por Carlo Eugênio Nogueira

Por ocasião da comemoração dos 110 anos de seu nascimento decidiram os organizadores da oitava edição da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) homenagear Gilberto de Mello Freyre (1900-1987). A extensão, vitalidade e força da obra desse pernambucano natural do Recife e radicado em seu solar (hoje casa-museu) de Apipucos, pensador denso e de difícil enquadramento que é – e sobre o qual já disseram ser mais propriamente um escritor ou ensaísta, para outros sociólogo, ou ainda filósofo, por vezes tropicologista e para muitos apenas um hábil divulgador da mentalidade senhorial conservadora ainda dominante nas elites do Brasil do início do século XX –, espanta quando confrontada com a obra de seus contemporâneos de geração.

Na verdade, escrever o que quer que seja sobre a vida do Mestre de Apipucos, como gostava de ser chamado, é tarefa inglória mesmo para os leitores mais acostumados ao seu estilo, dado o volume de textos sobre si mesmo, diários, apresentações e auto-imagens construídas de próprio punho (muitas delas floreando, dramatizando ou valorizando a seu bel-prazer, como bons exercícios de memória seletiva, imagens, fatos, qualidades e acontecimentos pessoais do passado) que com especial zelo organizou e publicou ao longo de sua longa vida. E isso sem falar no renovado interesse sobre sua obra desde, ao menos, meados da década de 1990, que nos brindou com uma sucessão de variados estudos interpretativos de fôlego, novas edições de seus livros e duas exaustivas biografias que ajudaram a melhor iluminar os elementos formadores de seu pensamento, relacionando vida e obra do protagonista através do foco no percurso histórico do desenvolvimento de suas principais idéias e interesses.