Entrevista com Rodrigo Gurgel

O crítico literário Rodrigo Gurgel causou polêmica uns dois meses atrás ao dar notas baixíssimas para alguns fortes candidatos do último prêmio Jabuti, entre eles Ana Maria Machado que, tendo recebido notas 10 e 9,83 dos outros dois jurados que compunham a comissão julgadora, recebeu 0,17 de Gurgel.

Esse resultado notável foi objeto de entrevistas dadas por Gurgel, como esta para a Folha (só para assinantes Folha/UOL).

Aproveito para a divulgar a entrevista dada por ele ao Ad Hominem, site do qual faço parte, em que o tema não é o Prêmio Jabuti, mas suas opiniões e convicções sobre o cenário cultural brasileiro e sobre a literatura de maneira geral.

24 comentários em “Entrevista com Rodrigo Gurgel

  1. Interessante o que ele diz. Não sei na literatura, mas no teatro, e ouço isso de gente do meio, a “camaradagem” hipócrita que Gurgel vem abordando em suas entrevistas também é comum.

    Uma ressalva, porém: acho que ele dá um tiro no pé quando fala de Olavo de Carvalho como uma referência. Mina sua credibilidade e, francamente, ele parece estar no ramo há tempo o bastante para não precisar desse tipo de mentor, e menos ainda para divulgá-lo em suas entrevistas. Dada a influência notoriamente nefasta do “olavismo”, visível a qualquer um, de qualquer ponto do espectro político, que tenha olhos de ver, acho que Gurgel poderia ter um pouco mais de discernimento quanto a isso.

    Um abraço a todos,
    Rodrigo.

  2. E o Rodrigo, meu xará, dando conselhos ao Gurgel: “Mina sua credibilidade”, “dando um tiro no próprio pé”. Ora, se ele é aluno do Olavo, por que deveria esconder?

  3. Ao meu xará:

    É, sua objeção faz sentido. Então, ele deveria tomar cuidado com os mestres que adota. O Olavo era um crítico interessante, há uns doze, quinze anos atrás, na época dos Imbecis Coletivos. Mas depois degenerou visivelmente, é o tipo de coisa que qualquer pessoa mais atenta percebe — ainda mais depois do True Outspeak. Os olavistas viraram repetidores de teorias de conspiração do que há de pior na direita americana, e são figuras folclóricas em qualquer fórum que se preze. E isso há tempo o bastante para o Gurgel ter notado, se quisesse.

    Um abraço,
    R.

  4. Ótima a entrevista de Gurgel.
    Grande Olavo.
    Você nunca será perdoado por ter demonstrado a esterilidade absurda do pensamento universitário(refiro-me às humanidades) no brasil. Nunquinha.

  5. Luiz, a decadência nas humanidades é um fenômeno antigo percebido por todos. Os bons professores da própria USP já o perceberam há décadas. Redescobrir a roda nunca é um grande feito. (Nos EUA essa picaretagem francesa, para ser mais específico, se restringe aos deptos. de literatura e ‘estudos culturais’.)

  6. “Você nunca será perdoado por ter demonstrado a esterilidade absurda do pensamento universitário(refiro-me às humanidades) no Brasil.”

    Só porque ele gosta de bater em duas ou três figuras fáceis da esquerda, isso não diz muito sobre o resto. Ser sensacionalista e usar ad homnems não o torna melhor do que ninguém.

    Todo teórico de conspiração procura desqualificar quem possa oferecer visões alternativas, pois só ele tem a “Verdade”. É evidente que é assim que ele convence seus discípulos de que só ele é filósofo num deserto intelectual. Uma pena que tantos jovens — e um ou outro mais velho — caiam nessa.

    Um abraço,
    R.

  7. Muita gente faz ressalvas a determinadas posições do Olavo de Carvalho. Admiradores e detratores, todos podem ter as suas divergências. Mas estas, por mais numerosas e acentuadas que fossem, não deveriam interferir nesta simples constatação: o entrevistado é, como disseram, aluno/admirador do Olavo e boa parte de sua formação intelectual é fruto dessa relação.

    Não tenho opinião sobre as “teorias da conspiração do que há de pior na direita americana” (hoje, sinceramente, pouco me interessariam), mas o caso é que essa “influência nefasta do olavismo” não impediu que Rodrigo Gurgel fosse considerado interessante mesmo por aqueles que usam essas expressões.
    Em suma: é possível aprender com o Olavo, assim como é possível divergir dele. O que não se pode é repreender o entrevistado por colocá-lo (justamente) como referência, por simples receio de “pegar mal”. Isso sim me parece um verdadeiro tiro no pé.

  8. Muito interessante a entrevista. Mas por ela fiquei sabendo do projeto do juiz Márcio Bragaglia e, honestamente, tenho minhas dúvidas em relação ao projeto; embora seja, de início, algo a se louvar, parece-me que acreditar que um preso (um assassino, por exemplo) vai se regenerar porque leu um Joyce ou um Dostoiévski é ingenuidade, acredito que eles deveriam estudar e trabalhar enquanto presos (até acredito mais no poder regenerador do trabalho, neste caso, do que do estudo). E sobre isso tenho um exemplo pessoal, já lecionei (aulas de português e literatura) em duas prisões aqui no Rio de Janeiro, convivi por um ano com gente que matou a sangue frio e por migalhas, e sabe o que eles querem? Trabalho. A maioria sabe ler (embora leem mal), sabem fazer as operações matemáticas básicas, e só querem um trabalho em que sejam tratados com dignidade, seja ele qual for. Ouvi de um assassino, depois dele ler o “Memórias Póstumas…” do Machado, algo como: “professor, muito bacana o livro, mas o que eu quero é pegar num batente e ser respeitado por isso, senão eu volto a matar”. É por isso que acho ingenuidade, embora seja uma ideia bonita, certamente. Não conheço o juiz Bragaglia, mas juizes no Brasil estão a léguas de distância da verdade que se passa em um sistema penitenciário, e geralmente atrapalham mais do que ajudam.

  9. Rodrigo anti-Olavo:
    Por favor: poderia dizer quais são os “sofisticados” pensadores de esquerda nos quais Olavo não bateu, preferindo os “fáceis” para me fazer “cair nessa”?
    Julio Lemos:
    As humanidades no brasil são um lixo. Alguns já sabiam (talvez você), mas eram do meio, dedicados ao estudo. Olavo abriu os olhos de alguns de fora para isso. Não tenho facebook e não quero conhecer os olavetes de lá. Podem ser ridículos. Mas não são a totalidade de seus leitores. E tal não significa a crença por parte de todos os leitores de Olavo, como Julio e Rodrigo parecem querer sugerir, de que o cara, como qualquer ser humano, não diga besteiras, não incorra em radicalismos, etc. Não é porque o Paulo Francis malhava a trinca foucault-derrida-lacan já nos anos setenta que “todos” sabiam que a universidade brasileira era um apêndice daquele país dado a socialismos. Olavo fez pessoas ALEM do círculo acadêmico prestarem atenção à questão. Interpretações equivocadas, saltos rápidos para conclusões – quando, na história do pensamento, isso não ocorreu? Não vai ser aqui nesse país de merda que isso não vai ocorrer. Mas tem gente que se acha uma espécie de censor intelectual da leitura alheia, inclusive se arrogando “ter feito mal” (você, Julio Lemos) ao divulgar os autores conservadores para os não iluminados, simplórios, despreparados… Pedir prudência é uma coisa. Querer diirigir a leitura é bem outra. E o pensamento – direita, esquerda ou centro – precisa, em algum momento, sair da academia e sujar-se na lama da realidade do homem, do trabalhador, do empresário, do político. Precisa significar algo fora de sua fonte original. Senão, é absolutamente inútil.

  10. “Qual é, na sua opinião, o papel da literatura na vida humana?

    A literatura pode servir como bom passatempo. Pode também desempenhar o papel de força inspiradora – são inúmeros os casos de escritores que, antes de começar o exercício diário de escrita, leem uma ou duas páginas de autores geniais. Mas ela tem duas funções primordiais. A primeira é permitir ao leitor que ele se abra à variedade da experiência humana; ou seja, reconstituir, na imaginação, os conflitos humanos, como Olavo de Carvalho sempre repete. Poucas pessoas têm a oportunidade, em suas vidas, de experimentar, por exemplo, situações em que uma extrema coragem é exigida. Refiro-me àquele momento em que você se torna herói ou covarde. Em termos morais, em termos de aperfeiçoamento da personalidade, trata-se de uma situação fundamental, que testa os limites do ser humano.”

    Só um problema, isso não é uma formulação do Olavo. Isso daí é o conceito de “imaginação moral” que o Lionel Trilling (um crítico literário e ensaísta LIBERAL) advogava.

    Aliás, a expressão “imaginação moral”, salvo engano, foi usada inicialmente pelo Burke — um Whig crítico da atuação imperial britânica, bom lembrar. Mas esse uso aí que o Rodrigo Gurgel atribui ao Olavo, é do Trilling.

  11. Complementando o que o Gabriel disse, a expressão é de Burke, mas a ideia de imaginação moral foi realmente desenvolvida e divulgada pelo norte-americano Russell Kirk, autor de The Conservative Mind e A Era de T. S. Eliot, entre outros.

    Um abraço,
    R.

  12. Luiz,

    “Por favor: poderia dizer quais são os “sofisticados” pensadores de esquerda nos quais Olavo não bateu, preferindo os “fáceis” para me fazer “cair nessa”?”

    O que você já leu do Olavo falando da Escola de Frankfurt?

  13. Alírio, Olavo apresentou uma aula sobre a dita Escola para os alunos do Seminário, além de observações pontuais sobre os seus principais nomes.

  14. P.S. para o Gabriel: A “imaginação moral” em Kirk remete a valores morais cuja base última é uma ordem transcendente. Daí o sucesso da ideia entre cristãos, por exemplo. Trilling, segundo uma pessoa a quem consultei e que conhece bem as bases do conceito de Kirk, não tem essa crença numa transcendência, embora se refira ao uso das obras da imaginação como meio para transmissão de valores.

    Um abraço,
    R.

  15. A Escola de Frankfurt é filho da velha gnose em linguagem freudomaxês. Bata na velha mãe e não haverá porque achar os filhos dignos de menção.

    Para um tiquinho de Olavo contra a Escola de Frankfurt basta o delicioso artigo “Celebrando Theodor Adorno”.

  16. Constantino(?), toma vergonha, rapá: Olavo é sim um grande mestre. Não fazer parte do lambe-me-lambe intelectual brasileiro é uma prova de vigor. Na balança das verdades: Olavo mais acertou que errou?

  17. Não, Constantino não. :-)

    Ele tem o mérito de ter posto o público brasileiro em contato com alguns bons autores então desconhecidos no Brasil, e tem sim alguns bons artigos (notadamente na fase dos anos 90). Concedo, eu mesmo me beneficiei disso. Mas ele tem o demérito de, ao mesmo tempo, ter inculcado bobagens a rodo no mesmo público, ter alimentando aqui um populismo de direita americano da pior espécie (tendo a alternativa de um conservadorismo muito melhor vindo do mesmo país), vampirizado jovens discípulos que ele desviou de uma formação universitária, ter posado de perseguido político quando isso nunca foi verdade, etc., etc. Há anos que ele é uma sombra do que era e do que poderia ter sido, tanto que brigou com vários dos antigos empregadores e aliados, desde jornais — invariavelmente acusados de ceder a “pressões políticas” — à própria editora que o publicava. Até trocar xingamentos com jovens no Orkut ele já fez — e isso em 2004-2005.

    Uma árvore de julga pelos frutos. Os dessa deixaram de ser bons já faz tempo e é uma pena que ainda haja quem não perceba a diferença.

    Um abraço,
    Rodrigo.

  18. Rodrigo,

    O outro, aquele que é dotado de vontade própria, não é uma projeção da minha mente. Todo conservadorismo ou mudas de conservadorismo que hoje buscam crescer nada seriam sem a voz do Olavo. Negar que houve pressões políticas contra o Olavo é de uma mentira atroz. Sobre os frutos, leiamos novamente o sermão da Sexagésima e identifiquemos os dominicanos da nossa era.

  19. Ele teve um papel no começo, não nego. Mas dizer que ele foi essencial não é verdade. Ele ajudou pela projeção que conseguiu na imprensa mainstream, mas não era tudo que existia.

    Quanto a pressões políticas, você se equivoca, desculpe. As perseguições são pura retórica — e duvido que você saiba sobre elas senão por ele mesmo, não é? Ele foi para O GLOBO, passou pela Folha, acho que esteve também no JB um tempo. Houvesse mesmo isso, ele não teria passado do primeiro jornal (aliás, o Constantino, que foi cria dele, escreve no Globo toda semana).

    Enfim, se o Olavo foi útil para você (e foi para mim), ótimo. Mas vá além dele. Há todo um horizonte intelectual maior — e menos maniqueísta — esperando. O problema dos chamados “olavetes” é acharem que só o que vem do guru é bom, e este alimenta essa impressão. Só ele é filósofo, só ele sabe que autores valem, só ele… Todos os outros são imbecis ou ignorantes. É uma mentalidade de seita, que infelizmente passa por conservadorismo. Mas, assim como William Buckley fez um dia com a John Birch Society (já ouviu falar dessa luta?), é hora dos conservadores eliminarem a “lunatic fringe”. E, infelizmente, o Olavo faz parte dela hoje.

    Mas, enfim, já falei o bastante.

    Um abraço,
    R.

  20. “Mas, assim como William Buckley fez um dia com a John Birch Society (já ouviu falar dessa luta?), é hora dos conservadores eliminarem a “lunatic fringe”.”

    E, se não puderem, cavem um buraco em volta dele. Não é?

  21. Por “eliminar”, entenda-se “proscrever”, romper relações publicamente, esclarecendo os motivos. Não reconhecer como um dos seus e deixar isso claro tanto quanto possível.

    Foi o que Buckley fez, gradual e firmemente. Não há ninguém que diga que ele errou nisso, muito pelo contrário.

    Um abraço,
    Rodrigo.


  22. Uma árvore de julga pelos frutos. Os dessa deixaram de ser bons já faz tempo e é uma pena que ainda haja quem não perceba a diferença.

    Esta frase se aplica mais à esta revista do que ao professor Olavo de Carvalho.

    Sem mais,

    Henrique Santos

  23. “Não compartilho da opinião de que seria bom jogar o inebriante vinho de uma nova ideologia goela abaixo dos jovens americanos. Pois, se invocarmos espíritos das grandes profundezas, será que poderão ser mandados de volta? O que precisamos transmitir é prudência política, não beligerância política. A ideologia é a doença, não a cura. Todas as ideologias, incluindo a ideologia da vox populi vox dei, são hostis à permanência da ordem, da liberdade e da justiça . Pois a ideologia é a política da irracionalidade apaixonada.” – Russell Kirk, “The Politics of Prudence.”

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