A soberania de Iris Murdoch

por Joel Pinheiro da Fonseca

Nenhum tema apareceu com tanta freqüência nas páginas da Dicta&Contradcita quanto a ética. É natural que seja assim; afinal, das disciplinas filosóficas, a ética é a que fala mais diretamente com cada um de nós, que parece nos colocar contra a parede a cada nova decisão.

O que já não parece tão natural é a quantidade de argumentos da filosofia moral que parecem simplesmente não fazer sentido. E, o que é pior, a conseqüência desse embaraço pode pôr em questão a própria pertinência da filosofia. Seria uma reação, aliás, compreensível: “Se é isso o que os filósofos têm a me dizer, prefiro me virar sozinho”. Mas antes de chegarmos a esse ponto um pequeno livro cujo lançamento não houve pode ser de extrema utilidade. O livrinho em questão chama-se The Sovereignty of Good (A soberania do bem) e sua autora, Iris Murdoch.

Murdoch nasceu no dia 15 de julho de 1919, em Dublin na Irlanda. Ainda criança, mudou-se com a família para Londres, onde seu pai foi trabalhar no Serviço Civil. Após terminar os estudos num internato de Bristol, Iris foi para Oxford e formou-se pelo Somerville College. Durante a Segunda Guerra, trabalhou para o Tesouro britânico e depois no órgão para refugiados da ONU em Londres, na Bélgica e na Áustria. Voltou à filosofia para fazer um pós-doutorado em Cambridge, onde assistiu a vários seminários de Ludwig Wittgenstein, e finalmente retornou a Oxford em 1948, como professora do St. Anne’s College. De lá, levou uma vida riquíssima em praticamente todos os sentidos. Em 1987 recebeu o título de Dame Commander of the Order of the Britsh Empire e ao longo da década seguinte foi gradualmente perdendo suas faculdades mentais até morrer de Alzheimer em 08 de fevereiro de 1997.

Rebelde antes de 1968, cheia de casos e amantes – um dos mais marcantes foi Elias Canetti –, teve um longo casamento (e muito especial) com John Bayley. Quem conviveu com o casal dizia que a sua casa era uma das mais agradáveis de Oxford, mas que não era incomum, ao chegar lá, encontrar Iris estudando alemão e John preocupado com a lista do supermercado.

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