Clint Eastwood é o maior diretor vivo

Esqueçam Godard. Esqueçam Manuel de Oliveira. Até abro uma brecha para Paul Thomas Anderson, David Fincher, Michael Mann e  Philippe Garrel. Mas não tenho dúvidas: Clint Eastwood é o maior diretor vivo. Querem provas? Vejam “A Troca” (Changeling), o filme que foi mal vendido só porque tem Angelina Jolie no papel principal. Aqui, Eastwood não é apenas “clássico” – adjetivo que os críticos usam só para querer classificar uma obra que já é permanente. Trata-se simplesmente do cúmulo do experimentalismo cinematográfico. Eastwood subverte nossas expectativas: a princípio parece ser um melodrama, depois torna-se uma denúncia política, vira um filme de terror e, quando ele chega ao fim, temos a sensação que observamos o sofrimento  e a redenção de uma mulher que sobreviveu ao inferno para contar a sua história para nós.

Comparem, por exemplo, a cena da execução de pena de morte de “Changeling” com a mesma situação filmada em “Crime Verdadeiro”, considerado uma obra menor em sua filmografia. A situação é a mesma: um homem será executado pela pena capital. Mas reparem como Eastwood se mantém íntegro na crítica ao Estado – que deseja cumprir o ato o mais rápido possível, sem se importar com os últimos momentos de vida do condenado -, e ainda reconhece que o criminoso é, de fato, culpado pelo crime atroz que cometeu (Em “Crime Verdadeiro”, sabíamos que o condenado era inocente). Como se não bastasse, “Changeling” é um filme complementar àquela obra-prima chamada “Mystic River”. Se naquele filme falaram que Eastwood era niilista, por deixar impune o ciclo de vingança, fica claro com “Changeling” que é possível encontrar uma conciliação interior depois do confronto com a ininteligibilidade do Mal.

E isso não é afinal o que queremos de qualquer obra de arte: que nos ajude a suportar o “pega-pra-capar” que é a vida? Eastwood sempre fez isso conosco e é algo que só um grande artista pode cumprir.

7 comentários em “Clint Eastwood é o maior diretor vivo

  1. Sinto muito, Martim, mas sua afirmação a respeito de Eastwood é desarrazoada e inconseqüente. Não há qualquer possibilidade de sustentá-la; e mesmo que houvesse, o ônus da prova recairia necessariamente sobre você. Por isso mesmo, me espanta a facilidade com que você emitiu esse temerário juízo.

    Ao ler o título, minha primeira reação, além de espanto, foi imaginar que você tivesse se esquecido – ou até mesmo nem tivesse ouvido falar – de Manoel de Oliveira. Infelizmente, você se lembrava dele. Mas outros grandes cineastas fazem companhia ao centenário mestre lusitano: Aleksandr Sokúrov, Abbas Kiarostami, Theo Angelopoulos, Werner Herzog, Roman Polanski, Jafar Panahi, Andrzej Wajda. Ainda vivos e ativos, todos eles atingiram patamares de excelência artística aos quais Eastwood nem sequer almejou.

    Seria até mesmo difícil considerar Eastwood o maior diretor vivo de Hollywood: apesar de exilado, Polanski ainda faz parte dessa esfera; Michael Mann tem uma carreira mais consistente; e ainda temos William Friedkin, Martin Scorsese, Sidney Lumet.

    Eastwood faz filmes bons e muito bons, mas nunca realizou uma obra-prima (Mystic River é uma ótima estória, mas um filme mais ou menos). Guardadas as devidas proporções, ele faz parte da ilustre linhagem que começa com John Ford, passando por Howard Hawks e Don Siegel. Mas ainda que Eastwood lide com temas grandiosos, não lhes dá o tratamento adequado. Seu estilo de direção é excessivamente comedido, por vezes insosso. Se felizmente não impõe suas idiossincrasias à narrativa, carece da excelência cenográfica de um William Wyler. Seu estilo é chamado de “clássico” não por causa da razão que você mencionou, mas porque os críticos não conseguem encontrar outro termo para descrever sua simplicidade (herança de Siegel, em parte).

    Também gostei muito de “A Troca” (leia minha crítica do filme, cujo título original é “Sobre anjos e demônios” em http://www.candango.com.br/aplicacoes/materia/index.cfm?id_area=74&id_conteudo=9271) e concordamos em muitas coisas. Mas atribuir a autoria do filme somente a Eastwood é complicado, até porque o projeto já tinha começado quando ele embarcou. Seus colabores, sobretudo o excelente fotógrafo Tom Stern, foram fundamentais. Além disso, o poder do filme se deve em grande parte aos fatos narrados. Eastwood teve, é claro, a sensibilidade de encontrar um bom encadeamento; mas me parece um pouco precipitado supor que todas as viradas narrativas foram intencionais.

    Por fim, uma pergunta: o que exatamente você quis dizer com “experimentalismo cinematográfico”. Parece-me algo que dificilmente associaríamos à filmografia do ex-prefeito de Carmel.

    Cordialmente,

    Túlio Borges

  2. Concordo.

    E se “The Changeling” é excelente, adianto-lhe que “Gran Torino” é ainda mais brilhante.

    A não perder.

  3. Concordo com o Martim – Clint Eastwood é um dos Grandes. Talvez o maior vivo. Querem a prova?
    Assistam ao novo filme dele, o Grand Torino. Esplêndido! Obra prima. Dei muita risada, gargalhei e também chorei. No final deu vontade de aplaudir de pé. Em tempos de Milk, Eastwood nos mostra o que é ser um homem cristão e, claro, “com duas bolas no saco”. Saudações a todos. Guilherme Prezia

  4. Concordo com o Martin. O Clint supera as expectativas. O filme Gran Torino é uma das mais belas peliculas que assisti nos ultimos tempos. Como o Guilherme durante o filme passei por todos os sentimentos possiveis.
    Chorei demais e , realmente, é preciso coragem para ser macho.

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