O elogio da mãe chinesa

Nosso modo ocidental, moderno, de educar a criança é fazer com que ela se sinta amada e querida, fomentando assim sua auto-estima. Papai e mamãe vão ficar felizes mesmo se você não ganhar; é só dar o seu melhor!

Com a mãe chinesa é diferente. Ela não hesita em humilhar seus filhos e rebaixá-los moralmente; chega a delicadezas como chamá-los de “lixo”. Obriga-os a treinar e estudar até que superem, na marra, suas dificuldades. Se não ganhar, apanha. O ponto é que, depois de muito sofrimento, os filhos alcançam, em geral, as primeiras colocações no que quer que estivessem praticando. Os ocidentais, por outro lado, cheios de auto-estima mas com poucos troféus.

Esse é o ponto de vista chinês que está ganhando espaço na mídia de língua inglesa.

O sucesso, digamos, técnico dos chineses é inquestionável. Pergunto-me, contudo, se essa mesma pedagogia que produz pianistas e engenheiros impecáveis produzirá também compositores, filósofos e empreendedores capazes de não apenas obedecer, e sim liderar com perfeição. Imagino também qual o destino daqueles que, depois de toda a pressão, fracassam? Não que a saída “deixe a criança fazer o que lhe der na telha” pareça superior; deve haver um equilíbrio desejável por aí.

17 comentários em “O elogio da mãe chinesa

  1. Poxa, Jorge, como engenheiro fiquei irritado com seu texto. Quer dizer então que engenharia não tem espaço para empreendedorismo e criatividade, podendo formar engenheiros debaixo de lambada e cacete, enquanto outras profissões supostamente mais nobres em pensamento e empreendedorismo não?

    Confesso que não gosto de trabalhar (muito menos estudar) debaixo do cacete, e todas as vezes que a pressao chegou neste nível a qualidade da engenharia cai assustadoramente

  2. Joel,

    “O ponto é que, depois de muito sofrimento, os filhos alcançam, em geral, as primeiras colocações no que quer que estivessem praticando. ”

    Quantos milhares de primeiros lugares eles atribuem na China? :)

    O conceito chinês de felicidade (ao menos o atual, ao menos segundo essa descrição – pois parto do princípio que os pais chineses também querem a felicidade de seus filhos – parece muito pior que o do consumismo ocidental. É uma fábrica de neuróticos!

  3. Fear not, Andre! Referia-me apenas ao lado puramente operacional da engenharia (assim como da música ao mencionar os pianistas). Claro, toda profissão tem muito mais nela do que mera aplicação automática de métodos determinados.

  4. Joel, na tentativa de se desculpar, acabou, ainda que compreensivelmente, exagerando:

    “O homem de ciência atual é o protótipo do homem-massa (…). Uma boa parte das coisas que é preciso fazer em física e biologia é faina mecânica de pensamento que pode ser executada por qualquer pessoa. A firmeza e exatidão dos métodos permitem esta transitória e prática desarticulação do saber. Trabalha-se com um desses métodos como com uma máquina, e nem sequer é forçoso para obter abundantes resultados possuir idéias rigorosas sobre o sentido e fundamento deles”. (Ortega y Gasset, “A Rebelião das Massas”)

  5. Joel,
    Vá por mim; cacete em menino vagabundo não faz mal. Tive um irmão, já falecido, que não conseguia aprender a ler e a contar no Grupo Escolar da nossa cidadesinha, no qual as prof. formadas na Escola Normal da capital usavam a “pedagogia moderna”. Minha mãe o botou na escolinha do velho prof. João Lau, que não economisava palmatória nem vara de pereiro, e em 3 meses o moleque aprendeu tudo que não aprendera em 2 anos!
    Quanto ao seu receio do método não criar “compositores, filósofos, literatos, artistas e cientistas”, lembro-lhe que até o século 19 esse era o método universalmente usado, e ele produziu Galileu, Rembrandt, Newton, Goethe, Schiler, Mozart, Beethoven.. Kant… Hegel…. Darwin…. Tolstoi….. Degas…. Picasso……. Pasteur…….. Verdi…….. Poe…….. Freud…….. Wagner……… Einstein……… Ufa!!!

  6. parece q a história é um pouco diferente, joel: dá uma olhada neste post sobre o famigerado artigo, a diatribe q sucitou e a requalificação q ambos merecem:

    The more I re-read the Wall Street Journal article, the more I felt like I wasn’t getting the whole story. The “excerpt” made the book seem like a harsh diatribe against American parenting standards and a handbook of Ancient Chinese Secrets for fixing your lazy, sullen, Wii-addicted kids.

    And yet, pictures of the actual book on Amazon clearly showed a coverline that seemed to directly contradict that impression: “This is a story about a mother, two daughters, and two dogs. This was supposed to be a story of how Chinese parents are better at raising kids than Western ones. But instead, it’s about a bitter clash of cultures, a fleeting taste of glory, and how I was humbled by a thirteen-year-old.”

    There was little, if any humility in the Journal piece. Something was definitely missing.

    Read more: http://www.sfgate.com/cgi-bin/article.cgi?f=/g/a/2011/01/13/apop011311.DTL&ao=all#ixzz1DNQbq7n2

  7. Ia fazer um comentário enorme, mas perdi tudo.
    Vou resumir minha posição: procurar um caminho do meio.
    “Não atormente seu filho”, diz a Bíblia.
    “O pai que recusa a vara a seu filho o odeia até a morte”, diz a Escritura.
    Amor e rigor precisam andar juntos.

  8. A propósito, da carta da filha:

    I remember walking on stage for a piano competition. I was so nervous, and you whispered, “Soso, you worked as hard as you could. It doesn’t matter how you do.”

    Ou seja: “Papai e mamãe vão ficar felizes mesmo se você não ganhar; é só dar o seu melhor!”

    Por aqui, opostamente ao que disse o Joel, não se exige que a criança dê REALMENTE o melhor — there’s the rub; e a criança logo entende que, no fundo, ninguém nada espera dela, e é com essa avaliação de si mesma que ela fica. E eis que o fantasma dos Natais futuros lhe mostra os cursinhos para concursos públicos.

  9. Está certíssimo Helder,
    Não sei praquê esse inglesismo todo dos nossos caros amigos comentadores. A coisa tá na Bíblia, o livro mais sábio já escrito; até a moderníssima teoria do “big-bang” tá lá no Gênesis: é só ler com atenção.
    Quanto ao “inglesismo”, não é despeito; também falo; até fiz cursos de direito na Harvard Law School e no Colege of Law da Illinois University; mas por que não botar em português o texto por você acima transcrito pra que nossos amigos que não falam inglês também entendam?
    Me desculpe, amigo Luizgusmao, mas acho que houve uma boa dose de elitismo e cabotinismo na sua citação.
    Grande abraço pra todos.

  10. Emenda rápida: “o texto acima transcrito pelo luizgusmao” e não pelo Helder, que deve ter ficado tão perplexo quanto eu e alguns outros.
    É isso aí.

  11. Virgílio,

    Creio que haja uma grande diferença entre exigir que cada um dê “o melhor de si” nem que seja a palmadas (que parece ser a tônica da educação antiga) e exigir que se atinja os primeiros lugares.

  12. Não, amigo Wagner: palmada é coisa maneira de ontem! Antigamente era palmatória, vara de marmelo no bum-bum, joelho no grão de milho e chapéu de burro na cabeça, com exposição em banquinho na janela pra que o povo na rua visse. Minha sogra é uma portuguesa lúcida de 95 anos e conta como era a escola quando criança; ela só tem o primário, mas, apesar da idade, tem a letra muito mais bonita e escreve muito melhor do que muito “doutô” de hoje.
    É fato que o tempo dela produziu o Salazar, mas também produziu o Fernando Pessoa, o Egas Moniz e o Saramago!

  13. “lembro-lhe que até o século 19 esse era o método universalmente usado, e ele produziu Galileu, Rembrandt, Newton, Goethe, Schiler, Mozart, Beethoven.. Kant… Hegel…. Darwin…. Tolstoi….. Degas…. Picasso……. Pasteur…….. Verdi…….. Poe…….. Freud…….. Wagner……… Einstein……… Ufa!!!”
    Os pais- já que estamos falando das mães chinesas- criaram esse pessoal todo do mesmo jeito? Será? Da Série “Nunca abri uma biografia ou um livro de História, mas adoro falar do que não entendo”.
    “ela só tem o primário, mas, apesar da idade, tem a letra muito mais bonita e escreve muito melhor do que muito ‘doutô’ de hoje.”
    Que bonito, já pode trocar lembranças do primário com o companheiro Lula. Não é mais só na esquerda que falta de estudo virou motivo de orgulho…

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