Martin Scorsese é uma farsa?

Pelo menos é o que pergunta este texto do The League of Ordinary Gentlemen. Gosto muito de seus filmes – tenho especial predileção por A Época da Inocência (1993), geralmente subestimado em relação aos já comentados Taxi Driver e Touro Indomável – mas é evidente que Scorsese perdeu um pouco a mão nos últimos anos. Agora, com o lançamento de Shutter Island, a imprensa americana, que antes o considerava como a salvação do cinema, agora resolveu fazer a campanha de difamação, própria daqueles que pensam “vamos cuspir no prato em que comemos”. Quem estava certo era William Faulkner: “Temos que tratar o mundo como se ele fosse uma mulher muito mimada – ou seja, à base de palmadas”.

6 comentários em “Martin Scorsese é uma farsa?

  1. Não dá para levar a sério um artigo em que o cara escreve que o Scorsese nunca foi grande coisa para logo dizer que chamá-lo de maior diretor americano vivo é um insulto a Sofia Coppola e Sam Mendes (!!!!). Ou dizer que “Touro Indomável” não é tão melhor assim do que “Rocky”.

    Deixando de lado a polêmica vazia. Sim, o Scorsese não é o mesmo pelo menos desde “Cassino” (ah, Martim, concordo quanto “A Época da Inocência”; acho tremenda injustiçado também “O Rei da Comédia”, filmaço). Mas acho bacana que ele continue fazendo filmes, até porque um Scorsese meia-boca é melhor que muita coisa que concorre ao Oscar. “O Aviador”, “Os infiltrados” e “Gangues de Nova York” são bem medianos, mas alguém aqui prefere “Crash” a eles? Ou “O Senhor dos Anéis”? Ou “Gladiador”?

    A vantagem é que, mesmo com o Scorsese fazendo filmes, podemos continuar vendo as novidades dos irmãos Coen, de Jim Jarmusch, de Noah Baumbach, de Paul Thomas Anderson, esses sim ainda em forma.

  2. “…mas alguém aqui prefere ‘Crash’ a eles? Ou ‘O Senhor dos Anéis’? Ou ‘Gladiador’?”

    Sim, eu.
    “Crash” e “O Senhor dos Anéis” (especialmente este último) são melhores que a maior parte dos últimos filmes do Scorsese.

  3. “O Aviador” eu não assisti, mas vi “Os infiltrados” e “Gangues de Nova York”. Gostei razoavelmente dos dois, um pouco mais do segundo.

    Só que também para mim é evidente que “O Senhor dos Anéis” é muito melhor do que qualquer daqueles dois. Mas enfim, como se disse aqui, tem gosto para tudo.

    (“Gladiador”, ok, eu concordo que é descartável.)

  4. Mas Scorsese nunca foi grande coisa mesmo. É uma enciclopédia do cinema, não exatamente um grande artista. Trata-se de um daqueles cineastas cinéfilos, um sujeito que viu filmes demais. Quase todos os que dirigiu são mixórdias de referências. Scorsese imita muita gente, de John Ford a cineastas menores. Em Taxi Driver – um filme, aliás, cujas virtudes se devem mais ao roteirista Paul Schrader do que ao diretor, Scorsese faz uma breve ponta, quando aparece como o marido traído no banco de trás do táxi. Ele mostra um prédio de apartamentos ao motorista interpretado por De Niro, perguntando, “See the woman in the window?” The Woman in the Window, para quem não sabe, é um excelente filme noir de 1944, dirigido por Fritz Lang e estrelado por Edward G. Robinson e Joan Bennett. Também amo esse filme e adoraria sentar com Scorsese para conversar sobre a Era Dourada de Hollywood, mas…

    Porquanto mais autênticos, os filmes adorados por Scorsese costumam ser melhores do que os dele. Para citar mais um exemplo, Touro Indomável (que, realmente, não é tão melhor assim do que Rocky) toma vários clássicos de boxe como referência. Um deles é o excelente The Set Up (1949), estrelado por um brilhante Robert Ryan e no qual o mundo das lutas serve como microcosmo da cidade. Outra referência, no entanto, é o péssimo Body and Soul (1947 ou 48). Esse só tem uma virtude: a belíssima fotografia de James Wong Howe (quase me esqueço do nome do chinês).

    Scorsese não virou meia-boca; ele é um diretor meia-boca por definição. Numa coisa, porém, o sr. Jonas tem razão. Apesar dos defeitos, Scorsese é melhor – e muito – do que maioria do que se produz em Hollywood hoje. “Gangs of New York” pode ser inferior a John Ford, “O Aviador” pode ser inferior a “Citizen Kane”, “The Departed” parece ser inferior ao original de Hong Kong; mas todos são bons filmes. Já Sofia Coppola, Sam Mendes, Crash, O Senhor dos Anéis. Tudo isso é lixo. Gladiador, então, é uma ofensa a quem quer que tenha visto os grandes épicos dos anos 50 e 60. Não poderia ser diferente. Dirigido por aquele filisteu chamado Ridley Scott.

    Por fim, a intrigante trama de Shutter Island (novo filme de Scorsese, que aterrissa aqui em março), com seu clima de mistério e suspense, conseguiu chamar minha atenção. Adaptação de um romance de Dennis Lehane (bom artífice de estórias), deve ser no mínimo interessante.

    Saudações,

  5. Pingback: A opção preferencial pela loucura | Dicta & Contradicta

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