Poesia húngara moderna

por Nelson Ascher

Dizem que o segundo país do mundo mais rico em tesouros artísticos é a Espanha. O primeiro seria a Itália. Mas a diferença do primeiro para o segundo lugar é tamanha, que a Toscana sozinha teria mais tesouros do que toda a Espanha. Já faz tempo, é claro, que a Toscana não é mais o centro mercantil e financeiro da Europa, mas o fato de tê-lo sido na Idade Média e no Renascimento, bem como sua prolongada habitação e opulência, explicam boa parte dessa concentração. O mesmo, por exemplo, se aplica à Holanda dos tempos de Rembrandt.

Quando se fala de poesia, porém, não se verifica uma correlação simples entre, por um lado, demografia e riqueza material e, por outro, qualidade literária. Países pequenos e economicamente atrasados, países nos quais se falam línguas conhecidas apenas por seus habitantes apresentam não raro ao mundo poetas e poesia de primeiro escalão.

Este é o caso da Hungria, nação na qual se fala uma língua que, isolada da maioria das européias e de todas as vizinhas, só tem parentes europeus distantes na Finlândia e na Estônia. Povo nômade que, oriundo da Ásia Central, estabeleceu-se na bacia do Danúbio em torno dos séculos 8/9, os húngaros seguramente dispunham de uma rica tradição oral que, no entanto, perdeu-se conforme o país se cristianizou e adotou a cultura ocidental. Uma nova poesia surge no final da Idade Média, atingindo seu primeiro apogeu na Renascença e, em seguida, na era do maneirismo. É no século 19, contudo, que vai ocorrer seu salto qualitativo e os primeiros poetas húngaros a se tornarem conhecidos no exterior pertenciam à escola romântica.

Na virada dos séculos 19/20, um jovem poeta, Endre Ady, que já havia publicado dois livros convencionais de versos, subitamente, sob a influência do simbolismo francês, descobre sua voz e dá um novo rumo à cultura de seu país. O grande inovador continuaria se renovando até morrer precocemente logo após a traumática derrota da Hungria na Primeira Guerra, guerra que, como se pode ler no poema aqui traduzido, principiou numa estranha, estranhíssima noite de verão.

Junto com seus contemporâneos e amigos, Mihály Babits (também grande ensaísta e tradutor da Divina Comédia), Dezsö Kosztolányi (excelente prosador e romancista) e Gyula Juhász, Ady fundou a mais influente revista literária húngara: Nyugat. O nome quer dizer “Ocidente”, termo cujo sentido mais geral era o mesmo de hoje, só que então se lhe dava um sentido positivo. Até a revista terminar, algo que ocorreu no começo da guerra seguinte, todos os poetas e escritores importantes do país estiveram de uma maneira ou de outra ligados a ela.

A geração seguinte de poetas estreou num país diferente, numa Hungria reduzida à pobreza e à dissensão interna pelos termos do Tratado de Trianon com que se concluíra ali a Primeira Guerra. O nacionalismo rancoroso e onipresente, a desconfiança em face das nações vizinhas (e vice-versa), o vírus do antissemitismo contaminando cada vez mais gente e a democracia local se erodindo, cada qual desses elementos, tornando mais claustrofóbico o clima do entreguerras, colaborou para a decisão final e desastrada do regente, o almirante Horthy, e seu governo: a de associarem o destino do país ao da Alemanha nazista, participando inclusive na invasão, em 1941, da URSS. Os poetas do período viveram, portanto, num ambiente muito mais politizado e nervoso do que a geração anterior e muitos, como Attila József e Gyula Illyés, optaram por militar na esquerda clandestina. József que, acossado por uma vida miserável, pela frustração amorosa e, quase certamente, por um grau de loucura, suicidou-se aos 32 anos de idade, é considerado o maior poeta dessa fase. Illyés, por seu turno, viveu o bastante para se voltar contra o regime seguinte, precisamente aquele cuja ideologia apoiara na juventude. Lörinc Szabó, um individualista avesso a associações políticas, ainda assim, às vésperas da Segunda Guerra, deu seu apoio à direita, embora o tenha feito sobretudo no seu jornalismo, mantendo sua poesia mais ou menos longe desse contágio. Radnóti e Vas eram dois homens de esquerda, mas sua sorte estava ligada antes à sua origem judaica à qual, aliás, não se apegavam. Ambos começaram como vanguardistas literariamente revoltados e foram aos poucos regressando às formas mais refinadas que a tradição legara. Radnóti foi morto em 1944 pelos nazistas e enterrado numa vala comum. Seus derradeiros poemas foram encontrados quase um ano depois, quando seu cadáver foi exumado, no bolso de seu impermeável. Vas sobreviveu à guerra e ao Holocausto para, logo em seguida, ser calado durante uma década pelo regime comunista cuja implantação foi auxiliada pelos ocupantes soviéticos.

O contexto que acolheu os poetas posteriores, além de não ser mais favorável, vinha carregado das memórias de horrores recentes. János Pilinszky, recrutado pelo exército húngaro perto do final da guerra, foi obrigado a servir, por alguns meses, como guarda no campo de concentração de Ravensbrück. O que viu lá o perseguiu até o fim da vida e deu um substrato particularmente trágico a seu cristianismo. Sándor Weöres, um dos poetas mais apolíticos do século 20, estreara aos treze anos como garoto prodígio e sua obra, o ápice da poesia húngara do pós-guerra, é, apesar, ou melhor, por causa disso, a mais rica, variada e virtuosística de sua língua. György Somlyó, ele mesmo um grande ensaísta literário, incorporou uma visão crítica a seus poemas que, como os de Weöres, lançavam mão, sem preconceito algum, de todas as formas e recursos. Quanto a György Petri, ele se revelou, desde a estréia, o “enfant terrible” ou o “angry young man” dos prolongados, quase inacabáveis, anos de decadência da tirania do partido único. Ninguém como ele, explorando as minúcias da língua e do cotidiano, compreendeu e explicitou tão bem o subsolo de mentiras sistemáticas e de cinismo convertido em segunda natureza sobre o qual se erigia o regime.

Não é obviamente possível, por meio de uma seleção exígua assim de poetas e poemas, sequer começar a dar uma idéia da riqueza da poesia húngara moderna. Mas se essa minúscula amostra grátis, insinuando que um país e uma língua remotos ocultam uma espécie de Toscana poética, servir para abrir o apetite dos leitores, dirigindo-os a outras antologias e traduções, ela terá cumprido sua missão.

Endre Ady (1877-1919)

Emlékezés egy nyár-éjszakára

Az Égből dühödt angyal dobolt
Riadót a szomoru Földre,
Legalább száz ifjú bomolt,
Legalább száz csillag lehullott,
Legalább száz párta omolt:
Különös,
Különös nyár-éjszaka volt,
Kigyúladt öreg méhesünk,
Legszebb csikónk a lábát törte,
Álmomban élő volt a holt,
Jó kutyánk, Burkus, elveszett
S Mári szolgálónk, a néma,
Hirtelen hars nótákat dalolt:
Különös,
Különös nyár-éjszaka volt.
Csörtettek bátran a senkik
És meglapult az igaz ember
S a kényes rabló is rabolt:
Különös,
Különös nyár-éjszaka volt.
Tudtuk, hogy az ember esendő
S nagyon adós a szeretettel:
Hiába, mégis furcsa volt
Fordulása élt s volt világnak.
Csúfolódóbb sohse volt a Hold:
Sohse volt még kisebb az ember,
Mint azon az éjszaka volt:
Különös,
Különös nyár-éjszaka volt.
Az iszonyúság a lelkekre
Kaján örömmel ráhajolt,
Minden emberbe beköltözött
Minden ősének titkos sorsa,
Véres, szörnyű lakodalomba
Részegen indult a Gondolat,
Az Ember büszke legénye,
Ki, íme, senki béna volt:
Különös,
Különös nyár-éjszaka volt.
Azt hittem, akkor azt hittem,
Valamely elhanyagolt Isten
Életre kap s halálba visz
S, íme, mindmostanig itt élek
Akként, amaz éjszaka kivé tett
S Isten-várón emlékezem
Egy világot elsülyesztő
Rettenetes éjszakára:
Különös,
Különös nyár-éjszaka volt.

Recordação de uma noite de verão

Do alto do céu um anjo enraivecido
tocou o alarme para a terra triste.
Endoidaram cem jovens pelo menos,
caíram pelo menos cem estrelas,
pelo menos cem virgens se perderam:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Nossa velha colméia pegou fogo,
nosso potro melhor quebrou a pata,
os mortos, no meu sonho, estavam vivos
e Burkus, nosso cão fiel, sumiu,
nossa criada Mári, que era muda,
esganiçou de pronto uma canção:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Os ninguéns exultavam de ousadia,
os justos encolhiam-se e o ladrão,
mesmo o mais tímido, roubou então:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Sabíamos da imperfeição dos homens,
de suas grandes dívidas de amor:
mas era singular, ainda assim,
o fim de um mundo que chegava ao fim.
Jamais tão zombeteira esteve a lua
e nunca foi menor o ser humano
do que foi nessa tal noite em questão:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Perversamente em júbilo, a agonia
sobre todas as almas se abatia,
os homens imbuíram-se do fado
recôndito de cada antepassado
e, rumo a bodas de um horror sangrento,
seguia embriagado o pensamento,
o altivo servidor do ser humano,
este, por sua vez, mero aleijão:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.
Pensava então, pensava eu, todavia,
que um deus negligenciado voltaria
à vida para me levar à morte,
mas eis que vivo e ainda sou o mesmo
no qual me converteu aquela noite
e, à espera desse deus, recordo agora
uma só noite mais que aterradora
que fez um mundo inteiro soçobrar:
foi uma estranha,
estranhíssima noite de verão.

Mihály Babits (1883-1941)

Mint különös hirmondó…

Mint különös hírmondó, ki nem tud semmi ujságot
mert nyáron át messze a hegytetején ült s ha este
kigyultak a város lámpái alatta, nem látta őket
sem nagyobbnak, sem közelebbnek a csillagoknál

s ha berregést hallott, találgatta: autó? vagy repü-lőgép?
vagy motor a síma Dunán? s ha szórt dobogásokat hallott
tompán a völgyekben maradozva, gondolhatta, házat
vernek lenn kőmivesek, vagy a rossz szomszéd a folyón túl

gépfegyvert próbál – oly mindegy volt neki! tudta,
balga az emberi faj, nem nyughat, elrontja a jót is,
százakon át épít, s egy gyermeki civakodásért
ujra ledönt mindent; sürgősebb néki keserves

jussa a bandáknak, mint hogy kiviruljon a föld és
a konok isteneket vakítva lobogjon az égig
szellem és szerelem – jól tudta ezt a hegyi hírnök
s elbútt, messze a hírektől; de ha megjön a fütyös,

korbácsos korhely, a szél, s ha kegyetlen a távolodó nap
kéjes mosollyal nézi, hogy sápadnak érte öngyilkos
bánatban elhagyott szeretői, a lombok és ingnak,
mint beteg táncoslány aki holtan hull ki a táncból:

akkor a hírnök föláll, veszi botját, s megindul a népes
völgyek felé mint akit nagy hír kerget le hegyéről
és ha kérdik a hírt, nem bir mást mondani: ősz van!
nagy hírként kiáltja amit mindenki tud: ősz van!

úgy vagyok én is, nagy hír tudója: s mint bércet annál több
forrás feszíti, mennél több hó ül fején, öreg szívem
úgy feszűl a szavaktól; pedig mi hírt hozok én? mit
bánom a híreket én? forrong a világ, napok állnak

versenyt az évekkel, évek a századokkal, az őrült
népek nyugtalanok: mit számít? én csak az őszre
nézek, az őszt érzem, mint bölcs növények és jámbor
állatok, érzem, a föld hogy fordul az égnek aléltabb

tájaira, s lankad lélekzete, mint szeretőké –
óh szent Ritmus, örök szerelem nagy ritmusa, évek
ritmusa, Isten versének ritmusa – mily kicsi minden
emberi történés! a tél puha lépteit hallom,

jő a fehér tigris, majd elnyujtózik a tájon,
csattogtatja fogát, harap, aztán fölszedi lomha
tagjait s megy, hulló szőrétől foltos a rétség,
megy s eltűnik az új tavasz illatos dzsungelében.

Feito um estranho arauto…

Feito um estranho arauto que não sabe de notícia,
pois passara o verão no topo da montanha e quado,
à noite, as luzes da cidade embaixo se acendiam,
não as via maiores nem mais claras que as estrelas,

e, se ouvia um zumbido, especulava: carro? avião?
ou lancha no Danúbio vítreo? e se no vale ecoava
difuso um fragor surdo, deduzia que: trabalha o
pedreiro ou, na ribeira oposta, o mau vizinho testa

metralhadoras – dava-lhe na mesma! ele sabia
que a raça humana é tola, inquieta, estraga o que há de bom,
constrói durante séculos e, em rixas de criança,
destrói tudo de novo, o espólio amargo das quadrilhas

a instiga mais que o florescer da terra ou do que a chama
do amor e da razão cegando céu acima os deuses
sempre obstinados – ciente disso o arauto da montanha
se escondeu, longe das notícias; mas, se açoite em mão,

o vento chega embriagado, e, em fuga, o sol cruel
sorri lascivo enquanto deixa as frondes – ex-amantes
que, em dor suicida, empalidecem oscilando como
dançarina que, enferma, morre em meio à dança – o arauto

se ergue e, com seu cajado, desce aos vales populosos,
tangido da montanha por grandes notícias; quando
lhe perguntam, porém, quais são, só sabe: que é outono!
e alardeia o que todo mundo sabe: que é outono!

minhas notícias são assim – e como há mais nascentes
nos montes mais nevados, o meu velho coração
também transborda de palavras: que notícias trago
no entanto? e que me importam? ferve o mundo onde competem

dias com anos e estes com os séculos, agitam-se
doidos os povos: e daí? contemplo o outono apenas
e o sinto como os mansos animais e as plantas sábias,
sinto que a terra adentra áreas do céu mais apagadas,

que seu alento, como o dos amantes, enlanguesce –
ó santo Ritmo, grão ritmo do amor eterno, ritmo
dos anos e dos versos do Senhor – como é minúsculo
tudo de humano – eu ouço os passos tímidos do inverno,

já vem o tigre branco que se estende sobre os campos,
que range os dentes, morde, move os membros preguiçosos,
mancha a paisagem com seus pelos e, indo embora, embrenha-se
nas selvas olorosas de uma nova primavera.

Gyula Juhász (1883-1937)

Tápai lagzi

Brummog a bőgő, jaj, be furcsa hang,
Beléjekondul a repedt harang,
Kutyák vonítanak a holdra fel,
A túlsó parton varjúraj felel.

Brummog a bőgő, asszony lett a lány,
Az élet itt nem móka s nem talány,
A bort megisszák, asszonyt megverik
És izzadnak reggeltől estelig.

De télen, télen a világ megáll
És végtelen nagy esték csöndje vár,
Az ember medve, alszik és morog.
Benn emberek és künn komondorok.

Brummog a bőgő, elhervad a hold,
Fenékig issza a vőfély a bort,
Már szürkül lassan a ködös határ,
És a határban a Halál kaszál…

Bodas no campo

O contrabaixo grunhe: nota estranha,
na qual o sino roto se emaranha;
cães ladram para a lua e, à beira oposta
do lago, as gralhas grasnam em resposta.

O baixo grunhe, a moça vira esposa,
a vida aqui não é dúbia ou jocosa:
bebem o vinho, surram a parceira
e suam a manhã e a tarde inteira.

No inverno o mundo pára e o breu imenso
das longas noites baixa seu silêncio,
homens são ursos, dormem resmungando.
Os homens dentro e, fora, cães em bando.

O baixo grunhe, a lua murcha, o vinho
se acaba na garganta do padrinho,
o céu se acinza aos poucos e, defronte,
a Morte ceifa agora no horizonte.

Dezsö Kosztolányi (1885-1936)

Ha negyvenéves…

Ha negyvenéves elmúltál, egy éjjel,
egyszer fölébredsz és aztán sokáig
nem bírsz aludni. Nézed a szobádat
ott a sötétben. Lassan eltünődöl
ezen-azon. Fekszel, nyitott szemekkel,
mint majd a sírban. Ez a forduló az,
mikor az életed új útra tér.
Csodálkozol, hogy föld és csillagok közt
éltél. Eszedbe jut egy semmiség is.
Babrálsz vele. Megúnod és elejted.
Olykor egy-egy zajt hallasz künn az utcán.
Minden zajról tudod, hogy mit jelent.
Még bús se vagy. Csak józan és figyelmes.
Majdnem nyugodt. Egyszerre fölsóhajtasz.
A fal felé fordulsz. Megint elalszol.

Se, entrado nos quarenta…

Se, entrado nos quarenta, você acorda
uma noite e, por muito tempo, o sono
não vem. Você contempla o quarto escuro
remoendo alguma coisa. Jaz com olhos
abertos como há de jazer um dia
na cova. É então que toma um novo rumo
tua vida. Quão estranho foi – você
se admira – ter vivido entre as estrelas
e a terra! Uma bobagem que te ocorre,
te entretém, te aborrece e já não conta.
Mil ruídos vêm da rua e não há ruído
que não te seja familiar. Você
que está, não triste, só tranqüilo, alerta,
quase em paz, dá um suspiro e, após virar-se
para a parede, dorme novamente.

Lörinc Szabó (1900-1957)

Válasz

Láttam a komédiát,
hajam beleőszült.
Minden férfi bandita,
minden asszony őrült.

Gyomrom, agyam tele van,
öreg undor éget.
Választ akarsz? Kezdelek
kiokádni, élet!

Resposta

Vi a comédia: ela deixou-me
grisalho de repente.
Os homens, todos gangsters; cada
mulher, uma demente.

Do estômago à cabeça, é um nojo
antigo que em mim arde.
Queres uma resposta? Vida,
começo a vomitar-te.

Gyula Illyés (1902-83)

Dőlt vitorla

Recseg, megdől a rúd, a hosszú
vitorlarúd,
kaszálja szinte a habot, míg
a bárka – fut!

Árboc s vitorla, nézd, előre
mikor repűl
leggyőztesebben? Amikor leg-
mélyebbre dűl!

Vela inclinada

Pende, rangendo, o longo mastro
que, do veleiro,
já ceifa a espuma enquanto o barco
singra ligeiro!

Quando é que mastro e vela avançam
mais – quase a voar
triunfantes? Quando eles se inclinam
mais rente ao mar!

Attila József (1905-37)

Kész a leltár

Magamban bíztam eleitől fogva –
ha semmije sincs, nem is kerül sokba
ez az embernek. Semmiképp se többe,
mint az állatnak, mely elhull örökre.
Ha féltem is, a helyemet megálltam –
születtem, elvegyültem és kiváltam.
Meg is fizettem, kinek ahogy mérte,
ki ingyen adott, azt szerettem érte.
Asszony ha játszott velem hitegetve:
hittem igazán – hadd teljen a kedve!
Sikáltam hajót, rántottam az ampát.
Okos urak közt játszottam a bambát.
Árultam forgót, kenyeret és könyvet,
ujságot, verset – mikor mi volt könnyebb.
Nem dicső harcban, nem szelíd kötélen,
de ágyban végzem, néha ezt remélem.
Akárhogyan lesz, immár kész a leltár.
Éltem – és ebbe más is belehalt már.

1936. nov. -dec.

O inventário está pronto

Confiei desde o começo em mim se bem
que isso não custe muito para quem
nada possui – não mais, em todo caso,
do que para o animal morto ao acaso.
Fiquei, mesmo com medo, em meu lugar:
nasci e mesclei-me até me destacar.
Paguei a cada qual conforme o preço
e, a quem me deu de graça, com apreço.
Se mulher me iludia com sua fala,
deixava-a me iludir para agradá-la.
Lavei convés e enchi baldes – não raro,
em meio aos sabichões, eu fui o otário.
Vendi brinquedos, pão, livros, jornais,
poesia – sempre o que rendesse mais.
Embora ainda prefira um fim no leito
à guerra ou corda – como for, aceito.
O inventário está pronto e aqui registro
que vivi. Muita gente morreu disto.

Novembro/dezembro, 1936

Miklós Radnóti (1909-44)

Tajtékos ég

Tajtékos égen ring a hold,
csodálkozom, hogy élek.
Szorgos halál kutatja ezt a kort
s akikre rálel, mind olyan fehérek.

Körülnéz néha s felsikolt az év,
körülnéz, aztán elalél.
Micsoda ősz lapul mögöttem ujra
s micsoda fájdalomtól tompa tél!

Vérzett az erdő és a forgó
időben vérzett minden óra.
Nagy és sötétlő számokat
írkált a szél a hóra.

Megértem azt is, ezt is,
súlyosnak érzem a levegőt,
neszekkel teljes, langyos csönd ölel,
mint születésem előtt.

Megállok itt a fa tövében,
lombját zúgatja mérgesen.
Lenyúl egy ág. Nyakonragad?
nem vagyok gyáva, gyönge sem,

csak fáradt. Hallgatok. S az ág is
némán motoz hajamban és ijedten.
Feledni kellene, de én
soha még semmit sem feledtem.

A holdra tajték zúdúl, az égen
sötétzöld sávot von a méreg.
Cigarettát sodrok magamnak,
lassan, gondosan. Élek.

Céu espumante

No céu que espuma, a lua oscila.
Estar vivo me causa espécie.
A morte assídua espreita a Idade:
quem ela encontre, empalidece.

O ano grita e depois desmaia.
(Gritara olhando ao seu redor.)
Que outono ronda-me de novo?
Que inverno embotado de dor?

Sangrava o bosque; mesmo as horas
sangravam no vaivém dos dias.
Ventos riscavam, sobre a neve,
cifras enormes e sombrias.

Já vi de tudo; o ar me esmaga
com seu peso; um silêncio cresce
ruidoso, cálido e me abraça
como fez antes que eu nascesse.

Detenho-me junto de um tronco
que agita iroso as frondes plenas
e estende um galho. Há de esganar-me?
Não é fraqueza ou medo – apenas

cansaço. Calo. E o galho apalpa
os meus cabelos, mudo, aflito.
Cabe esquecer – mas não há nada
de que já tenha me esquecido.

Espuma afoga a lua; o miasma
estria os céus, verde e agressivo.
Sem pressa, enrolo com cuidado
o meu cigarro. Eu estou vivo.

István Vas (1910-91)

Nem a Halál

Tiberius kifinomult korát
Kivánom egyre vissza mostanában,
As egyszerü és ártatlan halált,
A mérgeket s nyított eret a kádban.

De végzetem modern mocsokba ránt
A gázkamrák s a klórmész korszakában –
Múzsám, segíts, hogy elmém undorát
Korom szemébe viszont kiokádjam.

Nem a halál, csupán az út oda
A gyávaság kegyetlen cinkosa:
Árnya szivemre száll, rabolni rangját.

Gépkocsi berreg. Beteg idegek.
Há összefognak, mit készítenek
A német rendszer és a honi bitangság?

Mais do que a morte

O tempo requintado de Tibério é tudo
o que eu desejo ter de volta atualmente;
a morte simples e inocente – sobretudo
veneno ou veia aberta na banheira quente.

Mas esta idade suja que me coube inclui do
desinfetante às câmaras-de-gás. A mente
enoja-se e eu vomitarei o seu repúdio
– se a musa me ajudar – na cara do presente.

Mais do que a morte, é seu caminho, todavia,
que, feito cúmplice cruel da covardia,
quer me aviltar, com sua sombra, o coração.

Um carro zumbe. Nervos cedem. Quanto mal
nos pode agora advir se, ao regime alemão,
associar-se a canalhice nacional?

Sándor Weöres (1913-89)

Daráló

Jõ a fecske tavasszal,
minden szívet vigasztal,
tavasszal
vigasztal,
csak engem nem nyugosztal.

Megterítve az asztal,
vendégeket marasztal,
az asztal
marasztal,
engem menni tapasztal.

Minden virág tavasszal
följebb nõ egy arasszal,
tavasszal
arasszal,
tapasszák le tapasszal.

Szemben ennyi pimasszal
teli vagyok panasszal,
pimasszal
panasszal,
nem bírok a ravasszal.

Körben csupa kopasz fal,
följajdúl a panaszdal,
kopasz fal
panaszdal,
búbánatot magasztal.

Lengalenga

A andorinha enche, num dia
de abril, todos de alegria;
irradia-
-se a alegria,
só meu mal não se alivia.

Eis que a mesa delicia,
quando é posta, a maioria;
delicia a
maioria,
mas a mim me distancia.

Toda flor que antes morria,
em abril se abre à porfia;
contraria-
-me a porfia:
com emplastro a emplastraria.

Ver que há tanta vilania
ao redor já me angustia;
vilania
que angustia:
vou treinar a pontaria.

Que parede mais vazia!
E outras tantas! A elegia
se anuncia:
elegi-a
para expor minha agonia.

György Somlyó (1920-2006)

Seb és kés

A kés és a seb viszonya változó. A seb vérzik. A kés bevéreződik. A seb sajog. A kés kicsorbul. A seb fájva emlékezik a késre. A kés nem emlékezik a sebre. A seb beheged. A kés sebe tartós. Egyszer a seb is elfeledi a kést. A késnek nincs mit felednie. A kés gyönyört lel a sebben, mint a kinyíló testben. A seb is gyönyörét lelheti a késben, mint a beléhatoló testben. A seb irtózik a késtől. A kés is irtózhat a sebtől. Vannak, akik a sebtől irtóznak. Vannak, akik a késtől. Van, aki mindakettőtől. A seb szeretheti is a kést. A kés is szeretheti a sebet. Megeshet, hogy a kés úgy sajog, mint a seb. Megeshet, hogy a seb oly érzéketlen, mint a kés. A seb előbb-utóbb begyógyul. A kés beletörhet a sebbe. A kés sokszor mondja azt: Én vagyok a Seb. Egyszer a seb is azt mondhatja: Én vagyok a Kés. A seb és a kés viszonya változó. Csak egy változatlan. Hogy van seb és van kés. A kés a seb kése. A seb a kés sebe. Nem lehetnek meg egymás nélkül.

Ferida e faca

A relação entre faca e ferida é variável. A ferida sangra. A faca se ensangüenta. A ferida dói. A faca se embota. A ferida se lembra dolorosamente da faca. A faca não se lembra da ferida. A ferida cicatriza. A ferida da faca é duradoura. Algum dia até mesmo a ferida há de esquecer a faca. A faca não tem o que esquecer. A faca se deleita com a ferida como com um corpo que se abra. A ferida também pode se deleitar com a faca assim como com um corpo que a penetre. A ferida tem horror à faca. A faca também pode ter horror à ferida. Há quem tenha horror à ferida. Há quem o tenha à faca. Há quem tenha horror a ambas. A ferida pode também amar a faca. A faca também pode amar a ferida. Pode ser que a faca sinta dor como a ferida. Pode ser que a ferida seja insensível como a faca. A ferida há de sarar um dia. A faca pode se quebrar na ferida. A faca diz freqüentemente: Eu sou a Ferida. A ferida pode vir a dizer um dia: Eu sou a Faca. A relação entre ferida e faca é variável. Só uma coisa não varia. Que há ferida e há faca. A faca é a faca da ferida. A ferida é a ferida da faca. Uma não existe sem a outra.

János Pilinszky (1921-81)

Ravensbrücki passió

Kilép a többiek közűl,
megáll a kockacsendben,
mint vetitett kép hunyorog
rabruha és fegyencfej.

Félelmetesen maga van,
a pórusait látni,
mindene olyan óriás,
mindene oly parányi.

És nincs tovább. A többi már,
a többi annyi volt csak,
elfelejtett kiáltani
mielőtt földre roskadt.

Paixão de Ravensbrück

Sai das fileiras e detém-
-se no silêncio carregado.
Vibram, como no écran, seu crânio
raspado e as roupas de forçado.

Está medonhamente só.
Podem-se ver seus poros. Tudo
de seu parece tão imenso.
Tudo de seu – tão diminuto.

Apenas isto. Quanto ao resto,
o resto, nada singular,
foi, antes de cair por terra,
ter se esquecido de gritar.

György Petri (1943-2000)

Búcsúzás

„Ne tudja más, ne hallja más,
örökre szól a búcsúzás.”
(N. Mihalkov – parafrázis)

Ég veletek, barátaim, vége a dal-
nak. Engem most már vár a ravatal.
Lehettem volna jobb, szorgalmasabb,
de sajnos ennyire futotta csak.
Kár, hogy így van, jó volna élni még,
másrészt, belátom, ennyi is elég,
nincs rá okom – nem elégedetlenkedem:
tartalmas és szép volt az életem.
S mint bársonyon smaragdok, jáspisok,
drága hónapok ékköve ragyog
még káprázó, boldog szemem előtt,
ajándék minden reggel, délelőtt,
kiélvezem a maradék időt,
mint ínyenc a húsos cubákokat
– csontig lerágom végnapjaimat.

Despedida

“Mesmo não tendo sido ouvida
É para sempre a despedida.”
(N. Mihalkov, paráfrase)

Amigos, a canção chega a seu ponto
final. Adeus. Meu túmulo está pronto.
Poderia ter tido mais talento
ou trabalhado mais. Não deu. Lamento.
Se bem que acontecer desta maneira
seja um azar, admito, embora queira
viver mais, que bastou: não vale a pena
queixar-me de uma vida bela e plena.
Como esmeralda e jaspe no veludo,
meses preciosos ainda são, contudo,
gemas que ofuscam meu olhar contente;
cada aurora e manhã ainda é um presente.
Desfruto o que me resta e, glutão frente
a um gordo steak, roerei enquanto posso
meus derradeiros dias rente ao osso.

NELSON ASCHER é poeta, tradutor e jornalista.