Emepebê, biografia não autorizada

por Ruy Goiaba

A emepebê, grande e bonita manifestação da pseudointelectualidade brasileira, não foi sempre essa coisa horrível que você ouve na cadeira do dentista (e que, naturalmente, faz parte dos instrumentos de tortura dele, como o tratamento de canal e aquele barulho insuportável do motorzinho). Em parte, ela se originou da bossa nova e é o simples resultado da ação da natureza sobre tudo que é novo – amadurecer e depois apodrecer. Outros consideram que, ao surgir, na metade da década de 60, o gênero era uma versão musical do MDB, a oposição consentida à ditadura militar (also known as “partido do sim, senhor”, em contraste com a Arena, que era o “partido do sim”).

Faz sentido: hoje, como o PMDB, a emepebê contém Sarneys, Quércias e outros coronéis de alta patente, e o nepotismo é um de seus traços mais marcantes (reparem na quantidade de fidalgos que ela congrega – no sentido estritamente etimológico, “filhos d’algo”). Hoje, a rica música popular que o país já produziu pode ser dividida, sem grande engano, em subgêneros como “baiano genérico”, “Cássia Eller genérica” e “ex-integrantes dos Titãs”.

Esta biografia não autorizada dos fazedores de emepebê não se pretende exaustiva – é apenas uma lista de alguns compositores que originaram o gênero e de outros que o colocaram num eterno ônibus circular entre a barbárie e a decadência. Também é uma espécie de manual para que você, leitor incauto, aprenda a reconhecer a emepebê e a reagir a ela com a arte marcial de sua preferência. Há ficção misturada – tome tudo com um grão de sal (de fruta).

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