Argo, O Incrível

Antes de qualquer coisa, quero logo dizer que as resenhas de Argo, filme mais recente de Ben Affleck, têm sido um tanto exageradas. Não acho que seja o melhor do ano e nem tenho uma opinião formada sobre qual seria. No Rotten Tomatoes, site que calcula a média das notas dadas aos filmes tanto pelo público como pelos críticos especializados, Argo aparece em vigésimo primeiro na lista dos cem melhores de 2012. Também acho que considerar Ben Affleck como o novo Clint Eastwood é, sendo eufemista, um pouco prematuro. Affleck dirigiu três longas; Eastwood, mais de trinta. É melhor esperar mais alguns anos antes de começar a compará-los. Mas, tirando essas considerações necessárias do caminho, é preciso reconhecer que, de fato, Argo praticamente não tem defeitos.

Baseado em fatos reais, o filme se passa em 1979, na época da crise diplomática entre o Irã e os Estados Unidos em que 52 americanos foram mantidos reféns por radicais iranianos. Durante a ocupação de uma embaixada americana no Irã, apenas seis funcionários conseguiram escapar. Refugiados na casa do embaixador canadense, o governo americano passa a estudar uma forma de trazê-los de volta sem que sejam capturados nas fronteiras ou aeroportos fortemente vigiados pelos extremistas. Há, então, todo tipo de ideia maluca que só vem a comprovar a escassez de cérebro na maioria dos servidores públicos, a mais ridícula de todas sendo enviar seis bicicletas para que os refugiados escapem do país por caminhos terrestres alternativos (um trajeto de centenas e centenas de quilômetros).

A ideia mais absurda de todas, contudo, acaba sendo a que mais tem chances de sucesso: montar uma produção falsa de um filme falso, e tentar tirar os seis funcionários do país como se eles pertencessem à equipe técnica. Começa, então, a busca por um produtor sediado em Hollywood que dê publicidade, além de credibilidade internacional, ao projeto, sem falar em um roteiro que justifique a escolha de uma locação iraniana. Optam, então, pelo roteiro de ficção científica entitulado Argo, sobre um planeta alienígena com uma aparência árida e rochosa, semelhante à do Oriente Médio. E, logo, o agente Tony Mendez, interpretado por Ben Affleck, desembarca no Irã disfarçado de produtor executivo para resgatar seus compatriotas.

O verdadeiro Tony Mendez e Ben Affleck.

 Só pelo enredo, Argo já merece atenção. Quando, nos créditos finais, vemos as fotografias das pessoas que realmente participaram de uma missão tão extraordinária, é que a mágica do filme se consolida em nossa memória e confirma o valor da experiência de tê-lo visto. Além disso, os diálogos são espertos e engraçados, os atores estão ótimos (além de Affleck, Alan Arkin, John Goodman, Bryan Cranston, entre outros), e a tensão constante que o filme provoca é simplesmente excelente. Seria tão mais fácil, em um thriller, recorrer à perseguições de carros bombásticas, armas disparando para todos os lados, lutas corpo-a-corpo extenuantes, etc., etc.. Não há nada disso em Argo. A tensão que sentimos é aquela de quando, por mais inocentes que sejamos, entregamos o passaporte para a polícia federal ao visitar um país estrangeiro – tensão esta, é claro, multiplicada por mil.

Resenhas elogiosas assim são, até certo ponto, chatas de se escrever (e de ler também, eu imagino). Mas me esforçando para encontrar algum defeito no filme, diria que há uns míseros segundos completamente gratuitos do peitoral desnudo do Ben Affleck – que, aliás, está mais bonito aos 40 do que quando era jovem. Mas se até Eastwood fez com que uma garota que poderia ser sua neta se atirasse para cima dele em Crime Verdadeiro (True Crime, 1999), por que Affleck não pode ser vaidoso também?

5 comentários em “Argo, O Incrível

  1. Ieda, assim você não vai por bom caminho… Esta de “se não gosta, não leia” não me parece honrar os pensadores que cá debatem. É muita pobreza intelectual, e pobreza intelectual é algo que você não tem! Eu quero ler sim, mas também quero poder discordar. Leio seus artigos pq você escreve bem e apresenta um, vá lá, olhar diferente da maioria dos “críticos”. Veja bem, você está no comando. Pode ignorar o comentário, pode não publicá-lo, pode dar encerrada a discussão e ponto. Este espaço é seu! É seu mas… mas está em um site de uma revista cujo nome nada mais é do que dicta e contradicta. Ora, CONTRAdicta! Isso significa que devemos pegar em facas e sair duelando por aqui? Claro que não. Significa que estamos para pensar e REpensar. Estamos aqui para crescer, para desenvolver. E não se faz isso sem retórica! Justamente por gostar de teus textos é que me incomoda ver uma confusão tão grande entre suspense e terror. Da sua análise quase não restariam títulos de suspense! Você é obrigada a concordar, não! Mas me parece que é sim obrigada a argumentar! Enfim, te convido a dançar a música que tu mesma topaste ao escrever em um espaço público – ou este site exige senha para acesso? Não recuse o debate e não desconvide um dançarino, não há nada mais deselegante e preguiçoso do que isso. E deselegante e preguiçosa você não é! Avante!

  2. Caio, não sou eu quem aprova os comentários. Eu já argumentei sobre essa questão naquele post. Não acho que você esteja discutindo pra chegar em algum senso comum, mas pela “diversão” de discutir. O problema é que eu não tenho o que fazer se você está empenhado em discordar por discordar e não ver nexo algum no que eu já falei. Eu posso ficar respondendo ad infinitum ou me poupar do esforço inútil. Já disse e repito: Minha função não é te convencer individualmente. Recomendo, sinceramente, que encontre alguém mais disposto do que eu a dar soco em ponta de faca. Tem tanta gente que vive pra discutir na internet. Eu já fiz o que pude com a quantidade de paciência que Deus me deu (não foi muita).

  3. Ieda, vamos por partes:

    1 – Eu não estou discordando por discordar. Em meu primeiro comentário mostrei minha surpresa pela inclusão de filmes que eu – e quase o mundo inteiro – considero de suspense como filmes de terror e pedi para você esclarecer a distinção. Você respondeu com o argumento “se concretiza é terror”. Em meu segundo comentário mostrei minha discordância com a tese e dei um argumento até agora não rebatido: intenção e proporção. Daí você me desconvidou, educadamente, do debate. Na terceira intervenção não voltei a discutir a questão da categorização em gêneros, apesar de citá-la. Comentei sobre a natureza do debate e de quem se coloca, voluntariamente, neste lugar.

    2 – Ieda, você não precisa me convencer – individualmente – de nada! Como diria Rosa Weber: “Eu é que estou convencido!” Tanto é assim que não entrei mais no mérito da discussão “técnica” sobre as categorias. Você tem sua opinião que merece respeito, mas discordo, acho errada, fraca e, até mesmo, meio absurda. Acho uma pena que uma confusão conceitual tão simples se dê em uma boa crítica e escritora.

    3 – Mas não estou mais interessado neste assunto – apesar, é claro, que adoraria ver um post específico sobre este problema da categorização.

    4 – O que me interessa mais, com mais intensidade, mais ardor e mais verve, é o debate sobre o debate. É claro, e já disse isso, que você não precisa ficar respondendo a todos individualmente e nem concordando para satisfazer egos. Mas deve participar da discussão. Ora, se a Dicta não quer mais a contradicta que feche o espaço para discussão! É simples! Uma vez aberto e moderado por alguém outro que não o articulista me parece óbvia a intenção do debate e não da louvação.

    5 – Eu não sou um remanso nos meus comentários, acho isso uma chatice! Eu gosto de beirar o mordaz, gosto do quase cinismo, gosto do debate sem pedir perdão pelo debate. Divergir faz parte. Divergir legitima o debate. Gosto da objetividade. Meus primeiros comentários sempre são curtos e vão direto ao ponto. Acho, sinceramente, uma perda de tempo ter que ficar escrevendo tanto como agora.

    6 – Eu vou continuar lendo e debatendo. Não quero resposta individual, não quero que todos concordem comigo, quero poder escrever o que considero pertinente. Pertinente para parabenizar, para destacar, para ressalvar, para discordar. Escrever como comentarista, é claro.

    7 – Algo que me chamou atenção na Dicta é o alto nível e a alta temperatura dos debates. Vá lá no post do Joel sobre as eleições americanas e veja os gladiadores! Aquilo, para mim, é o espírito franco, aberto e corajoso! Não há sentimentalismo e nem pedido de desculpas por ser duro com os outros. Olhe o artigo do Júlio sobre a independência de pensamento e veja o grau de discordância instalado. Começa com um sabichão que a maioria ignora, vem os comentários curtos e, de repente, a coisa explode e o nível da discussão se eleva, e muito! Peço desculpas se teus artigos não comportam este nível de maturidade. Mas então caberia pensar se a Dicta é o lugar correto para tuas análises ou se o melhor seria escrever em um espaço individual.

    8 – Encerro reafirmando o valor da contradicta. Desconvidar alguém do debate é infantil, sinto muito! Você tem o direito – diria até mesmo o dever – de discordar mas não tem o direito de desistir do debate. Inspirado em você digo: se não gosta de debater, não escreva!

    9 – Dou por encerrada as discussões. Sobre o debate e sobre a categorização. Avante!

  4. Caio, este é o último comentário que faço por sua causa: no terceiro comentário que fiz naquele post, eu te desconvidei (sim) DEPOIS de esclarecer melhor a questão, respondendo inclusive a comparações absurdas que você fez. É claro que você está ignorando isso agora, e deliberadamente. Assim sendo, só vejo má vontade em você, no seu dito “debate”, e por isso não tenho nada mais a te dizer. Seus comentários, muito provavelmente, vão continuar aprovados, mas eu vou ignorá-los porque é óbvio que bem-intencionado você não está.

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