Alguns enxergam padrões em tudo. Quando era pequeno, andava pelo calçadão do centro de Londrina descobrindo figuras geométricas escondidas e saltando-as para não interromper com meus pés nenhuma linha invisível que formasse ou ligasse as ditas figuras. Imaginava — sonhava, acordado e dormindo, com — o mecanismo escondido nos mostradores do elevador do prédio. Percebia que ninguém se importava com essas coisas e, pouco a pouco, soube reprimi-las (para deixar que, mais adiante, voltassem como obsessões antigas vestidas com roupas novas).
Muito depois, tentei enxergar padrões nas expectativas das pessoas — procedimentos intuitivos que eu tentava tornar lógicos e evidentes, passíveis de exposição racional — quando em sociedade. Encontrei adiante reflexos disso na obra de Niklas Luhmann (em especial em Soziale Systeme e no seu bizarro tratado sobre o amor, Love as Passion – The Codification of Intimacy, que pretendo reler em breve).
A sociedade possui códigos ocultos de comportamento que, se fôssemos listar, renderiam gigabytes de raw text. As pessoas, por sua vez, carregam consigo curricula ocultos. Muitos aprendem muito cedo a lê-los e entendê-los: e a exatidão com que o fazem causaria inveja em qualquer gênio das ciências sociais — caso, por exemplo, esse conhecimento intuitivo pudesse ser transformado em uma lista de procedimentos, atos e relações por meio de um complexo algoritmo lógico-deôntico.
Outros parecem ignorar esses códigos, e precisam apreendê-los do modo difícil: racionalmente. Os códigos, processamentos ocultos de inputs/outputs, critérios de positividade e negatividade, reprocessamento, acoplamento estrutural, etc (tudo isso manifestando-se na linguagem, simplesmente, quase sempre não-verbal)… Apreender tudo isso racionalmente exige um QI avantajado e, pior, um esforço sobre-humano. Como saber e lembrar qual a distância que deve manter um homem de uma mulher ao conversar com ela, com variações de intimidade, diferença de idade, hora do dia, contexto, situação, lugar? Isso pode levar facilmente ao esgotamento mental.
Lembro-me da conversa com um advogado em 2001. Em dado momento, perdi a conta dos códigos e não sabia o que falar ou para onde olhar. Fiquei pálido e precisei sentar. Estaria racionalizando códigos ocultos? Isso acontece com muita gente, variando apenas a freqüência. Com o tempo, aprende-se a colocar o carro no piloto automático. Pensar estraga e torna o processo todo algo extremamente lento.
(publicado em Feliz Nova Dieta).
O problema está quando decifrar os códigos é um traço de sua personalidade, nao algo realizado esporadicamente para se prevenir de uma situação futuramente embaraçosa ou por simples curiosidade. É como perceber o ambiente do outro nos primeiros minutos. Próprio de pessoas observadoras
Julio, vc é um gênio.