Uma história de amor pouco simpática
por H. G. Wells
Evidentemente o leitor culto já terá ouvido falar de Aubrey Vair. Publicou em três diversas ocasiões volumes de delicados versos – alguns, na verdade, quase indelicados – e sua coluna “Sobre as Coisas Literárias” no Climax é bem conhecida. Seu semblante byroniano, apareceu, ao lado de uma entrevista, na Perfect Lady. Foi Aubrey Vair, se não me engano, quem demonstrou que o humor de Dickens era pior do que seu sentimento, e que detectou um “leve sabor burguês” em Shakespeare. O que, porém, é pouco sabido é que Aubrey Vair teve experiências eróticas, bem como inspirações eróticas. Há não muito tempo adotou Goethe como seu protótipo literário e isto talvez tenha algo a ver com seu lapso momentâneo de integridade sexual.
Pois, junto com a avareza e certamente mais do que a bebida, uma das coisas que mais abalam os escritores – dando-nos desmoronamentos e efeitos pitorescos nos rochedos que, de resto, costumam caracterizar suas respeitáveis vidas – é aquela instabilidade chamada gênio, ou, mais exatamente, a consciência da genialidade, como a que possuía Aubrey Vair. Desde que Shelley lançou a moda, nossos homens de talento assumiram para si a certeza de que seu dever para consigo e seu dever para com sua mulher são incompatíveis, e sua recusa a ser um filisteu tem sido marcada por tanta infidelidade quanto os seus meios e sua coragem puderem bancar. Muito da virtude não passa de falta de imaginação. Seja como for, um gênio menor que não tenha emaranhado seus afetos numa confusão inextricável e que não tenha ocasionalmente versado alguns sonetos sobre esses dissabores, eu nunca conheci.