Elogio da disciplina

Em vôo com Mario Vargas Llosa

por Martim Vasques da Cunha

As dificuldades crescem quanto mais próximo se está da meta (Goethe)

Nem sempre há um prêmio Nobel cochilando ao seu lado.

Durou apenas cinco minutos. Enquanto o avião levantava vôo de Porto Alegre a São Paulo, Jorge Mario Vargas Llosa fechou os olhos depois de ter folheado as páginas da revista da TAM. Durante alguns instantes, deteve-se numa foto sua em cor de sépia, a face angulosa numa expressão próxima de um cowboy de filme de John Ford, sério, impenetrável, viril. Leu algumas linhas, talvez para checar se a entrevista correspondia ao que tinha dito. Depois, reclinou a poltrona estreita do avião e fechou os olhos. Ficou assim por um tempo. O comissário de bordo veio e ofereceu-lhe, em uma cesta de plástico, algumas balinhas de doce de leite, que aceitou prontamente e logo colocou na boca. Voltou a fechar os olhos. Mastigou a bala em ritmo circular. De repente, acordou, aproximou-se e perguntou à pessoa sentada ao lado esquerdo, com seu espanhol cristalino:

– “Você trabalha como jornalista e também como professor?”

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