Melhores do ano – parte I

A Dicta publicará entre hoje e amanhã uma seleção de melhores livros que você pode querer como presente de Natal. O primeiro a indicar é Túlio Borges, o enfant-terrible de Brasília, um de nossos colaboradores mais rigorosos e, por isso mesmo, mais confiáveis.

Por Túlio Borges

From Gibbon to Auden: Essays on the Classical Tradition (Oxford University Press, 2009), do exímio classicista G. W. Bowersock, é um belíssimo livro – a começar pela pintura de Hubert Robert que adorna a jaqueta. De Gibbon a Auden, passando por Berlioz, Burckhardt e Cavafy. Os vários ensaios são elegantes, eruditos e escrupulosos; e têm um tema em comum: as diversas maneiras pelas quais o espírito da Antigüidade Greco-Romana tem animado o Ocidente nos últimos séculos. Scholarship of the highest order! Um magnífico resumo da carreira de Bowersock, bem como uma estimulante introdução à sua obra.

Se Bowersock representa o ideal do estudioso, George Steiner é o polímata por excelência. Está no auge de sua forma na coletânea de ensaios George Steiner at the New Yorker (New Directions, 2009). Talvez a seleção se concentre demasiado na Europa Central, mas ainda assim dá ao leitor mais do que ele aprenderia em vários anos de um curso universitário nas Humanidades ou Ciências Sociais. Foi-se o tempo em que os docentes tinham algo inteligente a dizer sobre Anton von Webern e Viena, a culpabilidade de Albert Speer, a traição de Anthony Blunt, a sagacidade de Karl Kraus, a correspondência entre Walter Benjamin e Gershom Scholem ou a obra de Alexander Soljenítsin.

Por falar nisso, finalmente consegui terminar a leitura dos três volumes que compõem a edição americana de O Arquipélago Gulag, republicada em 2007 pela Harper Perennial. Um livro monumental. Soljenítsin sobreviveu ao inferno e tornou-se um homem de assustadora sabedoria. Em sua magnum opus, ele radiografa a alma humana, demonstrando indignação diante da estupidez e perfídia de que somos capazes. Só Tucídides – embora com menos paixão – demonstra semelhante competência no exame da natureza do homem.

Ainda em meados de 2009, foi-me enviada uma review copy de Disturbing Revelation: Leo Strauss, Eric Voegelin and the Bible (University of Missouri Press, 2009), de John J. Ranieri. O subtítulo diz tudo. Strauss e Voegelin, dois gigantes da filosofia política que travaram um dos diálogos mais fascinantes da história do pensamento, examinam um dos textos constitutivos da civilização ocidental. E Ranieri, autor de aguda sensibilidade, os coloca diante de outra imponente presença intelectual, a de René Girard. O livro deve sair no Brasil pela É Realizações.

Por fim, pude ler algumas extraordinárias biografias em 2010, como a de Whittaker Chambers, escrita há mais de uma década por Sam Tanenhaus, ou aquela de V.S. Naipaul, publicada em 2008 por Patrick French. Não obstante, devo destacar George Kennan: A Writing Life (ISI Books, 2008), de Lee Congdon. Trata-se de uma apropriada homenagem ao “maior americano do século XX”, o famoso diplomata cuja verdadeira vocação era a literatura e um homem de alma européia, que adorava o século XVIII. O livro de Congdon é tão bom que merece figurar ao lado da mais famosa biografia de Kennan, publicada um ano antes por John Lukacs.

Um comentário em “Melhores do ano – parte I

  1. Putz, o arquipelágo Gulag em inglês é muito pedantismo, só falta ler em russo. A edição em lingua portuguesa é muito bem traduzida e acha fácil, fácil em sebo.
    E outra coisa não é aquilo tudo, dá um sono lascado.

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