por Gustavo H. B. Franco
Crises não misturam bem com leituras muito densas, especialmente à noite. Foi o que disse Machado de Assis, numa crônica escrita durante o Encilhamento, em que nos conta um pesadelo seu após ler simultaneamente Hamlet e o noticiário sobre a crise bancária e cambial de 1890-91. “Essa mistura de poesia e cotação de praça, de gente morta e dinheiro vivo, não podia gerar nada bom; eram alhos com bugalhos”.
No sonho, ambientado num cemitério, os coveiros riam-se das ações das empresas falidas: “Falavam de bancos, do Banco União, do Banco Eterno, do Banco dos Bancos, e os respectivos títulos eram vendidos ou não, segundo oferecessem por eles sete tostões ou duas patacas. Não eram bem títulos nem bem caveiras; eram as duas coisas juntas, uma fusão de aspectos, letras com buracos de olhos, dentes por assinaturas”.