Não culpem o Patriarcado!

São muito bem boladas as campanhas de conscientização feminista que colocam homens, e não mulheres, em posições sensuais. Fazem ver a bizarrice nas cenas de exposição da beleza feminina com as quais estamos acostumados e nem notamos. Dão a revelação momentânea de que no futuro parecerão tão estranhas quanto são para nós as convenções estéticas de tempos passados ou de outras culturas.

Para além do exercício imaginativo, há sempre um mote ideológico nessas campanhas, e é sempre o mesmo: são nossos preconceitos de gênero, socialmente construídos, que mantêm a ilusão de que a superexposição da beleza feminina é normal. Gibis, propagandas, revistas masculinas; produtos de uma cultura que inventou, por algum motivo sórdido, que a mulher é um objeto sexual, e que a reduz a isso. Aí já me parece que vão longe demais e fingem ignorar o óbvio: os sexos se comportam, e valorizam no outro, coisas diferentes.

Para o homem, a aparência da mulher é um valor primordial e inescapável. Sem esse componente, o resto não existe (para a maioria dos casos, claro; não venham aqui me contestar dizendo “casei com a mulher mais feia do mundo e para mim não foi problema nenhum!” – em geral, beleza importa muito para os homens). “O amor é o desejo de alcançar a amizade de uma pessoa que nos atrai pela beleza”, já dizia Cícero, ecoando o sentimento masculino. Sendo assim, um jeito muito fácil de chamar a atenção masculina, e que não demanda a retórica de um Cícero, é capitalizar na beleza e na sensualidade da mulher. Mostre as curvas, e eles olharão.

Já a mulher não é um animal tão visual. Revista pornográfica? Não interessa; quem compra foto de homem pelado é o público gay masculino. Striptease para mulheres é uma grande brincadeira; para homens, coisa séria. O que não quer dizer que mulher não tenha interesse sexual. Estudos revelam o que a intuição já sabia: o interesse da mulher tem muito mais a ver com a aura poder que o homem transmite – e que pode ter muitas e fluidas causas, variando de um ambiente para outro – do que com a beleza “objetiva”, descontextualizada, dele. Um homem feio, num contexto em que ele seja dominante, passa a ser atraente.

Sendo assim, numa sociedade em que homens fossem objetificados pelo olhar feminino, agindo sob a pressão constante de atraí-lo, seria de se esperar que eles, ao invés de passar maquiagem, gastassem seus recursos e preciosa energia mental para serem (ou parecerem) mais dominantes, mais cool, mais ricos. E, vejam só, é exatamente o que já fazem.

No mercado sexual, homens e mulheres são objetos; só que objetificados de maneiras diferentes. Uma delas (a feminina, visual) é mais evidente, mas não menos real que a outra (a masculina, do status). Homens e mulheres estão igualmente submetidos à lógica da mútua atração, adotando as estratégias que melhor funcionam para ser bem-sucedidos. Sabendo disso, marqueteiros e produtores do entretenimento que querem atrair o público feminino agem de acordo: 50 Tons de Cinza não cativou a mulherada por causa da aparência física do protagonista. Foi o poder, a riqueza, a superioridade aristocrática, tudo envolto numa aura de mistério, que girou a chavinha interna das leitoras. As mesmas coisas que encantam no vampiro de Crepúsculo, em Don Draper, em Marlon Brando, Frank Sinatra, Rudolph Valentino ou – só pra chutar o balde – Aquiles; ok, pode ser o do Brad Pitt. O appeal masculino vem mais da atitude do que da beleza; o da mulher, mais da beleza do que da atitude. Para o potencial atrativo dela, o pior é ser feia; para ele, parecer inseguro.

A estranheza da inversão de uma convenção social não indica necessariamente o caráter arbitrário de todas as convenções. Antes, pode indicar que a convenção real existe por um motivo, e esse motivo está tão arraigado em quem nós somos que ver o contrário dela é como olhar para uma civilização alienígena. Se a objetificação sexual não é algo que uma classe inflige sobre outra, mas uma prática que decorre da interação entre os sexos, fica mais natural pensar nela como algo… natural.

O que não quer dizer que as coisas devam ser assim. Ao ver uma dinâmica de origem possivelmente biológica nas convenções humanas, não estou fazendo o elogio dela (tampouco a estou criticando!). Afirmo, se tanto, que é talvez impossível que ela deixe de existir por completo; sempre seremos animais. Dito isso, há culturas mais e menos bem-sucedidas em conter ou canalizar as pulsões animais de seus integrantes.

Equacionar fatos e valores seria uma falácia. Mas quem quiser concretizar algum valor neste mundo, que conheça os fatos! Muitas das acusações a uma ordem social e cultural injusta, supostamente mantida pelo interesse masculino – e portanto fruto de escolhas deliberadas – talvez sejam, na verdade, revolta contra dados naturais da nossa espécie.

Um comentário em “Não culpem o Patriarcado!

  1. Concordo plenamente. Alegar que sexualidade é construção cultural é tolice. Há muita coisa envolvida além das relações, afinal somos todos primatas! O feminismo está tão descontrolado que quer destruir e emascular o homem até onde elas não precisam estar.

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