“Eu não sou o Capitão Nascimento”

por Bráulio Mantovani

Às vezes sou convidado a participar de debates em festivais. Em mais de uma ocasião, o tema a ser discutido é enunciado mais ou menos da seguinte forma: “como escrever filmes de sucesso?” Recuso o convite e tento explicar, da maneira mais elegante possível, que não posso debater sobre um assunto que desconheço. Não é falsa modéstia. É a mais pura verdade. Não acredito que existam fórmulas para se escrever filmes bem ou mal sucedidos. Se existe tal fórmula, eu não a conheço. Se conhecesse, minha vida profissional seria muito diferente do que é.

Dos 18 roteiros que já escrevi, seis foram filmados, sendo que em dois deles fui apenas um modesto colaborador. Se a cada três roteiros que escrevo, um é produzido, qual é a probabilidade de um filme escrito por mim fazer sucesso? Não sei fazer essa conta. E se soubesse, duvido que o resultado servisse para explicar alguma coisa.

Nunca vou me esquecer de quando assisti, na ilha de montagem, ao lado dos meus amigos e colaboradores Fernando Meirelles e Daniel Rezende, ao corte final de Cidade de Deus. Eu estava em êxtase com o resultado e disse ao Fernando: “Você ganharia um Oscar com esse filme. Pena que ninguém vai ver”. Famous last words, com o sinal trocado.

Eu tinha mesmo certeza de que Cidade de Deus passaria despercebido. Minhas razões para pensar de maneira tão equivocada ainda hoje me parecem razoáveis: (1) Quem iria se interessar em ver uma história tão violenta? Já não bastam as notícias sobre os crimes do tráfico de drogas que vemos diariamente nos jornais e telejornais? (2) Quem vai querer pagar ingresso para ver um bando de atores desconhecidos?

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>