por Érico Nogueira
Desde que, ao descrever as funções da linguagem humana, o genial Roman Jakobson pôde isolar a função poética, o estudo da essência da poesia – i.e., aquilo que a distingue de outras mensagens verbais – tem-se cada vez mais especializado em disciplina autônoma, assente, por sua vez, não nas sutilezas da filosofia ou nos desmandos da crítica literária, senão antes, e muito acertadamente, nos resultados concretos da pesquisa lingüística. Desenvolveu-se, então, uma enorme e fatalmente pouco acessível literatura especializada, a qual, se por um lado elevou a compreensão do fenômeno poético a um inaudito patamar de minúcia e exatidão, pareceu, por outro, simplesmente desprezar a circunstância de que o poema, para além da prosódia, da métrica, da semântica e da lógica, é antes de tudo – e sobretudo – uma obra de arte. Ora, essa fragmentação da “visão de conjunto”, digamos, é conseqüência inevitável da especialização dos domínios do saber, e não seria a lingüística, em geral, ou a poética, em particular, a constituir uma exceção a essa regra. Com o fito preciso, pois, de fazer uma como mediação entre as vicissitudes da pesquisa especializada e as da oficina poética propriamente dita, poetas houve que informaram seus ensaios críticos com o que de mais moderno houvesse em matéria de lingüística e semiótica, escrevendo páginas memoráveis, sem dúvida, – como é o caso notório de Octavio Paz – mas na maioria das vezes de puro diletantismo.