O Bom e o Bem

por Joel Pinheiro da Fonseca

Não é preciso voltar aos poetas-filósofos astecas para encontrar o sentimento expresso nesses versos: a busca da verdade une a todos. Animando cada dúvida e incerteza está o anseio por algo estável e duradouro. O desejo de se viver feliz embora iludido dura apenas enquanto a ilusão tem aparência de verdade; quando a máscara cai, vai-se o efeito reconfortante do auto-engano. Até o cético busca defender uma verdade: a de que nada podemos conhecer (além de nossa ignorância). A filosofia é um caminho específico dessa busca, uma tentativa de, guiado pela razão, ir além da experiência corriqueira. Não é o único.

Perguntar-se sobre o que constitui o bem e o mal, o certo e o errado, como o homem alcança sua meta (se é que há alguma) – isso levado ao nível da discussão filosófica chama-se ética ou filosofia moral. Não é preciso fazer filosofia para tratar dessas questões. A cada escolha a pergunta é colocada e respondida. Cada ato manifesta um código de valores. Escolhe-se A, deixa-se de lado B. Portanto, considera-se que A é, nas circunstâncias, melhor que B. A ética trata dessa escala de valores. Que fins são dignos da raça humana?

Não que o filósofo seja o mais capaz de responder. Dizer que para ser bom é preciso ser filósofo é, para usar um eufemismo, grotesco. O papel da ética não é descobrir o que é certo e o que é errado; muitos não-filósofos já o sabem. O que ela procura são as razões pelas quais algo é certo ou errado, o que permite que se articule e se discuta diferentes posições. Claro, às vezes o criado corrige o patrão; mas, em geral, a ética estará subordinada à experiência acumulada dos homens, que, embora falível, é um depósito de observações e testes das diversas condutas possíveis, e carrega consigo um patrimônio moral considerável. Seria tolice jogá-la fora para recomeçar do zero em busca de uma certeza improvável. Pois suponha que um sistema ético inovador conclua que o estupro seja virtuoso e beber água gravemente imoral. Isso não bastaria para concluirmos que há algo muito equivocado nele? A redução ao absurdo moral, embora não seja uma prova definitiva como a redução ao absurdo lógico, é um recurso argumentativo bem plausível.

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