatos.

    – A crise da direita a que me referi não é eleitoral, é de degradação do discurso e dos níveis da discussão pública. Seus “formadores de opinião” são entertainers, “Alborghettis”políticos, não jornalistas ou intelectuais. Isso corrompe o debate.

  30. Até parece que o Olavo de Carvalho impede que surja no Brasil um movimento conservador, de direita, que seja diferente das posições políticas dele. Quanta choradeira neste site! E, lamento, Olavo acertou em cheio quando falou em Foro de S. Paulo.

  31. Como já foi tido, me incomoda, e muito, esta história de que os Republicanos vão cada vez mais para à direita. Ora, e o Occupy é plenamente coerente com a história americana?

    E lá vamos nós nos degladiar… Os misessetes brigando com os olavetes brigando com os lemossetes… Ora gente…

    Uma vez escrevi algo no mural de recados da escola que pago até hoje: “Fernado e Ana Sílvia, só vocês não sabem que estão apaixonados um pelo outro!”

    E não é que o mesmo ocorre aqui?

  32. Rodrigo:
    Putz, vc acha que só intelectuais ou jornalistas podem debater?
    Vc se preocupa com o nível de discussão pública. Eu acho que ela nem existe! Porque antes dela acontecem integrantes de certos “lados” tratam de deslegitimar o outro.

    Quanto a certidão: Imagina só: Tô bem na minha perdendo tempo com a internet qdo vejo no site do Olavo que o Obama pode não ser americano. No fim, quando o Obama mostra a certidão, ele diz que o documento ser falso, e se for verdadeiro apenas prova que ela não pode ser presidente, pois filho de estrangeiro não é americano nativo.
    Quem tá com a verdade eu não sei. Justamente por isso não é certo chamar de fanático quem duvida.
    Até Renan Calheiros mostrou documentos em público… Duvidar do Renan Calheiros seria fanatismo também?

  33. A esquerda não tem Alborguettis. Tem “intelectuais”, “jornalistas” e o Vladimir Saffatle. Logo, deste lado (esquerdo) não há corrupção do debate.
    Aliás, eu nunca vi um intelectual, jornalista, articulista, o que for, de esquerda, tratar com o mínimo respeito, mesmo para discordar, qualquer conteúdo intelectual conservador (o Marcelo Coelho chegou perto, mas ainda ficou longe… escolheu o livro mais fácil de atacar – o do Russell Kirk). E o argumento, frequentemente, é do tipo “falta de respeitabilidade acadêmica”. Mas, e o esquerdismo da academia brasileira (Humanas)? Foi uma alucinação de Olavo & sua turma?

  34. – Acho essa discussão toda uma confusão do capeta. Ou sou burro, ou vocês escrevem mal. Vai ver são as duas coisas.

    – Há aqui e acolá uma enorme obsessão com Olavo de Carvalho, a começar com Julio Lemos.

    – Aliás, em tempos antigos, Julio Lemos era mais claro no que escrevia. Poderia escrever melhor e ajudar os burrinhos que nem eu. Se vai escrever “em público”, não tenha vergonha de usar um tom professoral, quando na verdade está atuando como professor. Ou também acha que ter profissão de professor também não cabe a um intelectual?

    – Sobre gangues, se isso aqui não for briga de gangues, o que é então? De um lado as Olavetes, do outro as Julietes (ou Lemosetes, como queiram).

    – Se há algo que eu aprendi com minha mãe é que devemos tentar entender o outro da melhor forma que pudermos (ela dizia isso quase como um princípio religioso, e vai ver era). Se pessoas um pouco mais instruídas não fazem isso, só sobra briga de gangue mesmo.

    – Falar de discussão séria em caixa de comentário de blog é tirar com a minha cara. Até link com moça insinuante tem acima.

    – Sobre o post e alguns comentários, acho engraçado que venham falar de política americana quando não são capazes de entender o que passa na própria Banana Land. Ah, se entendem então expliquem, porque o povo quer saber.

    – O captcha é ‘toast’.

  35. Olá, André.

    Dependendo do que a gente entenda por “intelectual” — que não é o acadêmico, mas pode ser definido como alguém que pensa certas questões de interesse geral e fala sobre elas na esfera pública –, até poderia dizer que sim. Mas não estou preocupado em fechar o debate público a ninguém, só dizendo que, quando pessoas que têm milhões de ouvintes ou espectadores, fazem de teorias da conspiração, discurso raivoso e informações *comprovadamente* distorcidas sobre uma série de assuntos o prato principal o seu principal produto, algo está muito errado. Chega uma hora em que até os que defendem causas parecidas começam a perceber as consequências negativas disso, e é o que está acontecendo. No momento, estou vivendo com vários conservadores americanos para fins de pesquisa, todos republicanos e opositores de Obama — e nenhum tem qualquer simpatia por Tea Parties, Coulters e outros que fazem as vezes de “porta-vozes” do conservadorismo americano. Estes últimos pensam ou influenciam através de clichês e performances odientas — uma comentarista da National Review chamou Obama de sociopata, para dar só uma mostra do nível das coisas aqui nos EUA. O que era coisa de uma minoria mais exaltada virou parte do mainstream. Imagine, por exemplo, o estilo de discurso do PSTU virando o padrão em colunistas de jornais e revistas de grande circulação.

    Sobre discussões públicas, elas existem, sim. Mas os “trolls”infelizmente fazem mais barulho, isso na Internet, que magnifica sua presença. Mas veja se algum deles consegue muito espaço no mundo real, nas universidades, na mídia, na sociedade civil. Mas chega um ponto em que essa “virtualidade”passa para o mundo lá fora, e isso não é bom. Isso sem falar no fato de os trolls sequestrarem muitas conversas virtuais que poderiam ser um instrumento útil de reflexão e troca. Muitos jovens, por exemplo, “se educam” politicamente lendo o Olavo, ou o CMI — não sabem nada da vida prática, mas já têm posições prontas e inflexíveis sobre geopolítica, a estrutura social etc.

    Sobre a certidão, é aquilo que o Joel falou: teoria da conspiração não se desprova. O Olavo nunca vai admitir que o Obama é americano — entre outras coisas, porque isso seria admitir que ele, Olavo, errou, coisa que ele não faz muito. É como o pessoal que acha que os americanos mantêm ETs em Rosswell, ou que os cartões de crédito são a marca da Besta. A pessoa quer acreditar ou fazer acreditar, não argumentar — e nem percebe. É uma visão de mundo — o fato de ser falsa é só um pequeno detalhe.

    Você falou sobre não saber em quem acreditar. Pois bem, pesquise. Mas, como eu disse lá em cima, olhe para o mensageiro também. O Olavo já rende um ótimo exercício. Pode ser um experiência dolorosa se você o reputa como boa fonte — mas necessária.

    Uma última coisa, que não se fala muito: mesmo um crítico pouco confiável pode ser útil ao apontar falhas no mainstream. Mas entre apontar um problema e ter a solução, vai grande distäncia.

    Um abraço,
    Rodrigo.

  36. Pois é, um presidente que usa a palavra vingança em comício me assusta um pouco. E me assusta que esse mesmo presidente queira obrigar hospitais católicos a distribuir abortivos. Mas há quem prefira falar mal do Olavo.

  37. Luiz,

    A esquerda tem Alborghettis, sim. É só procurar. Mas, no Brasil, acho que não tem nada comparável ao fenômeno americano, onde eles escrevem best-sellers, são milionários e têm programas próprios. A dinâmica no Brasil é bem outra. E, nesse caso, graças a Deus.:-)

    Um abraço,
    R.

  38. Bom,

    Realmente não sei como são as coisas aí nos EUA.
    De fato meu parâmetro são os meios brasileiros.
    Neles não vejo debate algum, apenas conservadores buscando melhores meios de serem conservadores e progressistas buscando melhores meios de serem progressistas. E liberais buscando melhores meios de serem liberais.
    O que eu tenho a falar sobre meu meio, o evangélico, é que há uma certa disposição para o debate. Nós ficamos lendo e ouvindo o que os progressistas dizem e quando os questionamos já somos os maus. Imagine quando de fato manifestamos nossa opinião. Passei a mesma coisa na faculdade, quando questionei o homossexualismo. Ou seja, aqui acho que a baixaria não está do lado conservador, onde eles estão têm que ficar se defendendo.

    Quanto aos EUA (esse é o tema, né?), é verdade que minha principal fonte é o Olavo. Mas vejo algumas coisas na TV a cabo e sempre vejo apenas doutores progressistas dizendo o quanto os conservadores são maus. O Caio Blinder não é tão claro como Olavo, para ele questionar o Obama é ridículo e pronto! Ser contra o aborto é medieval e pronto! E eles não são obrigados a dar uma mísera resposta sobre como o contribuinte americano está sendo obrigado a financiar abortos, p.ex. Ridicularizam os Tea Parties (que pelo que me consta nunca ofendeu o direito de ninguém) mas igualam o Occupy e as Primaveras como manifestações democráticas (e os europeus tbm).

    Ainda que haja baixaria pela parte dos conservadores, será que não há correspondentes simétricos por parte dos progressistas?

    Ocorre que, nesta eleição, por ter tido estratégia superior, os progressistas ganharam.

    E não acredito que uma melhor estratégia para os conservadores seria serem menos… conservadores.

    Repito: Será que os americanos, mesmo com tantos latinos, não gostariam de um novo Theodore?

    Abraço

    P.S. Seu último parágrafo é definitivo

  39. André,

    Concordo que certos pontos dificilmente estão abertos ao debate. Eu mesmo sendo mais liberal que conservador (até onde isso se aplica a um brasileiro), porém religioso, lamento profundamente certos posicionamentos tidos como “modernos” — a ideia do aborto como um direito sendo o pior deles. Talvez o grande problema nesse embates é que, sendo as premissas divergentes, certas coisas são difíceis de negociar. Não tenho solução para isso, provavelmente teremos de conviver com uma “queda de braço moral” nesse ponto por algum tempo, ou talvez cronicamente.

    Um abraço,
    Rodrigo.

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