Pintura e tempo: vida e obra em Van Gogh

por Nicolau Cavalcanti

 

Estamos num museu, visitando uma coleção de pinturas. Quanto tempo gastamos em cada quadro? Um minuto, quinze segundos, trinta minutos? Já sei que a resposta é muito relativa, depende do quadro, do pintor, da finalidade da nossa visita (distração, estudo, curiosidade etc.), do tempo que temos disponível, da nossa companhia, do trânsito lá fora, etc. etc. Mas não quero desistir da pergunta e vou ajudar. Quanto tempo dedicaríamos a um quadro se se tratasse da melhor pintura feita até então? Quanto vale a melhor pintura em termos de tempo, quando estamos sozinhos? Porque às vezes dedicamos certo tempo a uma obra de arte por vergonha, já que fica chato vê-la rapidamente…  Aqui, não obstante, a pergunta presume condições ideais de temperatura e pressão: quanto tempo gastaríamos para ver uma obra de arte, a melhor?

O objetivo desse artigo é mostrar que um Van Gogh vale duas horas. Brincadeira, não é exatamente isso – contemplar a arte não é questão de cronômetro, me parece. Mas duas horas olhando um quadro é bastante tempo, muitíssimo tempo. No entanto, recomendo seriamente, ao menos uma vez na vida, este investimento. Apesar de ser apenas um pouco mais que um jogo de futebol ou quase igual a um filme – atividades a que estamos acostumados, e nas quais às vezes este tempo passa “super rápido” – gastar duas horas numa única pintura é uma experiência marcante. Vale o teste. E muito mais se for um Van Gogh, especialmente aqueles pintados a partir da sua estadia em Arles (fevereiro de 1888). Dessa forma, a finalidade do texto que encontrarão abaixo é explícita, não pretende ser sutil: é um convite a olhar com calma as obras de Van Gogh; convite este com pretensão de ser atraente e eficaz. Também encontrarão abaixo algumas opiniões muito particulares, em relação às quais sugiro uma boa dose de ceticismo e uma contraprova a posteriori.

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