De piadas e revoluções

Dizem que os blogs são uma espécie de diário íntimo publicado na internet. Nunca consegui escrever um diário e não sei se esse é o lugar certo para tentar, mas mesmo assim vou contar algumas intimidades da Dicta por aqui. Em toda reunião de pauta, sempre tem alguém tentando fazer lobby para alguma coisa. Às vezes aparece um que claramente foi pago pela CIA, de vez em quando precisamos tomar cuidado com a indústria tabagista, mas pelo menos eu sempre pressiono os editores sobre o mesmo assunto: “Quero que a revista seja engraçada!”,  “precisamos de mais humor, senão vai parecer que somos ‘sérios'” (assim mesmo entre aspas – aliás, nada pior do que alguém sério entre aspas).

Nas minhas campanhas, uma das coisas que não consegui emplacar foi uma resenha sobre Hammer & Tickle. A History of Communism Told Through Communist Jokes. O livro foi lançado na Inglaterra no ano passado e, além de ter de lidar com o lobby internacional, a verdade é que não sobrou tempo nem espaço para colocá-lo num dos números anteriores. Mas até que foi bom tê-lo deixado de fora: esses dias estava por aí e descobri que além do livro, o mesmo autor fez também um documentário para a BBC. 

Vale a pena conferir pelo youtube – a primeira parte está aqui. O filme parte de uma frase do George Orwell – “Every joke is a tiny revolution” – e analisa a história do regime, década por década, a partir das piadas. É uma tarefa difícil reunir humor e análise histórica num mesmo documentário e a verdade é que em certos pontos o filme fica um pouco cansativo. Mas algumas colocações certamente valem uma boa reflexão: Como um regime político pode chegar ao absurdo de prender milhares de pessoas por contar uma piada? Qual a importância do humor na luta política?

Estou com Orwell e fico preocupado quando olho para a nossa situação a partir dessa colocação. Os argumentos de Hammer&Tickle podem ser exagerados em alguns momentos, mas é sim muito relevante saber, por exemplo, que o primeiro país a se libertar do regime foi também o primeiro a permitir que se fizessem piadas sobre ele na televisão (é quase comovente ver os poloneses rindo da própria desgraça num programa de auditório). E eu me pergunto: alguém aí já ouviu uma piada sobre o Fome Zero? E sobre a Dilma Rousseff?? Sobre as reuniões do PT?????

Quando as pessoas perdem a capacidade de dar risada… a coisa realmente está preta. E às vezes uma piada pode ser mais efetiva que mil discursos indignados como, aliás, mostrou ninguém menos que Ronald Reagan. Quem não quiser assistir ao vídeo inteiro, veja pelo menos o que vai aí abaixo e entenderá do que estou falando. E também não deixa de ser significativo o que fez o Gorbatchev quando foi a Inglaterra: contou uma piada!

 

Um comentário em “De piadas e revoluções

  1. Os soviéticos (e maoístas, bolivarianos, petralhas…) “ensinavam” que o capitalismo é a exploração do homem pelo homem, e o socialismo é o contrário.

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