Música e moralidade, por Roger Scruton

Artigo de Roger Scruton sobre um de seus temas favoritos: a música. Fiquei feliz em vê-lo tratar da música pop (no sentido mais abrangente: tudo aquilo que não é erudito) com mais nuanças. Ela não compõe um bloco homogêneo que possa ser apenas aceito ou condenado como um todo; há distinções e análise dos diferentes efeitos e intenções de cada estilo. Não esperava vê-lo esboçar simpatia pelos Beatles e pelo Elvis!

Ainda assim, acho que outras considerações importantes não são feitas, por exemplo citar que nem toda música pop é feita para dançar. O que é, aliás, uma bom indagação: para quê servem, e como devem ser ouvidos (se é que há um modo próprio de cada tipo), os diferentes estilos de música popular?

9 comentários em “Música e moralidade, por Roger Scruton

  1. As elsewhere, Scruton lamenta a atmosfera de relativismo cultural em que nos encontramos. Nesse e em outros textos ( o livro Understanding Music, e.g.), ele propõe uma salutar investigação/especulação filosófica. O filme “Why Beauty Matters” (http://www.youtube.com/watch?v=Tr6NlPDMSIM) é outro bom exemplo.

    Quanto aos Beatles, porém, eu fico com o incomparável William F. Buckley Jr. : “The Beatles are not merely awful. They are so unbelievably horrible, so appallingly unmusical, so dogmatically insensitive to the magic of the art, that they qualify as crowned heads of antimusic.”

    Bravo, Bill!!

  2. Pingback: Música e moralidade, por Roger Scruton | Dicta & Contradicta – musica

  3. Não vi nada de real na refutação do ritmo e da melodia no pop. Para mim, o autor não tem a mesma sensação que outras pessoas ao escutar Lady Gaga, por isso a crítica. Mas em muitos pontos o autor está coberto de razão, principalmente quando explica que no pacote “música” uma carga imensa de cultura emerge.

  4. Opa, erro meu. Corrigido.

    Quanto aos Beatles, não sou fã, e eles têm de fato algumas músicas insuportáveis, mas gosto de outras. Twist and Shout (que não é deles, mas a versão deles é a melhor) é um belo exemplo de rock n roll clássico, anárquico e alegre. Here Comes the Sun é muito boa também; When I’m sixty four é adorável. Enfim, sejamos justos: os Beatles produziram muita coisa boa, sem falar na importância central deles para o desenvolvimento da música pop.

  5. A propósto dos Beatles achei excepcional o artigo “O Leilão do Sargento Pimenta” de Martim Vasques, na última Dicta. Precisam traduzi-lo e enviá-lo a Paul MacCartney ou ao maior biógrafo dos Beatles e de John Lennon, Philip Norman.

    Talvez John Lennon, no fim, concordasse com William Bucley. Nos seus últimos anos, em reclusão, confessou a George Martim que, se pudesse, regravaria todas as músicas dos Beatles, pois nenhuma, sem exceção, prestava.

    Tremenda injustiça, os Beatles são o ponto culminante da cação pop, principalmente se pensarmos nos dois últimos discos. Não é comum encontrar na canção pop frases tão maravilhosas como “Because the sky is blue, it makes me cry”. É digna da melhor poesia.

  6. Ah, os Beatles. É possível que sejam, mesmo, culminância da canção pop como a conhecemos hoje, na vertente “com”, não “atomizante”, para recuperar as noções do Scruton no post. Gostando ou achando horrível, é ponto pacífico, sim, que eles ajudam a definir o que seja pop, associando melodias e arranjos frequentemente muito bons a todo um aparato de imagens e sinais midiáticos muito excitantes e nada “platônicos”, por assim dizer. No que têm de melhor, arriscaria mesmo apontar que eles e seus produtores também ajuda(ra)m a manter vivas em circuito de massas muitas das formas tradicionais da música popular ocidental, vestindo-as com os recursos tornados possíveis pelas técnicas de gravação do pós-II Guerra. Memória de ordem coreografada que chegou até o “dance hall ” desfeito a partir dos anos 30, inscrita na popularmente burguesa beat music dos anos 50/60. Eu que gosto não vou atirar a primeira pedra; e até arriscaria também que o melhor dos Beatles foge ao esquema Duschamps/Craig, isso de “cativar a imaginação” (pois é, escravizá-la mesmo, atomizá-la) e no seu próprio registro se junta a quem acena para o belo necessário. Sobre este, mais e bem melhor na excelente primeira parte do vídeo linkado no primeiro comentário.

  7. Lá pela terceira parte do video, acompanhando o Scruton na sua reflexão, me ocorreu que, de maneira geral, se a música pop trabalhada em estudio pode ter sentido inclusivo, apontar para o belo, etc, é talvez sobretudo porque vivemos em ambiente de feiura e barulho de tal ordem que a amplificação e o ritmo acentuadíssimo chegam “atenuados” a nossa audição já viciada. E mais: além da feiura e do barulho, há o modo de administração do tempo. Um dos pontos que ele aflora no texto linkado no post é o da dificuldade que temos para seguir, por exemplo, a evolução de um tema em obra mais elaborada. Confere. E tenho a impressão de que quanto mais nos afastamos (para trás) da música romântica, Beethoven inclusive, mais capacidade de abstração e criatividade para constuir um espaço de escuta razoável, mesmo que ligeiro (ninguém ouve “música para mesa” do Telemann e a Missa do Bach da mesma maneira; Mozart não exige de quem ouve as “serenatas” o mesmo que demanda o Requiem). Claro

  8. Claro que os românticos também são food for thought, exigem espaço próprio (lembrei-me de Maria João Pires reclusa no interior de Portugal para imbuir-se do clima adequado à execução do que nos legou o século XIX) – mas em termos gerais o modo de remeter à beleza não é mais sereno como em certas cantatas ou naturalmente “bem posto” como em quartetos do Haydn. Já está em nossa faixa de onda, digamos assim – ou estava, a depender de quão longe tenhamos avançado no caminho da atomização e do espanto espetaculoso.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>