Justiça Social VS. Elitismo Linguístico

Vivemos num mundo desigual. Uns têm tudo, outros nada. Uns sabem muito, outros muito pouco.

Se valorizamos a justiça social, precisamos corrigir tais desigualdades. No caso do dinheiro, é fácil: basta tirar de quem tem e dar a quem não tem. Se isso fosse feito até igualar as rendas, chegaríamos à utopia.

Com o conhecimento, o problema é mais difícil, pois não é algo que possa ser tirado dos cultos e dado aos ignorantes. Além disso, é muito difícil, até impossível, dar a todos uma educação excelente (e cabe perguntar: “excelente” segundo os valores de quem? Por acaso existem verdades superiores e inferiores?). Por isso, a melhor saída é, obviamente, obrigar os mais eruditos a falar e escrever (e portanto pensar) como se fossem semi-analfabetos.

É com o bem-estar social e a cura das desigualdades em mente que autoridades locais inglesas vêm proibindo o uso de diversas expressões latinas elitistas, de difícil compreensão, como vice-versa, via e et cetera, por seus funcionários.

Alguns professores de línguas clássicas, decerto infectados pelo elitismo esnobe vitoriano e preconceitos medievais, protestaram contra a medida. Mas os que a defendem contam com bons argumentos: muitos habitantes da Inglaterra têm o inglês como segunda língua; outros, apesar de ingleses, mal sabem ler, e não dominam as nuances afetadas da língua latina. É muito provável que confundam a expressão latina eg (“por exemplo”), com o termo inglês egg (“ovo”), ainda mais dada a semelhança de sentido entre os dois.

Leia mais sobre essa importante vitória do povo inglês contra a opressão lingüística aqui.

9 comentários em “Justiça Social VS. Elitismo Linguístico

  1. Enquanto isso, no mundo lusófono, o novo acordo ortográfica põe a tradição da língua de joelhos ante a mediocracia da uniformidade.

  2. Rapaz, vai por mim, que há tempos escrevo para gentes d’África: não ironiza. Não ironiza que em África não entendem, e o ironizado ainda toma seu texto como argumento.

  3. É a Grã-Bretanha cada ano menor. O grau de imbecilização é inversamente proporcional à sua importância.

    O mundo brasilianiza-se rapida e inexoravelmente.

  4. ” … a melhor saída é, obviamente, obrigar os mais eruditos a falar e escrever (e portanto pensar) como se fossem semi-analfabetos.” Ótima sugestão! EU TOPU KIKIKIKIKIKIKIKI. Me lembra da “proposta modesta” de Swift: A solução para pobreza e fome seria mandar os ricos comerem os pobres.

  5. No Brasil é preciso urgentemente uma reforma destas na linguagem jurídica. Imagine as dificuldades do advogado para explicar a seu cliente que na fase da pronúncia vige o princípio do “in dubio pro societate”. Aliás já vêm fazendo esta reforma: o novo Código Civil (2002) é muito mais moderninho e “popular” que o anterior (1916). É lamentável que tenham substituído a expressão “loucos de todo gênero” por “portadores de doença mental.” É o politicamente correto invadindo a área. Preferia “loucos de todo gênero.”

  6. Mais dia, menos dia, essa moda vai pegar aqui. O livro “preconceito linguístico” de Marcos Bagno que diz, entre outras coisas, que a norma padrão é coisa “da zelite”.

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