It’s gobbledygook

Would you really compare an education in modernist architecture to a cult indoctrination?
Nikos Salingaros: Yes. The groundwork was laid out brilliantly by both Frank Lloyd Wright and by Gropius. They studied cult techniques in order to use them to promote their sort of architectural education. The Bauhaus was a hotbed of cultish affinity. There were several distinct cults there — really weird cults, which is the reason the government finally closed them down (extrato de uma entrevista cujo link, só por chatice, vai só lá no final).

Salingaros é uma figura excêntrica: um matemático da Universidade do Texas nascido na Austrália, PhD. em física teórica pela Universidade de Nova York. É autor do best-seller Anti-architecture and Deconstruction e membro da International College of Traditional Practitioners, apadronado pelo Príncipe Charles, e um grande autor na área do urbanismo. Um homem imerso no mundo da ciência-da-computação-tecnologia-biologia-física que, de repente, após travar conhecimento com o teórico da arquitetura Christopher Alexander, autor do conhecido The Nature of Order, resolve… travar uma ácida batalha de palavras contra o modernismo arquitetônico. 

Não é necessário concordar com Nikos Salingaros. Não é fácil saber se ele está certo – embora o seja perceber que Le Corbusier era um cara meio tantã, um agorafóbico que fugia o tempo todo de pessoas e queria acabar com a agitação das ruas.

A sua preocupação é com algo análogo à sustentabilidade, mas com um acento meio, digamos, reacionário na dignidade do homem… O sujeito é uma mistura de Gaudi com Turing com Gomez Dávila (ao que parece, por esse motivo, troquei uns e-mails com ele há uns 5 anos).

Confiram a primeira parte da entrevista cheia de wit e condenações sumárias e vejam se é possível escapar ao contágio desse estranho vírus. 

Ah, e aproveitem para conferir (não com tiros) o site pessoal de Nikos Salingaros.

4 comentários em “It’s gobbledygook

  1. Baixei o “Manifesto Contra as Vanguardas” mas não o li ainda. Parece razoável, tomara que não seja simplista, pois há uma história cheia de revezes na trajetória VkhUTEMAS-Bauhaus-hfg-esdi/Chicago, que pode ser resumida nas figuras de El Lissitzky, Gropius, Max Bill / Maldonado, Flusser / Gui Bonsiepe. Isto é, sempre houve o debate entre o racionalismo geométrico e o funcionalismo orgânico. Quem vê de fora acha, por exemplo, para falar de uma área que entendo, que a família tipográfica universal de Herbert Bayer (depois conhecida como Bauhaus) segue os mesmos princípios formais da Univers de Adrian Frutiger. Não, em Frutiger há uma correção do modernismo.

  2. Propor que a Bauhaus tenha sido fechada “pelo governo” por causa dos “cultos estranhos” que nela se passavam é uma ignomínia, uma injustiça muito grave com o que foi a Bauhaus e a prova cabal de que a pessoa que fez tal afirmação não é minimamente séria. Esta afirmação é uma completa inversão de valores. Ela busca transformar a vítima em ré. Em nome da verdade histórica inerente aos fatos, a Bauhaus foi fechada não por um “governo”, mas pelo governo nazista (aquele do holocausto, entre outras misérias), cuja ideologia se contrapunha aos valores humanistas da maior parte da comunidade bauhausiana. (Seriam esses valores e princípios os tais “cultos estranhos” de que fala o entrevistado?) É, bem a próposito, preocupante o estrago intelectual que essas seguidas levas de “neo-especialistas” em design são capazes de fazer ao campo. Este senhor ouviu o galo cantar (ao que consta pela voz do Christopher Alexander…), não sabe onde e aí está, todo prosa, pontificando como um profundo especialista em questões tão fulcrais da história, teoria e crítica do design. É preciso resgatar a noção de clareza, sentido, nexo e mérito (coisas retrógradas do modernismo?). Saudações fraternais a todos! E saudações muito especialmente carinhosas ao nosso admirável e prezadíssimo José Luís Bomfim, comentarista brilhante que me precedeu, de cuja extraordinária e genuína inteligência e amizade eu, por felicidade, tenho a honra de privar!

  3. 1) Entrevista onde não são explicitados pressupostos teóricos, mas na qual André Corrêa do Lago veicula pontos de vista seus com relação ao modernismo, Le Corbusier e por tabela Niemeyer inclusive: http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup320118,0.htm

    2) Não é nem de longe a minha praia, mas arrisco dizer que é possível identificar, em muito da arquitetura moderna (ie, aquela que no século XX tem seu apogeu e limite em Brasília; portanto historicamente algo que já cumpriu um ciclo) tanto a expressão de um mundo pouco “poroso” ao espírito, quanto possibilidades de reação a esse fechamento. De maneira conscientemente ingênua, assim, recorro a Alceu Amoroso Lima, naquela que talvez seja sua melhor fase, a dos anos 20/30: ele observa algo nesse mesmo sentido em pequeno ensaio daquela época sobre o que chamava de “Drama da Beleza”, numa civilização que “dissociou esses aspectos fundamentais das coisas” (a saber, que freqüentemente aparta beleza de bem e de verdade). 2a) Trata-se de resenha de livro do escultor e crítico de arte inglês Eric Gill, espécie de “Chesterton da arte moderna” segundo AAL, “opositor do industrialismo, da mecanização, da ´mass production’ e (…) renovador das artes manuais, do valor do homem, (…) do ‘craftsmanship´.” A um conceito de moderno demasiado facilmente colado a uma concepção “utilitária, amoral, naturalista, irresponsável, socializada” da vida”, Gill contrapõe a noção de um modernismo aceitável mesmo pelos que estão “em contradição com essa realidade ´filosófica´ do nosso tempo”. Algo que, aponta AAL, vem ao encontro desse drama de “exprimir uma filosofia ´material e espiritual´ da vida (como é a nossa), em formas que são o produto de uma concepção puramente ´material´ da mesma e portanto unilateral.” Opor-se ao “estilo moderno”, segue AAL, “por simples oposição ao ‘espírito do mundo moderno´”, pode resultar em caricaturas como as do neo-gótico ou do mourisco na transição dos séculos XIX para XX (por muito que gostemos, sei lá, do Mosteiro de São Bento em São Paulo, as exceções ou preferências associadas a memórias afetivas não fazem a regra). Ou resulta ainda em certas outras aberrações contemporâneas. 2c) O que Gill proporia, segundo AAL, seria um tratamento do belo que decorresse necessariamente do bom e do verdadeiro: no “drama estético” imposto por uma “civilização anti-espiritual”, é “preciso que espiritualizemos a beleza, sem com isso artificializá-la, arrancando-a ao seu meio e ao seu tempo”. De que maneira? Partindo antes de mais nada da função do edifício, por exemplo, mais do que do seu exterior; “de tal modo que a beleza venha ´de dentro para fora como o templo grego e a catedral medieval’ “. Segue o Eric Gill: “look after goodness and truth, and beauty will take care of herself”. Pergunta mesmo: independentemente de seu grau de afinidade com o que precede, será que os funcionalismos de Corbusier e Gropius ou em outra vertente o de Frank Lloyd Wright têm a origem de sua legitimidade social associada a algum tipo de “cult indoctrination”? Isso não é esquisitice ou artifício retórico do Salingaros? 3) A idéia do EG, enfim e genericamente, parece bastante razoável: first things first, and “beuty will take care of itself” – ainda que ele próprio não lhe tenha sido fiel no que concerne a sua conturbada vida pessoal. Verbete na wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Eric_Gill

  4. Em tempo: estando de férias, dei uma passada diagonal pelo site do Salingaros e pelo verbete da wikipedia sobre ele. Insuficiente para formar juízo de valor sobre tema complexo (melhor ouvir quem entende do riscado), mas parece haver bom senso nas suas idéias a respeito de urbanismo, independente da maneira muito peculiar que escolhe para dissertar sobre arquitetura moderna.

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