De Teclas e Tipos

Até as coisas com as quais convivemos todo o dia e sobre as quais nunca pensamos têm uma história; às vezes longa. Olhe à direita do seu teclado. O que você vê aí, em cima da tecla Shift? Deve haver uma Caps Lock. Você provavelmente não usa o Caps Lock; ninguém mais, fora comentadores irados e gente com pouca familiaridade com o computador usa essa tecla. E você sabe como ela foi parar aí? Pois ela antecede o computador, tendo nascido junto com o Shift, no século XIX, para facilitar a vida dos datilógrafos; agora parece que vai se aposentar.

Outro legado das máquinas de escrever é o mau hábito de se usar dois espaços depois de um ponto. Como as máquinas até os anos 70 do século XX, por restrições tecnológicas, usavam apenas tipos mono-espaçados (nos quais cada caractere utilizava o exato mesmo espaço; ao contrário dos tipos proporcionais, nos quais, por exemplo, um “i” ocupa menos espaço que um “M”), era necessário dar um espaço duplo depois do ponto para marcar bem a separação dos períodos. Infelizmente o hábito pegou e muita gente continua a usá-lo, indo contra o consenso estabelecido por séculos de experiência tipográfica. Uma Times New Roman (criada nos anos 30 para o The Times de Londres), que é das fontes mais usadas, é proporcional.

A propósito, vocês sabem por que ela se chama Roman? A resposta remonta à Renascença. Os humanistas, horrorizados com as fontes góticas, descobriram o que eles acreditaram ser manuscritos escritos com os tipos dos antigos romanos, e batizaram as fontes daí criadas com o nome de romanas. O que eles não sabiam, contudo, era que os tipos nos quais se baseavam eram as minúsculas carolíngias, criadas muitos séculos antes, mas igualmente medievais. Até hoje prestamos homenagem ao orgulho renascentista e colhemos os frutos da inovação medieval.

9 comentários em “De Teclas e Tipos

  1. Puxa Joel,
    Você sabe história pra caramba e desce a notáveis pormenores, como os abordados. Eu leio história há 50 anos, tenho até um blog: virgiliocamposhistoriaantiga.blogspot.com, onde abordo assuntos polêmicos de forma leve, mas não sabia de nada do que você falou. Fiquei intelectualmente mais rico!
    Grande abraço

  2. Essa informação sobre a origem das fontes “romanas” tirei do excelente “The Book in the Renaissance”, do historiador Andrew Pettegree. O resto, sobre as teclas, encontrei passando mais tempo online do que deveria…

    Obrigado pela indicação do seu blog!

  3. Esse foi o melhor post já publicado na blogosfera brasileira em todos os tempos.
    Você, Joel, torça para que a profecia do Bill Gates se realize e as universidades se tornem obsoletas em 5 anos, pois posts como estes serão, então, vistos como o supra-sumo da intelectualidade humana.
    Abraço libertário

  4. Ei!, eu uso Caps Lock normalmente, com o perdão da ignorância. Qual o outro modo de mudar entre maiúsculas e minúsculas?

  5. Oras, e o Shift, o irmão educado do Caps Lock?

    Mas ok, tem gente que usa. Só não venha agora me dizer que você também usa a tecla Insert, que até onde eu saiba nunca foi pressionada voluntariamente.

  6. Mesmo a disposição das teclas é resultante de problemas mecânicos das máquinas de escrever antigas. Evitava “colisões” dos tipos mantendo afastadas as letras mais frequentes nas palavras do inglês. Outros modelos de teclado – dvorak, por exemplo – seriam mais eficientes, permitindo uma digitação mais rápida do texto. Mas quem fugiria do padrão adotado faz tanto tempo?
    Sobre tipo e fonte há uma grande confusão pois são termos que vêm do jargão da tipografia e foram mal empregados na composição digital.

  7. o CAPS é bom quando vamos comprar na internet, pra preencher os campos todos com letras maiusculas

    mas conforme os os eletrônicos ficam menores, a tendência é o teclado ser mais e mais enxuto. Temo que a medida que a eletrônica avançe, desnecessária vá ficando ler e escrever

    já existe um fórum cujos comentários são “ouvidos” ao invés de lidos. Clicando sobre a mensagem que um usuário deixou, o sistema “lê” em voz alta o que está escrito.

    na wikipédia tem uma boa explicação sobre tipos e fontes

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