26 comentários em “O doce sabor da hipocrisia

  1. Até para quem vive num império da oclocracia como o Brasil, isso aí parece piada.
    Esse pessoal aí deve ter ido para a Oktoberfest de Blumenau e feito amizade com tucanos, petistas…

  2. pagar imposto não é generosidade. e eles não estão a propor um imposto. mas uma discussão pública acerca da necessidade de pagamento de mais impostos pelos mais ricos. até aqui parece coerente e orientado pelos valores da riqueza. afinal de contas o que eles desejam é conservar o mundo que os tornou ricos.

  3. Será que o Brasil seria um país mais feio se isentassem o imposto de renda até 5 mil reais por mês e passassem a faca em quem ganhasse mais de 15 mil?

    (Sei que o assunto era a Alemanha, mas o mesmo princípio poderia valer por lá.)

    A questão é: qual a grande injustiça que se comete quando se cobra mais imposto dos ricos do que dos pobres?

  4. Pingback: Dicta&Contradicta e Hipocrisia | Diário Filosófico

  5. Adriano, acho que a grande injustiça que se faz ao cobrar mais imposto do rico que do pobre é a utilização de um critério injustificado. Por que o rico tem que pagar mais imposto? Só porque é rico? Se o imposto é uma forma de o Estado arrecadar fundos para manter os benefícios que proporciona igualmente a todos na sociedade, não há qualquer necessidade de se vincular a origem desses fundos à classe social do cidadão.

    E por que o Estado teria a tarefa de reduzir a igualdade entre as classes? Isso é assunto que tem muito mais a ver com o indivíduo do que com o Estado, até porque a única garantia de que o Estado seja capaz de cumprir essa tarefa é que ele seja formado por santos. O que quero dizer é que não vejo nada na função do Estado que lhe atribua essa tarefa tão linda de transformar o mundo num paraíso, como se isso lhe fosse essencial. A caridade e a “justiça social” estão muito mais ligadas à Igreja do que ao Estado. E nem por isso a Igreja obriga, com força, seus fiéis a serem generosos.

    Para ser sincero, acho que os únicos impostos justificáveis são aqueles cujos benefícios não podem ser quantificados e que atingem a todos inevitavelmente, como a segurança pública, a iluminação e o saneamento básico. Agora, por exemplo, imposto pra bancar ensino público ou transporte público acho exagero. Ao meu ver, muitas dessas atribuições que são delegadas ao Estado como inquestionáveis são, no mínimo, bastante discutíveis.

  6. Vejamos:

    (i) cobrar mais IR de um rico do que de um pobre é injusto porque há um critério injustificado em jogo;

    (ii) o Estado beneficia a todos na sociedade, então todas as classes sociais têm de pagar igualmente;

    (iii) é o indivíduo que por um ato de caridade deve ajudar as pessoas, e não o Estado corrupto.

    Vamos ficar nessas teses para não alongar a discussão na caixa de comentários.

    (i) se falarmos em justiça distributiva, é justo que ricos paguem mais que pobres, e simplesmente porque ricos têm mais posses;

    (ii) trata-se de um non sequitur; não há relação causal entre o antecedente e o consequente; não é porque o benefício seja para todos que todos devam pagar igualmente; qual a relação de causa entre uma sentença e outra?

    (iii) a caridade é um conceito moral, não político. Não acho que se deve politizar a moral, mesmo porque a noção de caridade é muito maior do que a noção empobrecida que se está a utilizar aqui. E também porque fazê-la pública é vaidade. E muitas vezes imoral.

  7. (i): E quem justifica a “justiça distributiva”? Desde quando isso é algum tipo de justiça? Pergunto porque não sou advogado e não tenho idéia de onde surgiu esse conceito. Na minha opinião, não deveria ser atribuição do Estado fazer “justiça distributiva”.

    (ii) Ora, mas se todos recebem o mesmo benefício, por que alguém deveria pagar mais? Façamos o seguinte: vamos num Mac Donalds. Você compra uma casquinha por 1,80 e eu ganho uma de graça, ok?

    (iii) Mas a política deve ser moral. Acho que a caridade deva ser politizada, sim, no sentido de ser considerada como valor nas relações entre os cidadãos. Só não acho que ela deva ser utilizada por uma autoridade estatal como desculpa para a arrecadação de dindim.

  8. Adriano, ao se cobrar dos ricos e não dos pobres pune-se a geração de riqueza. Algo levemente importante para o desenvolvimento de uma nação.

    Além disso, os recursos taxados serão usados para fins que não satisfarão as demandas da sociedade do melhor modo possível. Pelo contrário, o uso dos recursos será arbitrário e ineficiente, provavelmente sustentando mais uma estrutura burocrática criada pelo governo para resolver problemas sociais, mas que, sem solucionar direito os antigos, apenas faz com que surjam novos.

  9. Caro Joel,
    essa e uma possibilidade de se encarar o problema. Qualquer quantidade de dinheiro na mao do Estado sera infinitamente pior empregada do que na mao dos particulares. Isso e um fato!

    Outro lado seria observar que os mais ricos pagam, sim, mais impostos. Qualquer pessoa que tenha um patrimonio maior (indepentemente da natureza desse patrimonio) ja paga mais tributos. (Um exemplo tosquinho para aclarar: se a pessoa tem uma casa, paga um IPTU; se tem duas, paga dois IPTUs; um carro, um IPVA, se toma cerveja, paga 6% de IPI; se toma whisky 18 anos, paga 80% de IPI; etc, etc, …)

    Da mesma forma o imposto de renda. A parcela da populacao brasileira economicamente ativa (excetuando-se, como parece claro, aqueles verdadeiros “marajas” do servico publico) que chega na faixa dos 27,5% do imposto de renda e pequena, bastante pequena. O ideal seria adotar um numero maior de faixas e, obviamente, aumentar o valor da isencao.

    O problema e que o argumento de que “ricos devem pagar mais” e simpatico! Quem nao gosta, nessa sanha justiceira conta o capital, de ouvir isso?! Ou, ainda, como quer o Sr. Cesar, que acredita que isso so serve para a manutencao do status quo.
    Por outro lado, o argumento dos que sao contra o “imposto para os ricos” sao antipaticos para os ouvidos que pretendem fazer a “justica social”.

    Isso me lembra, sempre, das homericas discussoes do Roberto Campos (que falta que faz um RC no Brasil!) sobre o famigerado “imposto sobre grandes fortunas”. Por sorte, nenhum governo, por mais de esquerda (isso existe ainda no Brasil?!) que declara ser nao conseguiu emplacar…

    Tentando concluir, a hipocrisia reside exatamente nessa tentativa, destrambelhada, diga-se, de forcar o Estado a tributar todos os ricos (a crise, ao contrario do que fala o nosso presidente, nao foi causada pelos ricos. A principal causa da crise, como sabemos, se deu pela obrigatoriedade de que os ricos (leia-se bancos) emprestassem dinheiro aos que nao poderiam pagar). Basta que eles, os que aceitam a tributacao, doem (sim e possivel fazer doacoes ao Estado) o seu dinheiro e esperem que ele faca alguma diferenca…

  10. Marcelo,

    (i) a noção de justiça distributiva remonta a Aristóteles. Trata-se da ideia de tratar os desiguais com desigualdade, que é exatamente do que falamos aqui;

    (ii) eu sei que tributar renda é algo que desagrada aos mais ricos, mas a questão é se é justo ou não. E pela noção de justiça distributiva eu creio que é;

    (iii) sim, eu acho que ética e política devam caminhar juntos (em Aristóteles, por exemplo, a política é uma extensão da ética); quanto à autoridade estatal ganhar dinheiro, isso é tão velho quanto a história do mundo, e acho que há uma razão para isso — aqui também é necessário dizer que não é porque algo seja velho que então seja justo; mas se é tão velho e recorrente, devemos tentar entender as razões disso.

  11. Joel,

    eu gostaria de ver seu primeiro argumento aplicado ao contexto socioeconômico do Mercantilismo e do que antecede as Grandes Navegações. Não fosse a maldita acumulação primitiva de capital (just teasing you), não teria havido Grandes Navegações, o Brasil não teria sido descoberto, não estaríamos tendo essa discussão. E isso foi possibilitado por uma classe estatal que “punia” a geração de riqueza dos comerciantes, tomando-lhe parte do lucro e o reaplicando em outras atividades, que, aliás, acabariam por gerar mais comércio e riqueza para a nação.

    Quanto aos problemas sociais, vou usar um exemplo que tenho certeza todos apreciaremos. E por mais que odiemos o governo Lula (eu tenho lá minhas razões morais para isso, principalmente em relação ao caso Celso Daniel), não podemos negar que a distribuição de renda melhorou em seu governo. E isso por uma medida que decorre do governo anterior e que sempre foi defendida por um Milton Friedman (monetaristas são socialistas enrustidos, não?) ou por um Donald Stewart Jr. (sim, o fundador do Instituto Liberal).

    Agora pergunto: será que trazer milhões de pessoas à classe média é injusto? Ou será que deveríamos entregar, como quer o Marcelo, todos os programas sociais à Igreja Católica e à sua teologia da libertação?

  12. Nao gosto de fazer isso, mas vamos la:
    (i.) vou la pegar a minha copida da Etica a Nicomacos e ler o Livro V de novo. Nao sei se eu li errado, mas nao me lembro desse papo de “tratar desigualmente os desiguais”. Mesmo que fosse, esse tratamento desigual eh, em si, complexo: de que forma, em que extensao, por quais meios, ate quando, etc. Alias, quem eh rico no Brasil?! Quem faz faculdade? Mestrado? Quem assina jornal? Tem laptop? Ja viajoou de aviao? Tem carro? Geladeira? As complicacoes se dao nesse nivel… Afirmar que se precisa tributar o Eike Batista, por exemplo, eh facil. E o sujeito que tem, digamos, tres carros?! Ele eh rico?!

    (ii.) veja-se que nao se esta falando em tributar a “renda”. Quer-se, sim, tributar o patrimonio. A pessoa poder ter milhoes em patrimonio e nao ter renda (no sentido juridico) nenhuma.

    (iii.) a autoridade estatal nao ganha dinheiro. Ela participa do benefico economico de cujo o cidadao eh p titular.

    Navegacoes: Adriano, tu realmente acredita que era esse “ente estatal” que fazia os investimentos para as navegacoes?! Ja ouviu falar no surgimento das sociedades por comandita?! Vale a pena uma olhada…

    Renda e clase media: o Brasil nao trouxe esses “milhoes” para a classe media. O IBGE (e isso eh publico) mudou os criterios de definicao do que seria considerado como “classe media”. Mesmo que assim o fosse, o crescimento da economia mundial foi muito maior do que o crescimento da classe media brasileira.

    A distribuicao de renda eh outro mito. O que aconteceu foi que a sociedade (como um todo) ganhou mais dinheiro, com a manutencao da acumulacao nas camadas mais ricas. Frise-se: isso eh bom! O problema eh Brasil continua nos ultimos lugares em distribuicao de renda! POr outro lado, o que se tem hoje eh assistencialismo estatal, o que o Friedman ou qualqer outro liberal combatiam.

  13. Adriano,

    (i) e (ii) Mas então os benefícios dados pelo Estado aos ricos também devem ser maiores que os dados aos pobres. A não ser que a regra de “tratar os desiguais desigualmente” também seja utilizada desigual e condicionalmente. Nesse caso, seria bom estabelecer um critério claro para sua aplicação e, mesmo assim, acho que não teríamos alguma ordem justa.

    (iv) Eu nunca disse que queria “entregar todos os programas sociais à Igreja Católica e à sua teologia da libertação”. O que eu disse é que não acho função essencial do Estado fazer a tal da “justiça distributiva”. Na minha opinião, isso é assunto “privado”, no sentido de fora do âmbito de uma autoridade estatal.

  14. Pedro,

    você por acaso não faz aula com o Prof. Carvalho, faz? Porque só de falar em Ética a Nicômaco já dá essa impressão. Não sei se você sabe — e eu realmente não quero soar arrogante aqui —, mas hoje em dia não se considera que as Éticas tenham sido escritas em vista de alguém, mas sim que haja uma versão nicomaquéia e uma eudemia. Daí se falar em Ética Nicomaquéia e em Ética Eudemia. Vide as traduções anglófonas, etc.

    Mas quanto ao trecho que o senhor me cobra, você pode encontrá-lo em Política III, 9 (logo no início), em que Aristóteles diz que os iguais devem ser tratados com igualdade e os desiguais com desigualdade e que justiça é sinônimo de igualdade (se v. tiver a edição ROT em mãos, procure o trecho citado na p. 2031, senão nas linhas 1280a8-15).

    Quanto à definição de riqueza eu a dei em relação à renda, mais especificamente a faixas de rendas (renda acima de 15 mil reais mensais). Esqueça qualquer outro critério.

    Acho que é isso. O resto não me parece errado, embora mal colocado. Embora eu admita que mesmo sabendo da mudança de critério do IBGE, precise averiguar se pessoas das classes mais baixas subiram à classe média. Mas eu creio que sim.

    Você só erra feio ao ignorar a ideia do ticket do Friedman e do Stewart Jr. que é muito próxima à do Bolsa Família. Talvez valha a pena se informar melhor sobre como essa questão é tratada pela Escola de Chicago (daí a minha troça de que monetaristas são socialistas e tal).

  15. Marcelo,

    sim, ricos devem ser tratados com igualdade e não ricos com desigualdade. Uns devem pagar mais e os outros menos (ou serem isentados). É essa a ideia da tal “justiça distributiva”.

    Quanto à questão da teologia da libertação, que atribuí a você, foi uma mera brincadeira. Desculpe-me se o ofendi.

  16. Adriano,

    Você não me ofendeu. Apenas achei que tinha me entendido errado.

    Na verdade, quando vc diz que os ricos devem ser tratados com desigualdade, precisa especificar em que sentido. Essa desigualdade só se refere ao imposto pago, ou também ao benefício recebido? E por que deveria ser apenas com relação ao imposto pago? Na verdade, ainda não vi nada que justificasse a “justiça distributiva”.

  17. Marcelo,

    ricos devem ser tratados com igualdade e pagar IR, pobres devem ser tratados com desigualdade e não pagar IR.

    O que justifica isso? Uma diminuição da disparidade na distribuição de renda, para que as pessoas tenham níveis de vida um pouco mais próximos (embora, ainda assim, desiguais).

    Concordo que a ideia de que todos são iguais é uma besteira, de que o socialismo é uma enorme (des)ilusão e de que os democratas nos Estados Unidos costumam fazer montes de caca. Quer dizer, não sou de esquerda, mas acho que do ponto de vista sociológico fazer com que os ricos paguem um alto IR é uma ideia justa. Porque assim as disparidades diminuem e pessoas que muitas vezes não têm vidas dignas podem passar a ter.

  18. Não gosto de imposto de renda, mas seria mais justo, mais no espírito da justiça comutativa, que fosse uma alíquota só. Digamos, 5% da renda para todos.

    Assim, o pobre paga menos do que o rico, mas todos pagam a mesma alíquota; ou seja, o que o pobre paga a menos é proporcional ao quanto mais pobre ele é do que o rico. No caso atual, conforma aumenta a renda, aumenta a própria alíquota, fazendo com que se trate de uma verdadeira punição à riqueza.

    (Em todo caso, sou contra o imposto de renda. Acharia melhor imposto sobre consumo, ou até sobre algum tipo de consumo; ou, melhor de tudo, imposto de valor fixo para todos – claro, com exceção feita aos muito pobres que realmente não tivessem como pagar essa taxa, que seria, em todo caso, baixa.)

    E os ricos alemães (note-se: alguns ricos alemães, preocupados em alardear a própria nobreza moral altruísta em cartas abertas e manifestos) querem intensificar ainda mais essa injustiça, de quebra colocando outros, que nada têm a ver com esse manifesto dos puros, na história.

    Adriano, se o Brasil tivesse sido descoberto algumas décadas depois, por mercadores procurando diferentes rotas de comércio e financiados pelos grandes bancos europeus (que, aliás, foram muito prejudicados no fim da Idade Média pelo crescimento dos impérios e dos Estados nacionais – especialmente os do norte da Itália), isso seria tão ruim assim? Não dá para avaliar, claro. Mas toda defesa da arrecadação estatal com base em algum benefício pontual (por maior que seja) que adveio dela é sempre problemático.

    É como defender que se compre muitos bilhetes de loteria. “O que, você é contra?? Bem, se o Zé não tivesse gastado toda a renda dele na loteria, ele não teria ganho e hoje não seria um milionoário!”

    O que falta nesta discussão é o entendimento de que o rico é um beneficiador da sociedade; no mercado, o único jeito de se enriquecer é satisfazendo melhor do que os outros as necessidades dos consumidores, ou seja, do resto da sociedade. O homem mais rico do mundo, se parar de fazer isso, empobrece logo.

  19. Adriano,

    “ricos devem ser tratados com igualdade e pagar IR, pobres devem ser tratados com desigualdade e não pagar IR.”

    Igualdade e desigualdade em relação a quem ou a quê?? Na verdade, o que você está propondo é apenas desigualdade na cobrança do imposto; o que eu até aceitaria se o benefício estatal também fosse desigual. Mas, enquanto o benefício é o mesmo, não vejo motivos para impostos diferentes entre ricos e pobres.

    Quem disse que alguém vive em condições miseráveis porque uma outra pessoa só viaja de primeira classe? Não há relação entre uma coisa e outra. A vida miserável não é um conceito relativo, que só pode ser definido em relação a uma exuberância financeira. É claro que a miséria, onde ela existe, deve ser combatida. Mas não vejo por que prejudicar os ricos por causa disso. Outra coisa: é preciso cuidado ao se tratar de miséria. Ao meu ver, ninguém que ainda tenha um som ou uma televisão pode ser considerado miserável. Em geral, a miséria está mais relacionada a saneamento básico, segurança e, principalmente, dignidade. Assistencialismo estatal não acrescenta em nada à dignidade do homem, uma vez que não dá valor para sua iniciativa, ação e individualidade.

    Quanto ao Estado, não vejo por que ele precisa impor uma diferenciação de imposto entre ricos e pobres, já que a solução para a miséria não passa pela discriminação em classes. Pode-se muito bem combater a miséria com um imposto único. A forma como o dinheiro é arrecadado é irrelevante, desde que seja legal. O que importa é o emprego inteligente e eficiente da grana.

    No fundo, o que vocÊ está defendendo é a mesma utopia comunista: promete-se um ideal inalcançável em troca de poder sobre as pessoas. Ao apoiar a intervenção duvidosa do Estado, interferindo na igualdade das condições em que os particulares podem exercer suas liberdades, você está apenas incentivando a formação de uma outra classe, mais poderosa (porque atua diretamente na posssibilidade de ação de cada um) e mais rica (porque possui o poder de direcionar recursos de todos): os burocratas.

    Você poderia dizer que as condições financeiras em que um rico pode exercer sua liberdade não são iguais às dos pobres. Realmente não são. Mas isso também não significa que um pobre está impossibilitado de se tornar rico sem apelar a uma revolução sanguinária. Fosse o caso de não haver mobilidade entre as classes, nunca surgiriam novos milionários.

    É muito mais fácil, seguro e eficiente deixar que os particulares tenham a iniciativa de combater a miséria ou promover o bem para os menos favorecidos. Por que o Estado seria mais bonzinho do que eu ou você?

    Ademais, o Joel tocou num ponto fundamental. Os ricos não são maus só porque são ricos. Em muitos casos, eles fazem mais pelos pobres, mesmo em termos “humanísticos”, do que os próprios pobres. Mesmo sem fazer nada, eles já servem como um objetivo bom a ser alcançado. Numa sociedade em que só há cidadãos vivendo em condições medíocres, não há esperança.

    Para terminar, coincidentemente, o Reinaldo Azevedo postou, hoje, um artigo tratando dessa questão de se adotar um discurso que, em última instância, não signifca outra coisa senão uma mentira para justificar um poder injustificável sobre os outros.

    http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/cuidado-com-o-%E2%80%9Cbem-comum%E2%80%9D-ele-costuma-esconder-os-piores-crimes/

  20. Okay, eu poderia continuar, mas acho que seria às expensas da paciência de todos e também da saturação do próprio debate.

    Acho que devemos continuar o debate em outra ocasião, a não ser que achem ser okay continuar agora.

    De qualquer maneira, depois da réplica do Joel que vê o IR como uma forma de penalizar a riqueza, fica difícil debater. Eu de minha parte acho que a justiça distributiva é o melhor caminho para se trilhar, já o Joel apela para a justiça comutativa… como fazer esse debate? Não acho que seja possível… fica parecendo até questão de gosto (ou de classe).

  21. Okay, depois de uma longa resposta do Marcelo somada à do Joel, não há como não responder.

    Ocorre o seguinte: vocês têm uma visão idealizada da riqueza e do mercado. A mesma visão idealizada que os keynesianos e social-democratas têm do Estado e do proletariado. Porém em ambos os casos não passa de uma visão cor-de-rosa, que nada tem a ver com a realidade das coisas, que costuma ser corrupta tanto do lado do Mercado como do lado do Estado. Vejam a crise da alavancagem de Wall Street, que replicava créditos podres de empréstimos subprime: tal não existiria sem uma aliança entre Wall Street e Federal Reserve.

    Vocês falam do mercado e dos ricos em geral como se não houvesse corrupção ou fraudes de balanços, ou concorrência desleal. Vocês veem o mercado sempre de um ponto de vista ideal e ótimo, o que é mero idealismo, que, claro, não corresponde à realidade.

    O caso do IR e da alíquota progressiva existe no Brasil e funciona muito bem. Mas eu acho que é pouco radical. Quem produz no Brasil ou em qualquer lugar do mundo são as pequenas e médias empresas. Assim que elas passam a crescer buscam o monopólio, ou o oligopólio. Conheço pessoalmente um caso de um vendedor de frango do interior de São Paulo que constituiu uma série de empresas de fachada e que vende frangos em São Paulo de várias marcas, sendo todas dele. Por acaso isso é concorrência? Será que o mercado sozinho resolve tudo?

    É óbvio aqui que qualquer coisa que eu diga minimamente diferente do que apregoa a Escola Austríaca vai soar “socialista”. Mas eu sei quão mau é o socialismo, e eu sei que o regime de livre mercado é mau também, embora dentre todos os males o menos pior. Mas aí reside o problema: o mercado pode tender por vezes à inefiência. E pode corrompor-se e causar fraudes. Sei que os exemplos que uso e vou usar podem parecer bobos, mas na prática eles são bastante reais: diversas empresas hoje em dia continuam cobrando o mesmo preço por um produto, quando estão diminuindo o peso líquido total do que é vendido. Isso se chama inflação. E o que pode fazer o consumidor se a tendência geral do mercado hoje em dia é se utilizar desse tipo de prática inflacionária?

    Enfim, o que quero dizer com isso? Quero dizer que o mercado não existe em condições ideais nunca e que o cidadão está desprotegido contra ele, assim como está muitas vezes desprotegido contra um estado autoritário. Daí a necessidade de haver um equilíbrio de poderes de parte a parte.

    Agora quanto à ideia de que pobres e ricos devam pagar a mesma alíquota (proporcional) de impostos, ela é injusta do ponto de vista da justiça distributiva.

    Pobres e ricos são desiguais e uma das funções do Estado é quebrar as bases de estamentos rígidos que impeçam a mobilidade social em uma sociedade democrática. Isso implica o seguinte: tirar dinheiro dos mais ricos e construir universidades públicas, escolas públicas, estradas, etc. É claro que em um mundo ideal a iniciativa privada deveria suprir tudo isso, mas na prática vemos os mais ricos recorrendo à universidade pública, enquanto defendem o seu término. O que me faz pensar que nossos ricos são tão coerentes quanto os professores socialistas dessas universidades públicas, que vivendo em uma sociedade capitalista que banca essas universidades, defendem o sistema mesmo que os alimenta.

  22. Tanto o liberalismo radical quanto o socialismo prometem o “paraíso na Terra” em um futuro indeterminado e que chegará inapelavelmente através dos ‘mecanismos’ inerentes a seus sistemas.

    Ambos se esquecem do ‘pecado original’ e parecem tornar as decisões individuais meras peças de um quebra-cabeça de um desenho pré-definido.

    Parece-me claro que é muito mais eficiente não sobretaxar os ricos em vista de um futuro melhor e mais abundante para todos. Mas, é igualmente claro que é mais justo não sobretaxar os mais ricos para dar um nível mínimo de dignidade para os miseráveis de hoje em nome das gerações futuras desses mesmos miseráveis?

  23. Comentário de um grande empresário brasileiro que ouvi pessoalmente essa manhã e que ilustra bem essa “hipocrisia” moderna, mas voltada para o ecologismo:

    “A semana passada fui a um encontro de empresários que se dedicam à causa ambiental e o evento foi no iate do EB, no RJ, e constou de uma série de palestras durante um passeioem seu mega iate. Ao voltarmos ao pier de onde partíramos cada um dos empresários pegamos seus carros e nos dirigimos a cada um de nossos jatos particulares ou helicópteros, etc, etc, etc

    Se tivessem de repor os ‘prejuízos ambientais’ desse evento teriam que plantar um Ibirapuera provavelmente…

  24. Prezado Joel Silveira. Nessa você equivocou-se. Também não para todas as pessoas que os ricos alemães querem este plus de imposto: é só para os 2 milhões que ganham acima de 500.000 euros por ano, o que a 10% daria 100 Bilhões de euros. Algo como uns R$ 250 bi. Isso só na Alemanha. Imagina se estendessemos ao mundo!
    Outra Joel: na geração da riqueza, além do capital, existe sim o trabalho de muitos (braçal, tecnológico, científico, filosófico (por que não!), político também, serviço público também (vc. mesmo quer segurança ou quer milícias))

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>