
Por Henrique Elfes
Há muitos anos atrás, numa Universidade distante, um amigo fazia o exame de qualificação para o mestrado em Letras. A sua tese tratava de um poeta metafísico português, e no afã de entendê-lo e explicá-lo citava alguns filósofos como Pareyson e Maritain. A meio da exposição, foi interrompido por um dos membros da banca:
– Vejo aqui que você cita filósofos na sua tese… Penso que não entendeu bem: esta é uma Faculdade de Letras. Se você quer falar de Filosofia, vá fazer Filosofia.
Aquela pérola sapiencial ficou ali, suspensa no ar entre o estrado dos professores e o banco do meu amigo. O que o deixou mais perplexo foi que somente ele pareceu encontrar um sem-sentido naquilo. O que esperavam dele? Pelo visto, que se ativesse com assepsia a uma espécie de “Letras puras”, algo assim como as Matemáticas puras ou a Física pura. Devia ser um “técnico em Letras”, talvez? Por que não um “encanador literário”?
(Até aqui, o necessário para tirar uma moral da história. Mas, como sempre há os que ficam preocupados com o que aconteceu depois e sentem uma duvidazinha irritante se não lhes contamos, acrescento que o caso acabou bem: para não criar complicações desnecessárias, o meu amigo purificou a sua tese de todas as referências que não fossem a vacas devidamente sagradas da crítica literária e hoje é um feliz Mestre em Letras – desempregado, por ora.)