Nossos Fariseus

Atire a primeira pedra.

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E a nova modalidade esportiva do verão é xingar e agredir pecadores, tal qual os fariseus de 2000 mil anos atrás faziam com mulheres adúlteras. Um tanto antiquado? Até seria, não fossem as novas regras, ou seja, o pecado da vez. Desde há dois mil anos até não muito tempo atrás, a praxe era perseguir os pecadores sexuais: ai de quem não seguisse a estrita cartilha moral preconizada pelos rigores da ortodoxia. Hoje, ao menos nas classes educadas, os tabus do sexo foram abandonados e substituídos por outros. As pedras de agora estão reservadas para o pecado social: superficialmente, qualquer mostra de elitismo, ostentação ou “preconceito”.

Vejam o caso da “praia dos riquinhos”, noticiada pela Veja-Rio. Camila Diniz, que estampou a reportagem de domingo e deu seu depoimento por frequentar uma pequena seção privada (denominada “Aqueloo”) de uma praia carioca, na terça-feira recebia promessas de agressão física caso ousasse pisar na praia pública.

O que ela fez de tão terrível? Em primeiro lugar, frequentar um espaço exclusivo e caro. Em segundo, mostrar isso ao mundo. Em terceiro e para coroar, este comentário: “Deixei de frequentar Ipanema e passei a vir aqui todos os dias porque o público é muito mais selecionado”. Revelou ainda que gosta de beber champagne na taça e fazer chapinha depois que volta do mar, que são algumas das regalias da Aqueloo. Mal sabia ela que uma verdadeira legião de usuários de internet não só desaprova de suas preferências como se sente mortalmente ofendida por causa delas. A reação pode se manifestar de várias formas: como raiva, outras vezes como escárnio, outras ainda como pena; sempre exageradas.

Falou-se até mesmo que colegas de profissão indignados teriam se juntado para pedir a cassação de seu diploma de… socióloga. Não é por acaso que a Veja escolheu, dentre as centenas de mulheres jovens no Aqueloo, justo a socióloga; ela bem sabe como atiçar os leitores. Pois se tem uma casta social que não pode cometer esse tipo de impureza são os sociólogos; e, em verdade, todos os parentes dos cursos de Humanidades e Artes. Foram eles, afinal, que criaram o padrão moral vigente, e são eles que o impõe a ferro, fogo e humilhação pública. Não diretamente, é verdade. Duvido que os xingamentos das caixas de comentários venham de membros de nossa elite cultural. Seus meios são outros: comentários decepcionados (que é também uma forma de ostentação, só que de qualidades espirituais) e piadinhas em rodas de conversa, em blogs e no Facebook. Uma patricinha que não fez faculdade, coitada, até se entende que se mostre por aí bebendo champanhe em uma praia exclusiva; peca por ignorância. Mas uma socióloga, essa conhece a Lei; seu pecado só pode ser fruto da malícia.

Em outro caso recente, Valéria Rios, uma mãe que tem um blog sobre crianças,  ousou falar, aberta e honestamente, sobre como lidar com babás em viagens. Entre outros crimes contra a humanidade, sugeriu que, para conter as despesas, o casal poderia comprar um lanche no McDonald’s para a babá quando fossem a um restaurante caro. A reação foi tamanha que ela tirou o post do ar. Algo similar ao que aconteceu com a psicóloga (conhece a Lei) que não queria estação de metrô em Higienópolis por causa dos mendigos, drogados e “gente diferenciada”. Ao menos no caso dela a parte mais visível da reação teve um toque de bom humor: jovens indignados, provavelmente oriundos das zonas oeste e região central de São Paulo, organizaram um “churrascão da gente diferenciada” na frente do Shopping Higienópolis.

Os veículos midiáticos bem sabem explorar essa atual moda dos públicos esclarecidos de hostilizar, não quem é rico, mas quem é visto como de alguma maneira ostentando ou derivando um prazer sem culpa da riqueza (para o público mais simplório, a pedida ainda é a Revista Caras, ou seja, a admiração pelos ricos e famosos). A “praia dos riquinhos” ocupa o primeiro lugar das mais lidas da Veja-Rio. E lembram do vídeo das socialites discutindo a USP? O único motivo para ter virado notícia foi a esperteza dos jornalistas da Folha, que bem sabiam a reação que viria. E quem esquecerá a indignação pública de Leonardo Sakamoto, um de nossos doutores da Lei, em meados de 2012, contra as madames entrevistadas por Monica Bergamo (outra da patrulha) sobre os arrastões em restaurantes? É nesse filão que entram programas como o “Mulheres Ricas”, que todos adoram odiar. No caso delas, a ostentação é tão escrachada e cafona que poucos levam a sério; elas são antes objeto de riso do que de raiva. O nível da patrulha pela moral e bons costumes chegou a tal ponto que até mesmo Lola Aronovich, a principal representante do movimento feminista no Brasil, teve que pedir a seus leitores que se abstivessem de comentários a la “classe média sofre” a um texto de uma convidada sua que, maldita, era de classe de média e mesmo assim não era perfeitamente feliz.

São dois os tipos de manifestação repreendida por nossos fariseus com suas pedras morais. Uma é a da pessoa que parece tratar alguém de extrato social mais baixo de maneira inferior a ela própria ou sua família (pergunto-me quantos dos revoltados tomam banho no mesmo chuveiro que suas empregadas), e a outra é a pessoa que, sendo rica, ousa ser feliz e demonstrar que não está tão preocupada assim com o resto do mundo. Talvez ambas sejam duas facetas de uma mesma atitude perante a vida. Falei em “pessoas”, usando um termo neutro e politicamente correto; mas percebo que ele é desnecessário: todas as pessoas dos exemplos que consegui achar são mulheres. Olha só, mais um elemento comum entre a velha e repressora moral sexual e a nova e esclarecida moral social: a opção preferencial pela mulher.

Acho que o que desperta essa reação é ver não apenas mulheres ricas; mas mulheres ricas que não sentem vergonha de usufruir de sua riqueza e que, além disso, demonstram ter pouco ou nenhum interesse pelas vidas das pessoas mais pobres e seus sofrimentos de maneira geral. Em outras palavras, mulheres que vivem para si mesmas, e não para os outros. E dos dois sexos, é principalmente a mulher que não pode ser um fim em si; se for, é fútil, frívola, burra, má. Imagino que muitas dessas devem conhecer e se importar por pessoas pobres específicas, concretas; aposto também que muitas participam de ações de caridade e voluntariado para ajudar aos desafortunados. Falta-lhes, contudo, a culpa fundamental que transformaria “os pobres” em abstrato em sua razão de viver ou, o que é mais realista, numa pontinha de culpa que as impedirá de aproveitar a vida plenamente. As mulheres criticadas demonstram não estar nem aí: em meio aos arrastões de restaurantes, preocupam-se com suas joias. Outra vai a uma praia para poder conviver com pessoas mais agradáveis, procurando se separar de gente presumivelmente mais pobre e feia. Outras até discutem questões sociais, mas com uma leveza que deixa claro que o happening importa mais do que a discussão (podemos até dizer que o nível das opiniões mostrados no vídeo da Folha era baixo; mas seria ele mais baixo do que as opiniões que correm em reuniões de um centro acadêmico universitário?). Em todos os casos, mulheres que ousam se comportar como se a felicidade delas próprias fosse um fim em si.

Mas nossos fariseus conhecem suas armas, e acabam prevalecendo. Em geral, isso significa fazer sua vítima baixar a cabeça e professar adesão ao código de valores deles. A psicóloga da “gente diferenciada” disse que não usou a tal expressão. A socióloga e a mãe blogueira dizem que foram mal interpretadas; ninguém parece disposta assumir publicamente que, sim, eu prefiro frequentar uma praia com gente mais fina, bonita e agradável. Um comentador da matéria em que Camila Diniz se defende diz tudo: “Vamos ser sinceros, quem é gosta de ir a praia e dar de cara com os farofeiros da linha 2?” Não sou carioca; nem imagino como sejam, como se vistam e como se comportem os tais “farofeiros da linha 2”. Imagino, contudo, que o sentimento de não querer conviver com eles seja um tanto disseminado, na mesma medida em que é violentamente silenciado.

Em tal cenário, é impossível não pensar em Nietzsche. O ódio aos pecadores da ostentação decorre, não de um desejo moralmente superior por parte dos acusadores de escolher outro tipo de vida; mas de sua incapacidade de viver do jeito que condenam, embora de alguma maneira também o desejem. Não é simples inveja. Seria inveja se os acusadores desejassem ter e usufruir daquilo que suas vítimas usufruem. E em algum nível acho que esse desejo deve existir; somos todos humanos. Mas suspeito que, por uma série de motivos, eles seriam incapazes de aproveitar sua riqueza com a mesma despreocupação, e por isso sentem-se mais felizes em estragar a felicidade alheia do que seriam capazes de se apropriar dela. Acho que isso é pior do que inveja. Fico imaginando se os mesmos sociólogos que professam gostar de conviver com os farofeiros da linha 2, na verdade derivam seu prazer exatamente do sentimento de superioridade moral que essa convivência traz. “Eu fico bem em meio ao povo. Sou superior à elite branca que foge deles”.

Sua arma de ataque é justamente a superioridade intelectual e cultural, que dá a eles um poder de determinar e impor o código de valores oficial, desde que consigam arrancar, ao custo de muita chantagem, o consentimento das vítimas. Têm sido bem-sucedidos.

Não que ir a uma praia exclusiva, usar bolsa de marca ou dar dicas de babá sejam ações particularmente virtuosas. Noto, contudo, que todas elas são perfeitamente inofensivas. Mesmo o artigo sobre a babá, que tinha potencial para classismos e racismos mil, foi rigorosamente justo em suas propostas e atitudes, sempre incluindo, por exemplo, a preocupação em conversar e explicar à babá as decisões tomadas; nenhuma delas, afinal, imprópria ou degradante. Nenhum dos casos de escândalo público aqui citados teve como objeto um ato ou atitude verdadeiramente reprováveis. Quem age realmente mal nesses casos, penso, são os acusadores, que sentem ao que parece uma verdadeira compulsão de tornar públicas suas condenações; afinal, é condenando em público que eles próprios adquirem um status moral mais elevado. Isso sim é coisa a se lamentar, sempre cientes de que nós mesmos muitas vezes o fazemos.

A autoridade de nossos fariseus não é de hoje. Resgato aqui trechos do artigo que Ayn Rand escreveu sobre o suicídio de Marilyn Monroe, e que tenta colocar em palavras o que devia se passar nas almas de seus detratores, tão similares aos nossos doutores da Lei em seus piores momentos.

“Se alguma vez houve uma vítima da sociedade, Marilyn Monroe foi essa vítima – de uma sociedade que professa dedicação ao alívio do sofrimento alheio, mas que mata os alegres.

(…)

Sobreviver e preservar o tipo de espírito que ela projetava na tela – um senso de vida de uma benevolência radiante, que não pode ser fingido – era uma conquista psicológica quase inconcebível, que requeria um heroísmo do mais alto grau.

(…)

‘Inveja’ era o único nome que ela conseguia dar à coisa monstruosa que a confrontava, mas era muito pior do que a inveja; era o profundo ódio à vida, ao sucesso e a todos os valores humanos, sentido por um certo tipo de mediocridade – aquela que sente prazer ao ouvir falar das desventuras de um estranho. Era ódio ao bem por ser o bem – ódio à habilidade, à beleza, à honestidade, à sinceridade, à realização e, acima de tudo, à alegria humana.” (Through your most grievous fault, 19/08/1962, LA Times)

Não estou, já disse, elevando as vítimas da nossa patrulha farisaica à condição de exemplos de virtude moral. Estou apontando que aquilo dentro de nós que nos leva a querer colocar para baixo essas pessoas não é bom. Se a alegria alheia nos ofende, se nos causa indignação ver que aqueles acima de nós riem sem olhar para baixo, o problema está mais em nós do que neles. Assim, recomendo a todos que guardem as pedras e as mostras de indignação e vão aproveitar a dia; perto ou longe dos farofeiros da linha 2.

21 comentários em “Nossos Fariseus

  1. Olha, a hipocrisia do brasileiro é cada dia maior. Não duvido que se fosse oferecido pra um desses fariseus, n corressem pra usufruir tb! Gostar de coisas boas virou crime agora! mentalidade retrógrada e socialista!

  2. Gostei especialmente do fim que espelha o bom e saudável epicúreo hedonismo horaciano do *carpe diem*, em versão caliente, tropical e “praiera”.

    (Só que ao contrário do que andam dizendo, a socióloga aí é meio feinha.)

  3. joel. acho q vc não acertou mto bem no ponto fulcral dessa questão. não há dúvida que a reação de algumas pessoas a essa é exagerada e desproporcional, mas seria mesmo farisaísmo condenar o esnobismo? fica claro para quem lê a reportagem que os frequentadores dessa praia são jovens enfatuados q acreditam ser superiores aos outros porque são podres de ricos.

  4. Mas ninguém ali foi esnobe ou hostilizou outra pessoa. O mesmo para todos os exemplos citados. As mulheres em questão estavam ou aproveitando a vida ou preocupadas com um risco que poderia prejudicá-las.

    Concordo que o desejo dos fariseus seja condenar o esnobismo; ao menos é isso que eles dizem. (E entram várias possíveis justificativas: os ricos humilham os pobres, ou exploram os pobres). O que eu estou tentando saber é de onde vem o desejo de condenar o esnobismo. E será que é mesmo esnobismo que está sendo o objeto de tanta raiva? Note que nenhuma das mulheres que citei teve um discurso de excluir ou se mostrar superior a alguém, que é o que é próprio do esnobe. Pelo contrário: os outros, os tais excluídos, mal entravam na fala e no pensamento delas. Talvez esse seja seu verdadeiro “crime”, e o que gerou tanta raiva.

  5. O prazer e o carpe diem fazem parte da vida, Adriano. Mas que não sejam, para nosso bem, a finalidade última dela!

  6. Percebo isso também em relação a outras coisas. Quando falei a um grupo que gostei do filme Gonzaga, as pessoas me consideraram um rapaz generoso, que dá valor ao que é da terra, apesar de muitos não terem visto o filme. Mas no mesmo grupo também ressaltei minha alegria em ver os filmes da nouvelle vague tcheca, imediatamente me repeliram, como se fossem filmes incompreensíveis que eu mencionava somente para elevar minhas referências (mas também não viram nenhum).

    E penso ser um caso semelhante o que aconteceu com a blogueira de Cuba, que não fez nada àquelas pessoas que manifestavam, indignadas com aquela atenção que ela recebeu, e que nunca tiveram. Penso que talvez nem conheciam o blog da moça. Em Feira de Santana foi vergonhoso demais…

  7. Tudo isso é tão bem “compreendido” na obra de René Girard… Muda-se o discurso, a moral, o acusador, a vítima, mas o recalque da imitação continua a demandar um linchamento purgativo. É um “m-e-c-a-n-i-s-m-o” tão infalível e tão evidente que nem a sociologia fica imune.
    Como diria Girard: Proust explica!… E com uma argúcia que escapa aos sociólogos.

  8. Ninguém critica colecionadores de arte por gastarem fortunas com tinta lançada em uma tela em branco – felizmente nunca vi, ao menos. Acho que tem uma questão qualitativa implícita. A praia é pública, qualquer um pode frequentá-la quando bem entender. Talvez as pessoas apenas achem idiota que tanto dinheiro seja investido em um HAPPY HOUR em ambiente decorado com painéis com fotos de pontos turísticos do Rio quando, veja, as pessoas estão em um dos maiores cartões postais da cidade. Além do mais, talvez não seja uma questão de filantropia barata; não acho que queiram que as pessoas invistam verba para acabar com a fome na África Subsaariana. Talvez apenas queiram que o potencial cultural do Forte de Copacabana seja melhor explorado do que com espaço de “comidinhas”.

  9. “Talvez apenas queiram que o potencial cultural do Forte de Copacabana seja melhor explorado do que com espaço de “comidinhas””.

    Talvez, mas isso não justifica a perseguição à sociológa, que não é mais que uma consumidora. E se for essa a razão, fica muito estranho que não façam isso com os responsáveis pelo lugar. Creio que a raiva é contra a declaração mesmo, senão teriam feito o mesmo com as outras pessoas que deram entrevistas para a mesma reportagem.

  10. Exatamente, Paulo. O nome do empresário é inclusive dado na reportagem. Se a indignação fosse causada por uma pretensa violação da lei (será que é mesmo? Ninguém nem se informou direito), o ódio seria dirigido a ele, e não bem à socióloga que foi uma das entrevistadas pela Veja.

    Aliás, se essa justificativa fosse real, a escolha da Veja em dar destaque à socióloga ficaria sem explicação.

    A questão legal e social da praia como “bem de todos” é uma justificativa usada pelos “fariseus”, mas não a causa real.

  11. Joel, cercar espaço público para fins privados não é ilícito? Claro, há quiosques e o mais, só que eles têm algum tipo de licença e cercam um espaço pequeno, legalizado. Até onde ouvi falar, o exército desocupou a prainha particular dos bacanas de havaiana.

    Agora, claro, há um bom exagero em se dizer que a menina não pode mais ser socióloga e o mais, mas talvez haja algo no argumento que faz sentido: se uma pessoa passa quatro ou cinco anos em um curso de letras (grego, por exemplo) e não sabe grego, é risível que tal pessoa tenha o diploma; assim como é risível que uma pessoa seja formada em sociologia e não tenha a mínima sensibilidade social para entender o que está fazendo, do que está participando e o que está dizendo em entrevista. É de uma ingenuidade muito grande.

    Seu texto é bom porque no fundo defende um valor positivo, que seria, ao meu modo de ver, o tal do cultivo dos afetos alegres, de que Espinosa falava (em contraposição ao afeto triste da inveja e de seus derivados); há uma certa revolta da própria classe média carioca que faz lá seus cursos de humanas na PUC e que se sente revolucionária e super consciente e antenada (aqueles que dizem que o policial negro em *Tropa de Elite 2* não tem consciência social).

    Há um bom farisaísmo lá, e um dos casos mais interessantes é o do jornalzinho d’O Indivíduo, que há mais de uma década, por causa de um artigo sobre “consciência negra”, teve seus membros levando cusparada, sendo ostracizados, e quase expulsos. Só que também há uma classe média retardada no Rio que fica atirando ovo e o mais, de cima de prédios, em transeunte. O pessoal da prainha particular parece ser esse tipo de gente esnobe, de classe média alta, uma espécie de pseudo-aristocracia decadente e niilista no pior sentido, sem valor positivo algum a produzir. Nietzsche os classificaria como membros de um rebanho, como seguidores de uma moral de escravos; e aqui se pode dizer que membro de séquito ou rebanho no caso dessa classe AB, tão excelsa quanto a nova classe C, deveria ser também sinônimo de farofeiro (mesmo que de farofeiro de Mercedes); porque as madames que aparecem em programa de tv são tão farofeiras e pobres de espírito quanto qualquer pobretão que siga um hedonismo reduzido apenas a praia e sol, e que não se preocupa com o desenvolvimento de si.

  12. Acho que o caso da Psicológa de higienópolis seja diferente. A indignação não veio apenas da ostentação de sua posição social, mas efetivamente de sua posição política.
    A indignação nasceu do fato dela ser contra serviços públicos, que beneficiariam a população geral, para conter a mobilidade de determinadas pessoas do seu entorno. Ela é a favor da segregação de seu bairro do contexto urbano geral, e por conta disso, é contra a amplificação de um serviço de transporte público sustentável.
    Isso para evitar pessoas, ela as chama de “drogados”, mas claramente não é de usuário de drogas apenas que ela está falando, pois esses já existem em higienópolis. O consumo de drogas entre os jovens frequentadores do bairro é bem alto.
    Também não existe nada que impeça assaltantes de entrar no bairro atualmente, afinal, é praticamente impossível fazer um assalto a um prédio e fugir de metrô. Ela quer evitar conviver com pessoas de classe baixa que utilizam o metrô.
    Portanto, não é só ostentação que causou indignação, mas ela efetivamente se mostrar contra a presença de pessoas de classe mais baixa do que a dela. Não é esnobismo apenas, é a vontade de sistematizar práticas de segregação e superioridade social no espaço urbano.
    Devemos tomar cuidado e não taxar toda indignação como modismo, existe indignação por milhares de motivos, mas alguns são válidos.

  13. Adriano, o espaço não é público e sim área militar cedida à iniciativa privada para arrecadar fundos. Tendo ou não comidinhas e gente exclusiva, não é área pública onde todos podem entrar.

  14. Agradeço a correção, “leop”. Mas os militares não haviam fechado o circo dos bacanas de havaianas?

  15. Digo que em tese qualquer um deve ter sensibilidade social, no sentido de ser capaz de empatia (pôr-se no lugar do outro, tentar compreendê-lo), e isso vale para a vida social de maneira ampla. Um sociólogo que seja incapaz de uma atitude elementar dessas (de entender sua própria situação socioeconômica e a de sua própria sociedade) é um mero incapaz tão risível quanto alguém formado em grego antigo e que não consegue ler um diálogo de juventude de Platão.

  16. Isso talvez seja desejável (para alguns ao menos) mas ela pode perfeitamente “entender sua própria situação sócio-econômica”, estudar sociologia por curiosidade ou para “entender sua ..sociedade” e continuar frequentando clubes privados, gastando seu rico dinheirinho sem que ninguem tenha nada a ver com isso. E deve poder falar isso sem constrangimentos, sem “complexos” (palavrinha ruim). Ou será que os sociólogos ricos tem que comer o pão que o diabo amassou por questões profissionais?profissionais?
    Sua ilação com estudantes de grego antigo não pode ser confirmada com os dados disponíveis, pois ela pode na segunda-feira dar uma aula de sociologia brilhante.
    Confesso que não entendi essa necessidade de engajamento do sociólogo.

  17. JV, vamos simplificar a coisa: ela foi burra (e/ou inocente, ingênua) em dar a declaração que deu. Faltou senso, faltou tino, faltou noção. É isso. Esperar-se-ia de qualquer bacharel minimamente bem formado senso, tino e noção de sua circunstância social e também da dos outros.

    No mais, acho difícil uma pessoa sem noção e sem tato ser capaz de dar uma boa aula de sociologia. O que talvez explique a má sociologia espraiada Brasil afora.

    Não tenho mais o que dizer.

  18. Adriano, ela pode ter sido ingênua, ou muito corajosa, não sei. Só sei que ela afrontou o espírito politicamente correto dos tempos atuais. De uns anos para cá houve uma inversão moral. A inveja que ela despertaria virou despeito. O invejoso de pecador passou para vítima portadora de um tipo de superioridade moral. Chamo isso de “pobrismo”. O pobre militante não mais almeja elevar seu espírito e sua conta bancária, mas baixar o nível de todos ao seu, ou àquilo que ele aparenta.
    Forre e cubra tudo isto com “culpa” e pronto, a receita para uma sociedade autoritária, triste e desprovida de espontaneidade, onde todos se metem na vida dos outros nos mínimos detalhes.
    Quanto a sociologia, me parece que você sabe apenas da parte “engajada” dela, que é apenas uma parcela.

  19. Ai, que texto difícil de ler! Ai, que incômodo, que mal estar e, no entanto, que incapacidade de tirar os olhos dele antes da última linha… Todos os meus neurônios foram retirados da sua zona de conforto, plena de serotonina, e estão se arrastando em busca de argumentos, argumentos, argumentos… Quer dizer que, além do contrato social, temos também um contrato psicossocial e você se dedica a ler em voz alta aquelas letrinhas miudinhas a que ninguém dá a menor importância? Vou reler mais algumas vezes, para ver se me encontro.

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