Hipocrisia pornográfica

Os homens de espírito costumam dizer o contrário do que repetimos sem perceber.

W. H. Auden recebia muitos poetas iniciantes.  Imediatamente lhes perguntava o que queriam com a sua poesia. Aqueles que diziam escrever porque teriam algo de muito importante a dizer eram desencorajados e mandados para casa, com péssimo humor. Aqueles que declaravam que apenas gostavam do som das palavras, dizia ele, tinham esperança. O mesmo dizia o metafísico Stephen Yablo em uma entrevista recente. A mera declaração de que a filosofia trata de questões importantes arruína o tom do ofício. “Brincar com ideias” constitui, em vez disso, a verdadeira atividade filosófica. (E, podemos imaginar, diz-se dessa forma despretensiosa as coisas importantes.)

Exageros à parte, essa intratabilidade dos gênios parece dizer algo sobre o perigo de declarar-se X ou Y.

* * *

Nesse sentido, um tema sociológico difícil, mas de muito interesse, é o da projeção exterior e discursiva de ideais de vida

Vamos decodificar já o que isso significa. Minha intenção é investigar a possibilidade de uma pessoa escapar, com proveito para as próprias virtudes, de toda projeção própria e alheia sobre o seu plano vital. Para isso, trabalharemos com um exemplo.

Suponha que José se identifique com o budismo. Imagine, no entanto, que esse processo de identificação tenha sido lento e quase imperceptível: nenhum dos amigos ou familiares de José o notaram, e em nenhum momento a conversão foi anunciada. Todos estes ignoram, em consequência, a sua afiliação espiritual. Mas suponha também que Heitor julgue identificar-se com o budismo. Heitor, contudo, fez questão de deixá-lo claro a todos os que o rodeiam de que é budista: seu perfil nas redes sociais, livros que carrega para todos os destinos, longas conversas e até um proselitismo, tudo concorre para que o seu título se evidencie.

A minha pergunta é:

(1) excluídos outros aspectos e considerações, quem está mais perto do ideal budista — José ou Heitor?

Trato aqui o predicado ‘budista’ como um ideal de vida, nos termos da nossa expressão central. Para cada ação de José/Heitor considerada, tão mais budista é essa ação quanto mais ela se aproxima do ideal de vida correspondente. Instâncias de aproximação desse ideal seriam e. g. meditar diariamente, manter o silêncio, dizer a verdade, ter compaixão efetiva por todos os seres, disciplinar cada movimento anímico e físico com senso de proporção e exatidão.  Cada vez que José/Heitor medita corretamente, José/Heitor se aproxima do ideal. E assim por diante.

Percebam que não é minha intenção falar do budismo, mas sim de qualquer ideal de vida. Ser mais concreto é apenas uma exigência conatural às circunstâncias da exposição.

A pergunta (1) não é fácil de ser respondida.  Não sabemos quem pratica melhor o budismo. Não encontramos nenhuma premissa explícita nesse sentido em nosso caso concreto. Sabemos apenas que José é discreto (sua afiliação espiritual é desconhecida de todos) e Heitor verbalizou e publicou a sua adesão. Sabemos implicitamente que a discrição de José é uma virtude aos olhos do ideal budista, e que a verbosidade pode ser um vício, a publicidade uma ocasião de vaidade e, portanto, de aprisionamento e sofrimento (um eco civil de samsara); mas com a pergunta (1) procurei desvincular qualquer consideração desse tipo.

Se a pergunta fosse:

(2) do ponto de vista de uma das virtudes humanas, a discrição, quem vive melhor o budismo, José ou Heitor?

Creio que a resposta seria fácil. O favorecido seria José. Tanto a verbosidade ou loquacidade quanto a ampla publicidade são prejudiciais ao desenvolvimento espiritual, dirão muitos; e é difícil refutar essa posição em qualquer tradição espiritual. Mesmo o “ateu discreto” (que pode ser, inclusive necessariamente, uma intersecção com o budista) é simpliciter superior, idealmente, ao ateu loquaz. A discrição é religiosamente indiferente, como toda virtude humana.

Na verdade, surpreendentemente a resposta a (2) nos dá uma pista para nossa resposta a (1). As considerações anteriores nos levam a sugerir que a discrição é uma virtude humana fundamental, e que portanto vale para qualquer adesão. Eu creio que isso seja verdade. Mas não pretendo utilizar essa premissa.

Nosso objeto material aqui é, como é fácil perceber, a projeção exterior e discursiva de um ideal de vida. José evita-a a todo custo, enquanto Heitor a exercita em todas as circunstâncias.

Heitor diz: “sou budista”. Como a vinculação foi feita como uma declaração, do ponto de vista da projeção exterior e discursiva, Heitor é ipso facto um budista independentemente de como leva a sua vida. Exteriormente, o budismo se resume a uma declaração. Essa declaração é feita a si mesmo e, em seguida, à sociedade, em todos os compartimentos frequentados pelo declarante. A repetição leva à associação de terceiro a terceiro diante do declarante: “Este é o Heitor, que é budista”. O mesmo passa a acontecer na ausência de Heitor: “ontem conheci um budista chamado Heitor” (projeção transitiva). E Heitor diz a si mesmo, com prazer: “sou budista”, fechando o ciclo como o iniciou, com uma projeção reflexiva.

Essa projeção cria uma imagem independente da ação de Heitor. Como o budismo assume a intenção e a exterioridade apenas material (que essencialmente dispensa a declaração), e não a declaração, essa imagem está em disjunção com o plano da ação. Se estive ontem com Heitor o dia todo e reparei que Heitor não meditou, posso pensar por um momento que Heitor é um budista relapso. Mas de modo algum deixarei de dizer: “Ontem encontrei Heitor, que me falou sobre o dharma” ou “Heitor vendeu-me esse troço bizarro de fazer oração”. Tudo o que reenvia Heitor ao budismo não escapa à esfera da declaração.

O que dizer de José diante do critério da projeção exterior e discursiva? Um conjunto vazio. José nunca me disse que é budista. Isso pode dificultar o meu entendimento sobre as suas ações (vi-o ontem entrando num quarto e saindo apenas depois de quarenta minutos, e não faço ideia do que ele foi fazer), mas a pergunta sobre o budismo de José não se coloca. Eu posso espontaneamente avaliar se José é compassivo, sincero, firme, corajoso, viril, sem qualquer associação com o budismo; posso inclusive dizer que José me lembra a descrição de um bodhisattva  que li numa obra do cânone na língua Pali, o sutra Ariyapariyesana, provavelmente o mais antigo dos relatos sobre a iluminação de Sidarta: o de um sábio que atingiu a iluminação. Mas em nenhum momento poderei dizer com certeza que José é budista. Julgo-o apenas pelas suas ações, e não pela sua adscrição a um ideal declarado. José corre todos os riscos — menos o de ser visto como um falso, ou mau budista. Risco que, como vimos, Heitor corre a todo momento.

Mas o maior risco que José evita é o escândalo. Vendo Heitor passar o dia longe da meditação ou, pior, chutando cachorros, gritando, trapaceando no jogo ou cortando a cabeça do Buda, pensarei — mesmo errando — que o budismo é um péssimo estímulo ao bom comportamento. Ou que todo budista é um hipócrita, se conheço apenas Heitor. Se José age dessa forma pouco exemplar, toda a censura se dirigirá a José; o budismo, ou qualquer outro ideal de vida, será salvo do escândalo.

Duas coisas ficam evidentes, pelo caso concreto examinado:

(3) a declaração, que cria a projeção exterior e discursiva, aumenta estrondosamente o risco de escândalo e corrupção social. Tudo que se associa ao budismo, diante do comportamento pouco exemplar de Heitor, ficará contaminado. E se o budismo faz parte das esferas de coesão social, isso é uma catástrofe;

(4) a estratégia de José e de Heitor são incomuns, constituindo dois extremos.

O risco de catástrofe que envolve a via de Heitor, apesar de extrema, indica um comportamento a evitar com todas as forças. O ideal dos ideais, em termos procedimentais, é a opção de José. Embora, caso descontextualizada, essa atitude beire o secretismo, a sua adoção cum grano salis é recomendável por todas as versões da ética de virtudes. É bastante provável que a atitude imprudente de Heitor corresponda a um desestímulo ‘evolutivo’, e que em escala macroscópica o beato esteja sempre destinado a — felizmente — desaparecer. Por isso todo manual de sabedoria, em todas as tradições, contém a recomendação forte, que atua como pressuposto da prudência: “Sê discreto”.

A história parece confirmar essa análise horizontal. Toda sociedade que se tornou pornograficamente hipócrita ou carola* afundou em poucas décadas.

——–

* Uso “carola” em sentido amplo (Caldas Aulete: “Lus.: Fanático, apaixonado por uma ideia, sistema ou religião”). Heitor é um exemplo teórico de carola total ou omnibeato: um indivíduo que vive do seu título de budista, liberal, ateu, defensor dos valores tradicionais, hippie, gay, direitista, ou qualquer ideal de vida que se imagine, corrompendo toda tentativa autêntica do seus pares autônomos de associar algum aspecto positivo, vital, à sua projeção. O carola total surgiu no seio do cristianismo, e é a versão efeminada e kitsch do censor romano. Mas a figura já não é mais monopólio cristão.

22 comentários em “Hipocrisia pornográfica

  1. Caro Julio,

    Discordo um pouco, embora a descrição seja uma bela virtude vejo que do Renascimento até hoje o discreto é figura controversa de hipocrisia e oportunismo, e para constatar isto basta ver La Rochefoucauld e Saint-Simon.
    Ao ler este texto fiquei na dúvida em como classificar Gandhi, São Francisco de Assis e Wittgenstein….. seriam eles carolas?

  2. Gandhi e SF não sei. Recentemente saiu uma nova bio do Mahatma. Diz-se que era pelo menos um fanático leve. Wittgenstein era peculiar e inteligente demais para ser carola, apesar de ‘crente’.

  3. É por estas e outras que eu digo que os cocainômanos, quase sempre discretos e secretos, são um mal social menor que os maconheiros de passeata.

  4. Não há o que discutir sobre de fato a discrição ser uma virtude e sobre o risco de escândalo quando alguém se coloca como cristão (e, pois, como um modelo do Cristo), mas o texto acaba por esquecer ou ignorar que declarar a fé em Cristo e anunciar o Evangelho é um dever do cristão.

    O cristianismo não é uma crença que se carrega consigo para dentro do quarto. Queiramos ou não, é uma religião proselitista, que pede para ser gritada dos telhados. Não se acende uma luz para guardá-la embaixo de uma mesa.

  5. Luiz, minha intenção não era falar do cristianismo. Não se trata, como você sabe, de uma revista apologética; há sempre o local apropriado para tratar dessas questões. Ainda assim, um dos aspectos mais concretos da carolice é um vício muito bem definido por um santo canonizado como “comentário espiritual em local ou momento não apropriados”, que é uma manifestação clara de insegurança, vaidade e orgulho. Esse é o esporte preferido do internauta cristão brasileiro — o que, infelizmente, prova que ele está muito longe da maturidade. Falta estudo.

  6. Apesar de ter sido batizado, feito crisma e frequentado muitas missas eu só me tornei católico verdadeiramente aos 32 anos, sendo que há mais de 10 não aparecia na Igreja. Fruto de muita reflexão e estudo o Catolicismo é pra mim mais evidente do que para os fiéis acostumados a liturgia. Eles ao professarem a fé sem estudo apenas seguem incapazes de ver o real sentido de Cristo. Os que propoem a estudar descobrem as logicas e nuances nesse processo.

    O adesismo não representa de forma alguma que tal pessoa seja ciente de toda logica metafisica de uma religiao, mas apenas que são adeptos – o fazem sem raciocinio e necessária reflexão.

  7. Julio, interessa-me a ideia de aplicar imperativos quaisquer ao próprio sujeito que os declara. Nesse sentido, não é indiscreta uma apologia à discrição, assim como é estrondosa uma apologia ao silêncio?

    Acaba me lembrando Platão escrevendo crítica à forma escrita no *Fedro*.

    Creio que há um problema quando se toma de maneira auto-referencial um juízo imperativo. O que lhe parece?

    Abraço!

  8. “é um vício muito bem definido por um santo canonizado como “comentário espiritual em local ou momento não apropriados””

    De que santo é a frase?

  9. Adriano, viva o paradoxo. A propósito, já leu “Saving Truth from Paradox” do Hartry Field (que esteve na USP ano passado)?

    Gosto da sua análise do análogo fraco ético do “paradoxo do mentiroso”. E de fato ela procede.

    Uma boa saída é sempre o “show, don’t tell”, que todos devem praticar. O problema é que a discrição é o único imperativo que não pode ser mostrado explicitamente. (E essa, para mim, é a raiz do paradoxo). Por isso meu texto não é uma exortação ou uma apologia, mas uma tentativa de mostrar o que não pode ser mostrado diretamente, evocando a experiência social, ética-exterior, do leitor. Ainda assim não se escapa do paradoxo completamente, e é uma pena que, às vezes, tenhamos de nos afastar do absoluto discreto de José, que quase sempre é mais eficaz.

    Exortar apenas indiretamente, e principalmente sem evocar títulos (“nós, católicos”, “nós, as feministas”, “nós, os gays”), como fazem os fanáticos, parece sintetizar a atitude discreta.

  10. Adriano, um PS. Quem não gosta de lógica formal, o melhor é não ler o que vem a seguir.

    Não é tão difícil imaginar como seria, informalmente, uma formalização deôntica do paradoxo da discrição em ética. Vou omitir todos os detalhes matemáticos.

    O mandamento em questão, “sê discreto”, constitui-se de um deôntico ‘obrigatório’ ou exortativo O[A], “é obrigatório que A”. A proposição A possui o conteúdo descritivo da discrição, o parâmetro segundo o qual se pode avaliar se uma ação B está ou não de acordo com a discrição. A(a, b, c, …) denota esse conteúdo. Cada uma das letras a, b, c, … é uma ação-modelo que se espera de uma pessoa discreta. Se uma ação é descrita como B(~a), por exemplo, temos o correspondente a uma violação da discrição. Como ~a é inconsistente com a, temos Incons(A(a), B(~a)), e assim por diante.

    É a teoria das virtudes que me diz se a ação “exortar à discrição” (chamo de e) está ou não incluída em A(a, b, c, …). Na teoria X, A(a, …, e, …) consiste num parâmetro de prudência que inclui essa exortação. Suponha que você escreva um texto com essa exortação. Segundo a teoria moral X, seu texto é discreto, porque consistente com A(a, …, e, …). Agora suponha que seu texto defende a teoria moral Y, na qual ~e (não exortação à discrição) pertence a A(a, …, ~e, …), além de conter essa exortação. Quem aceita a teoria Y é obrigado a dizer que o texto, com a exortação, é inconsistente. Como “proibido que e” equivale a “obrigado que ~e”, temos que O[A(a, …, ~e)] admite, como componente, Pe (“é proibido que e”). O defensor da teoria Y está obrigado a se abster de exortar à discrição, já que isso equivale a uma indiscrição.

    Em suma, é possível defender uma teoria da virtude da discrição que permita a sua exortação, mesmo indireta. É a teoria que eu defendo. Ela é consistente com o texto. Mas acredito que a exortação deve ser indireta, porque indiretamente uma exortação pode ser inconsistente com alguns dos elementos da própria teoria Y. (Não posso ter uma característica desejada, como evitar assuntos pessoais, e ao mesmo tempo exortar à discrição indiretamente dando a entender que sou, eu mesmo, muito discreto. Isso levaria a uma inconsistência implícita, por implicação. Formalmente isso fica mais claro, mas vou poupá-lo desse detalhe sórdido de tara deôntica.)

    A teoria X, exemplificada, é apenas uma espécie da família de teorias da virtude que permitem a exortação indireta, no espírito “show, don’t tell”, como modo de reforçar a própria teoria em termos pragmáticos. Vamos encontrar então muitas teorias recursivas, com X(O[A(a, b, …, X!)], O[B], …, P[A], …). Repare no X dentro de X. Isso nos levaria, dessa vez, ao paradoxo de Russell! Não conheço ninguém que tenha explorado isso no meio especializado. É possível que você tenha aberto um bom tema de estudo.

    Isso sempre me lembra aqueles gritos paternos, SILÊNCIO!, muito estrondosos, mas que são seguidos do silêncio desejado. (-:

  11. Felipe, minha vida pessoal e minhas adesões não têm qualquer relevância. Julgue o texto pelos seus próprios méritos — ou pela falta deles. (-:

  12. Talvez haja uma solução retórica, pensando-se na construção do próprio caráter, a que o orador tem de recorrer para que seja convincente. Assim, um orador que leve sua vida de maneira discreta e seja conhecido por ser discreto poderá servir de exemplo tácito no elogio da discrição.

    O que faz pensar que (de novo) talvez o que é um problema em lógica deôntica não o é em retórica.

    Há um outro ponto que me incomoda bastante mais e que bate de frente com a própria máxima que você defende aqui.

    Milagres e ressurreições não são eventos que simbolizem grande discrição por parte de quem os realiza. Exigir que a pólis o custeie pelo resto de sua vida como punição a sua impiedade também não mostra grande discrição; assim como beber cicuta em decorrência dessa petulante indiscrição. Mesmo fazer-se de modelo meditativo é algo vaidoso e indiscreto. Mesmo aquele que dizia que a filosofia era lugar de vaidosos que querem saber demais, que melhor fariam em abandonar sua família e o século, vivendo reclusos e em oração…; bem, (i) por que diabos seria isso imitar a Cristo? e, mais importante, (ii) não é indiscreto e algo vaidoso querer fazer circular um livro com tais máximas, mesmo que anonimamente? Afinal, a supressão máxima do ego, maximamente discreto, não é ela inexequível e algo tola? Mesmo a criação ou o Big Bang, o existir, não é tudo isso uma enorme indiscrição?

    Por que a discrição é então uma virtude? Não será parte, no fundo, de uma etiqueta pó de arroz?

  13. Adriano, só sei responder a isso com a máxima: est modus in rebus.

    A outra máxima é que não existe raciocínio genial capaz de obscurecer uma evidência moral cuja ‘memória’ social recua a tempos imemoriais.

    Em termos biológicos,* a discrição é uma aquisição evolutiva, e não há argumento que a possa colocar abaixo.

    * Escreveu o próprio MacIntyre em 1999: “I now judge that I was in error in supposing an ethics independent of biology to be possible”.

  14. Muito bom, Julio. Acho que, no fundo, você tem razão. Aristóteles, por exemplo, não inventa virtudes, ele as encontra algo solidificadas no convívio social e as descreve. Talvez haja mesmo um dever natural cristalizado nas ações humanas que se orientam para o bem. Só não sei se a discrição é uma virtude, um valor, ou seja lá o que for.

    Agradeço a indicação do livro, que, aliás, tem uma capa fantástica e está com um desconto fantástico na Amazon (« http://www.amazon.com/dp/0199230757 »). É uma indicação de que se o deve comprar, hehe.

    Só consigo pensar numa expressão: food for thought. Nada mais nebuloso que o “dever-ser” e a velha questão de antropologia pragmática, “o que fazer?”.

    É isso. Um abraço!

  15. Julio,
    no comentário 5 você diz que sua intenção não era falar do cristianismo, mas no texto você diz:”Percebam que não é minha intenção falar do budismo, mas sim de qualquer ideal de vida.” Ora, ou o cristianismo não é um ideal de vida ou seu argumento simplesmente não serve para o cristianismo, o que o enfraquece muito, especialmente tendo em vista o público do site.
    Quanto à discrição no cristianismo, embora haja sim, ordem para “pregar sobre os telhados” (Mateus 10:27), também há a ordem de “fechar os quartos para orar em secreto” e para que “a mão esquerda não saiba o que deu a direita” (Mateus 6). Creio que o proselitismo indiscreto do cristianismo vai contra a vaidade dos homens na medida em que os cristãos devem expor suas cabeças em busca da conversão dos outros mas fugir das demonstrações de piedade autopromocionais. Assim, quem ora em público se autopromove, mas quem prega em público promove a Cristo expondo-se e, portanto, negando-se.
    Se os cristãos fazem isso direito é outra coisa…

  16. Luiz, minha intenção (a expressa no texto) não era falar de nenhum ideal de vida *em particular*. Mas de resto você tem razão no que disse a respeito do cristianismo.

  17. Breve comentário lateral sobre o primeiro e segundo comentário: “custou muito dinheiro manter Gandhi na pobreza.” (Paul Johnson, Modern Times).

    Ícone absoluto da discrição mundial no século XX é o velho Salinger que passou os últimos 45 anos da vida ecrevendo para ele e Deus.

  18. Um outro comentário sobre a cultura hipster: por que ficar só trocando figurinhas com comparsas da mesma esfera? Padre Anchieta foi alfabetizar índios. Wittgenstein foi ensinar crianças “em uma remota aldeia da alta Álstria” (Paul Johnson, Heroes). Há uma vasta gama de estratos sócio-culturais inferiores esperando por alguma iluminação. Talvez a gratificação seja maior que a de trocar figurinhas, e raspe um bom naco das crostas de tédio acumuladas.

  19. Vinícius, de fato é gratificante e funciona. Não é à toa que muitas empresas exigem no CV o trabalho social voluntário — que existe fora das conotações politicamente corretas e demagógicas.

    E mil loas a Salinger.

  20. É, como foi já comentado: a conduta de Heitor carrega maior risco de escândalo, que é um mal porque a sociedade inevitavelmente entenderá os atos escandalosos como inerentes a todos os “rótulos” que carrega o escandaloso – é uma má publicidade. Mas se a imagem pública de um ideal é um fator importante, este ideal deve ser manifestado de alguma maneira, implícita ou explícita. Assim, deve haver um equilíbrio entre a manifestação de um ideal de vida e sua prática discreta.

    Assim, o texto examina “pela metade”, já que caberia um texto análogo que visse a conduta de um “Heitor-2″ como segura e corajosa e a de um “João-2″ como envergonhada e covarde.

    Qual será este equilíbrio? Isto não deveria ser óbvio, bom senso?

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