O Deus dos matemáticos

As crenças religiosas que guiaram

as idéias revolucionárias de Kurt Gödel

por David P. Goldman

Kurt Gödel era um crente – ou, pelo menos, um conhecedor – cujo compromisso com Deus o levou a reelaborar o argumento ontológico para a existência de Deus. Nascido em 1906, Gödel foi provavelmente o maior matemático do seu tempo. Sem dúvida, nenhum outro pensador do século XX fez mais para mostrar que a mente humana não pode ser reduzida a uma máquina. Aos vinte e cinco anos de idade, os seus teoremas da incompletude arruinaram o sonho positivista de transformar a matemática num sistema formal contido em si mesmo, além de implicarem, como o próprio Gödel notou, a completa impossibilidade de que as máquinas venham um dia a pensar e de que os algoritmos de um computador substituam a intuição. Para Gödel, implicam ainda a impossibilidade de uma explicação plausível da realidade que não leve Deus em conta. Mas o Deus de Gödel não é a divindade bem comportada da velha teologia natural ou o alegre harmonizador da subcultura do design inteligente. O Deus de Gödel oculta a sua face e pode ser captado apenas pelo paradoxo e pela intuição. Deus não é uma abstração, mas “pode agir como uma pessoa”, como escreveu certa vez, confrontando com paradoxos aqueles que o buscam, elevando o homem por meio de inspirações gloriosas, e mantendo, ao mesmo tempo, a sua infinitude longe do alcance humano. A pesquisa de Gödel sobre a teoria dos números e sobre a relatividade geral aponta para uma conclusão teológica semelhante: Deus não pode ser reduzido a um mero princípio do mundo natural. Talvez Gödel tenha considerado a si próprio como um sucessor de Leibniz, cuja crítica ao ateísmo de Spinoza abriu precedentes para boa parte do seu trabalho. Contudo, ao tentarmos precisar a intenção teológica por trás da pesquisa matemática de Gödel nos deparamos com inúmeras dificuldades.

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