A verdade do relacionamento

por Robert Louis Stevenson

Saiba disso ou não, leitor, Robert Louis Stevenson (1840-1894) é velho conhecido seu, senão por mais nada, ao menos por ter criado a célebre alegoria do Médico e o Monstro (Dr. Jekyll & Mr. Hyde, 1886). “A verdade do relacionamento” (“Truth of intercourse”) foi publicado originalmente na Cornhill Magazine, em 1879, sendo incluído dois anos depois pelo autor em Virginibus Puerisque, sua coletânea de ensaios sobre pedagogia e formação.

Apesar de breves, as reflexões de Stevenson são de considerável importância, pois nelas, com sua indisputável autoridade, o escritor escocês conduz as letras e as artes cênicas a uma posição aparentemente inusitada, mas que é a delas de origem e a que lhes cabe por direito e dever, a saber: no centro das relações humanas – todas elas. Pois do trabalho cotidiano às decisões políticas, e – principalmente – na amizade e no amor, não há relação que não exija um contínuo e renovado esforço de comunicação. Do domínio sobre nossas palavras e gestos, de nossa capacidade de expressão verbal e corporal, depende a profundidade – ou a superficialidade – dos nossos afetos, a qualidade dos nossos diálogos, enfim, a verdade dos nossos relacionamentos. E a literatura e a dramaturgia são mais do que meros passatempos mais ou menos sofisticados; são verdadeiras escolas de expressão parao corpo e o espírito – as mais belas e eficientes já erguidas por mãos humanas.

Em outra parte, Stevenson diz: “Há dois deveres que gravam sobre qualquer homem que se dedique ao trabalho de escritor: fidelidade aos fatos e boa-fé ao tratá-los”. No melhor espírito anglo-saxão do “show, don’t tell”, seu texto é ele mesmo um notável exemplo de como esse esforço de simplicidade e common sense pode ser aplicado não só à reflexão sobre uma questão, mas também à sua exposição; de como as verdades mais poderosas podem ser comunicadas em um estilo coloquial e convidativo sem prejudicar em nada o valor da mensagem. Stevenson parece seguir à risca a receita que garantiu – e garantirá – a perene jovialidade de toda uma linhagem de escritores, desde Platão até Chesterton, incluindo o nosso Machado de Assis; na fórmula de Emerson: “Speak with the vulgar, think with the wise” – fale com o povo, pense com os sábios.

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