Educação musical

É o historiador Paul Johnson quem dá a dica: Essays in Musical Analysis, de Donald Francis Tovey (1875-1940). Na opinião dele, o melhor livro sobre música da língua inglesa.

Quem sabe pode servir para pessoas como eu, ainda pouco educadas musicalmente (chegando lá aos poucos, espero…), iniciarem-se nos mistérios da apreciação profunda e entendida das grandes produções musicais do Ocidente.

9 comentários em “Educação musical

  1. Jo’,

    Esse texto me lembra um outro, “Rock: revolução e satanismo”. Engraçado. Li esse texto há quatro, cinco anos atrás, e quase parei de ouvir música por causa dele (principalmente quando Orlando Fedeli fala das baterias, etc.).

    Talvez fosse interessante glosar o texto de Paul Johnson sobre música clássica, publicado no site do CERC, comparando-o à frase que encima o texto de Fedeli: “O rock é uma expressão básica das paixões que, em grandes platéias, pode assumir características de culto ou até de adoração, contrários ao cristianismo.” (Cardeal Joseph Ratzinger)

    Falando bastante sério (e lembrando que já tivemos essa discussão, com você e o Julio defendendo o roque): não seria o caso de, como Platão na República, evitarmos o que pode prejudicar a juventude e embotar o sistema nervoso — poderíamos dizer aristotelicamente “Sensação” ou aparelho sensitivo, talvez — dos jovens?

    (Se o Martim quiser responder, defendendo também Dylan, Cohen e Waits, seria interessante. Mas é claro que ele não faria isso… faria?)

  2. Boa dica. Vou atrás desse livro do Tovey. Interessante ainda saber que o Congresso aprovou a reintrodução do ensino musical nas escolas. Quem informa sobre isso aí embaixo (“Beethoven”etc, 8º comentário) aponta pra necessidade de montar equação adequada, que permita equilíbrio didático. Um enorme desafio, imagino. Pra não falar na provável escassez de professores: a coisa terá que avançar aos poucos, parece.

  3. Sobre música e liturgia, comentário curtinho e interessante de C.S. Lewis em http://www.darrelldow.com/blog/?p=347.
    Sobre a antiga conversa platônica no que concerne a música, bom lembrar da polissemia na “República”. Vênia para a platitude, mas o que não é polissêmico ali é a tese de uma educação que sirva à ordem justa, à polis bem integrada (diriam mais tarde os cristãos) a um cosmos criado. A música faz parte da educação pra beleza, e convenhamos que em muitas veredas desse bom caminho, a partir da segunda metade do século passado, ouve-se bateria em headphones ou vozes como a de modestos hobbits entusiasmados com a estrada. Gradus ad Parnassum? Tem um plano em que importa dicutir a coisa tecnicamente; mas tem outro em que não. Abstraindo da discussão sobre música no templo (melhor aí, sem dúvida, remeter ao brilhante “Espírito da Liturgia” de B16!), nem todo congraçamento ritmado – de militares ou crianças em marcha (intuitivamente metrificando suas canções) a multidões embaladas por música pop em “Jornadas Mundiais da Juventude” – é coisa do capeta. E quem não se lembra do que há de sinistro fora do rock, tão bem descrito pelo esteta Mann no “Dr. Fausto”, ou exemplificado em epísódios de Berlioz ou Wagner? Ou em grupos contemporâneos de eruditos instrumentistas recriando esoterismos e sacanagens medievais? (Wagner, claro, mereceria uma discussão à parte; o homem de Bayreuth admirado por Cesar Franck, Bruckner, Gustavo Corção; inscrito com efeito mágico na poesia de Eliot, etc. Frisch weht der Wind…). Mas enfim: aquele bispo de Hipona lembrou que “só o amante é capaz de cantar”; frase que dá título a um outro texto curtinho, de Pieper agora, sobre música e silêncio. http://www.hottopos.com/mirand12/pieper.htm (reflexões 4 e 5)

  4. Bacana, Plácido. E a estrutura da Missa em si bemol também sustenta vigorosamente um “texto” teológico (mas tanta coisa em Bach…Lembro vagamente de alusão à cruz na Paixão segundo São Mateus, até na disposição das notas na partitura). Por falar em mensagens subliminares… Bom, o encarte da gravação do Leonhardt com a Petite Bande (uma gravação belíssima) traz várias observações interessantes a respeito. No link a seguir, essa pequena palestra sobre a missa do Bach como um “ícone” tem lá seu interesse também “: http://jan.ucc.nau.edu/~tas3/musicon.html

    E convergindo com a mensagem #2, mas de outro ângulo: http://newcriterion.com:81/archives/26/11/twenty-years-ago-today

  5. Adriano:

    Concordo com a frase do Papa: “pode assumir” características contrárias ao Cristianismo. Pode mesmo, mas não necessariamente o faz.

    É claro que o rock apela às paixões. Mas dado que as paixões não são más em si mesmas, mas apenas quando desordenadas, isso, de si, não é um ponto negativo. E não é só o rock que apela às paixões…

    Platão não só proibiria certos modos musicais, como toda poesia e teatro. Certamente, constatar que a arte tem efeitos no caráter e na personalidade é diferente de tirar conclusões universais sobre que tipo de música deve ou não ser ouvida.

  6. Platão proibiria o roque também, provavelmente. A questão, porém, não é saber o que Platão proibiria ou não, isso é bastante secundário. O fundamental é saber que efeitos os objetos podem produzir em nossa sensibilidade e se, devido a eles, não deveríamos ter um “índice” do que é bom ou mau.

    Porém, como “lassos liberais”, acho que o mais fácil é continuar ouvindo roque, etc.

  7. Grato, Plácido. Tenho o CD com as gravações (não me lembro se ela parou aí). Duas faixas me fizeram sulco na memória: a Shemá e o Salmo 22. Aliás, precisei comprá-lo uma segunda vez; o anterior foi emprestado a um grande amigo, o qual, argumentando de maneira irrespondível, me disse que ficaria de vez com ele, por ser abade e saber hebraico, duas condições que não preencho…Assim que tiver tempo, buscarei uma conexão melhor para acessar o video em seu link (o outro, do Jordi Savall, com certeza merece também o esforço). Por coincidência e muito a propósito, acabo de topar com um poema de Bruno Tolentino, reproduzido ao final da página do Pedro Sette Câmara linkada a seguir: http://pedrosette.com/2007/07/01/dez-anos-com-bruno-tolentino/

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