O Libertador dos Povos Latino-Americanos: Hernan Cortez

Deixando a Ayn Rand e seus supostos sonhos ditatoriais de lado, vamos falar da coisa genuína: as tiranias sanguinárias  da América Latina… quinhentos anos atrás.

Afinal de contas, a conquista da América foi algo bom ou mau? Reza o credo politicamente correto que Cortez e seu bando de gananciosos invadiu e destruiu culturas pacíficas, povoadas por homens bons e ingênuos. Será?

Então leiam este artigo sobre a história dos astecas que saiu no Times. O que inspirou o artigo foi uma exposição em Londres de artefatos do período de Montezuma. Não é de hoje que a América Latina sofre sob tiranos prontos a sacrificar a própria população.

20 comentários em “O Libertador dos Povos Latino-Americanos: Hernan Cortez

  1. Se os ingleses estão descobrindo agora que Montezuma não foi flor que se cheire, quem sabe, talvez, daqui a cem anos, os brasileiros voltem a olhar com bons olhos o padre Manoel da Nóbrega e os outros heróicos jesuítas que aqui edificaram no séculos XVI e XVII, não é mesmo?

  2. Se você visita o museu de San Pedro Atacama, no deserto chileno de Atacama, verá que sacrifícios humanos devia ser algum predecessor dos métodos bolivarianos atuais.

  3. Haja relativismo. E sobre o comment do Tibiriçá: impensável o Brasil sem a marca dos jesuítas; forte a ponto de sobreviver alive and kicking após o divisor de águas pombalino. Pode ser desejo apenas, mas parece haver uma certa recuperação da figura de Anchieta. A Associação Comercial de São Paulo (se não me engano) publicou há poucos anos uma bela coleção de suas cartas, leitura inclusive muito divertida; e o controverso gigante que foi Vieira está por aí nas livrarias, acessível com facilidade para quem gosta da língua que ele ajudou a definir. Um bom contraste com Bossuet, para quem estiver inclinado. Sobre Vieira, os cinéfilos lembrarão também do excelente filme biográfico de Manoel de Oliveira, com locações em Salvador e Roma.

  4. ninguém honestamente pretende que os povos pré-colombianos fossem ingênuos e inocentes, selvagens do Rousseau isolados da história. Eram, sim, um povo violento com certas práticas culturais altamente reprováveis (como, de fato, todas civilizações). Nada disso torna o seu genocídio justificável, nem a tentativa de *absoluta* erradicação de todos os elementos de sua cultura. Mesmo se você for tomar como pressuposto as questionáveis “boas intenções” dos colonizadores.

  5. O link abaixo é para um texto de duas páginas de Jacques Le Goff no Monde, aparentemente de 2006. Ele discorre sobre processos de globalização e lá pelas tantas faz alusão às culturas pré-colombianas (expressão que ele com certeza sabe ser muito, mas muito abrangente mesmo). Vai na língua do gajo, inclusive o excerto com a tal alusão, para contrastar com os altos teores de inglês neste blog.

    http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3210,36-768790@51-768799@45-1,0.html

    La colonisation liée à l’expansion de l’Europe, et qui finira sous les formes du capitalisme, commence aux XVe – XVIe siècles et frappe surtout l’Afrique et l’Amérique. Parmi ce qu’on peut appeler les progrès, il faut dire qu’elle met fin – je suis choqué du fait qu’on en parle si rarement – à la cruauté des dominations et des cultures précolombiennes en Amérique. Les Etats aztèques, incas et même mayas étaient des Etats d’une grande cruauté interne dont les cas les plus éclatants sont les sacrifices humains.

  6. Perfeito, Carlinhos.

    De um lado, imbecis (principalmente de esquerda) dizendo que os tais povos eram os bons selvagens do Rousseau.

    De outro, imbecis (principalmente de direita), tentando justificar um genocídio. Genocídio só é errado quando praticado por uma causa errada? Quando é pela causa certa vale?

  7. Acho que uso palavra “imbecil”, ainda mais de modo repetido, transpira uma rudeza desnecessária.

    Gostaria de destacar dois aspectos dos comentários do Inguinorante e do Carlinhos:

    Primeiro, o comentário do Carlinhos poderia ser mais interessante se não caísse na tentação do pensamento politicamente correto, evidente na ressalva “como, de fato, todas civilizações”. Na minha santa inguinorança me parece que eles insinuam que o texto e/ou os demais comentaristas estariam subliminarmente de acordo com a “*absoluta* destruição da cultura nativa por colonizadores bem intencionados”. Entendi errado?

    Escravidão, luta de gladiadores na arena, farra do boi, execuções em praça pública em Saudi, infanticídios na Amazônia, mutilações genitais de mulheres, crimes de honra. No passado e no presente estas práticas representam valores culturais para grupos e povos. Devemos então aceitar calados que tais práticas existam e nos curvar cegamente aos ditames do relativismo modernitcho?

    O foco dos outros comentários me parece perfeito: o papel civilizatório e humanizador da Igreja através da história e o ostracismo a que os vultos da nossa história (hoje, apenas 30 anos após o meu primário/ginásio – OK, revelei a minha idade – o próprio uso deste termo parece tão arcaico… triste povo que não cultua seus heróis!) foram relegados intencionalmente. Há aqui um julgamento de valor? Claro que há! Tome-se como parâmetro por exemplo o valor e o respeito à vida humana, e fica claro a superioridade moral da fé cristã. Eu, pelo menos, não tenho dúvidas de que a mensagem católica é vastamente superior às “práticas culturais” que listei acima.

    Segundo, até aonde eu saiba, o genocídio a que eles se referem não seria possível sem o apoio dos outros povos e tribos que viviam por ali. Talvez eu esteja errado nesse ponto. Mas se assim foi, então não foi uma luta do malzinho europeu contra o indígena quietinho no seu canto. Foi mais complexo que isso. E há mais coisas a se dizer.

    Queria saber por que eles dizem que quem é “principalmente de direita” é automaticamente favorável a “gorilas, massacres, genocídios, o Diabo, lobos-maus, bichos-papões, …”? Acho que os seus comentários trouxeram um dualismo direita-má esquerda-ingênua (note-se a diferença de adjetivação) estranho ao debate. Mas já que a conversa foi para o lado da ideologia política, vale lembrar que Mao, Pol Pot e Stalin – citando apenas os expoentes – provam que o conceito “direita-apóia-genocídio” pode ser bonitinho e politicamente correto, mas é historicamente errado.

  8. “Nada disso torna o seu genocídio justificável, nem a tentativa de *absoluta* erradicação de todos os elementos de sua cultura.”

    Há duas afirmações aí que precisam de mais esclarecimentos:

    a) Os espanhóis tentaram promover a erradicação *absoluta* de todos os elementos da cultura asteca?

    Essa afirmação é grosseiramente exagerada. Eu sei que o nome do país na era colonial era “Nova Espanha”… mas tratava-se de fato de um simples transplante da Espanha no Novo Mundo?

    Todas as fontes sobre história da arte dizem que a influência indígena sobre a arquitetura, a pintura e a escultura sacra colonial mexicana é profunda e que a arte barroca das igrejas mexicanas coloniais está longe de ser uma mera cópia dos modelos espanhóis. Para não falar em festejos populares como o Día de Muertos, onde as caveiras astecas se integraram a uma festa cristã. (Há outros exemplos.)

    Além disso, o nauatle (a língua dos astecas) conta com mais de 1,5 milhão de falantes no México ainda hoje, onde goza de proteção constitucional e legal. Ou seja, está vivo e passa bem. E isso se deve em boa parte à ação dos missionários católicos: durante todo o séc. XVI e a maior parte do séc. XVII, o bilinguismo espanhol-nauatle era a regra básica da ação missionária no país. Tratava-se também de política de estado: em 1570, o rei Filipe II decretou o nauatle uma das línguas oficiais da Nova Espanha. As tentativas oficiais de espanholização foram tardias, mais intensas apenas a partir do final do século XVII, e não surtiram grande efeito prático durante a época colonial: em 1820, estimava-se que 60% dos mexicanos eram falantes de línguas indígenas. Estas entraram em decadência, de fato, apenas depois da independência… quando, por definição, já não se pode mais pôr a culpa nos espanhóis. E mesmo assim, o número absoluto de falantes dessas línguas no país ainda hoje não é pequeno.

    Noves fora, parece que o único elemento cultural que os espanhóis tentaram a todo custo erradicar do México foram as religiões pagãs. E mesmo nesse caso, a arte sacra e o folclore mexicanos parecem comprovar que os castelhanos aceitaram a incorporação de todos os elementos simbólicos e estéticos nativos que não constituíssem afronta direta a princípios básicos da religião católica.

    b) Os espanhóis promoveram o genocídio dos astecas?

    Genocídio é um termo que tem uma definição jurídica precisa e geralmente aceita:

    http://www.genocidescholars.org/aboutgenocide.html

    Os atos de conquista perpetrados pelos espanhóis contra os astecas podem ser caracterizados como genocídio?

    Não direi que sim, nem que não. Mas direi que essa caracterização não é óbvia e requer discussão.

    A simples redução da população nativa — em consequência sobretudo das epidemias que se seguiram à conquista, mais do que de atos de guerra ou violência — não caracteriza genocídio. Para tanto é necessário intenção: seria preciso que a redução demográfica tivesse sido um intento deliberado dos espanhóis. E ainda que se comprove intuito deliberado em casos restritos e em localidades e momentos específicos, seria necessário comprovar que a erradicação parcial ou total da população indígena era parte integrante da política colonial espanhola de um modo geral: isto é, que substituir os índios pelos espanhóis nas Américas era a meta final da Coroa em Madri. Considero altamente duvidosa essa alegação, e o ônus da prova incumbe a quem a faz.

    Não estou dizendo que os espanhóis não tenham cometido atrocidades e que os índios do México não tenham sofrido nenhuma injustiça. Mas existem graus para essas injustiças, e nomes adequados para cada um desses graus. Colonização, por si só, não é genocídio. O termo “genocídio”, que é forte e contundente, está sendo banalizado, e não me parece suficientemente claro que o alegado “genocídio asteca” fuja dessa tendência à banalização.

    A palavra “genocídio” foi criada pelo jurista judeu polonês Rafal Lemkin nas décadas de 1930 e 1940. Ele tinha em mente os genocídios turcos perpetrados contra os armênios, assírios e gregos na Ásia Menor e, mais tarde, o genocídio alemão contra os judeus na Europa Central e Oriental. Nesses casos, as violências duraram poucos anos, mas seus resultados foram a erradicação física quase total dos alvos da violência. Na Turquia de hoje, quase não há mais comunidades armênias, assírias ou gregas, e na Europa Oriental os judeus foram quase extintos. Os vestígios dessas populações naquelas regiões são essencialmente arquitetônicos e arqueológicos; as comunidades vivas sobrevivem basicamente em outros lugares. Já no México, após mais de cinco séculos de suposto genocídio, cerca de 70% da população é mestiça, e mais uns 20% são índios puros. Estranho genocídio. Usar a mesma palavra para os armênios do leste turco e os índios do México parece muito inadequado.

  9. Carlinhos:

    sim, sem dúvida. Genocídio nunca é uma boa ação. Mas eu também devo dizer que não está claro que os espanhóis cometeram um genocídio, embora o resultado prático tenha sido, com efeito, incontáveis mortes.

  10. Inguinorante:
    Devo admitir que também sinto um certo tom bastante hostil nos seus comentários e uma tentativa de classificar ideologicamente tudo o que qualquer um escreve aqui. Não é uma atitude lá muito construtiva.

  11. Senhores, desculpas pela hostilidade e rudeza, de coração.

    Em cima de tudo o que foi dito, acho que pode-se afirmar que temos um consenso de que, no mínimo, ‘incontáveis mortes” ocorreram.

    Posto isso, acho que a grande pergunta que devemos nos fazer é até onde vão os limites dos meios a serem empregados na ação civilizadora.

    Me parece bastante óbvio que eles foram excedidos pela Espanha.

    E quanto a tentativa de classificar ideologicamente tudo que é postado aqui, infelizmente, é assim que as cabeças funcionam, Joel.

    Os espanhóis atropelaram a moral cristã agindo como agiram. Se séculos depois consideramos o resultado satisfatório, o que eles fizeram lá atrás continua errado. E ao invés de falarmos que foi um erro cometido, o que fazemos? Tentamos enxergar a todo preço que o erro “não foi tão errado assim”.

    Eu acho isso bastante lamentável.

    Na minha opinião, quando os católicos tentam justificar ou relativizar o que ocorreu usando o argumento da moral cristã superior ou dos resultados obtidos, acabam caindo no tal pensamento revolucionário do Olavo de Carvalho, que eles dizem tanto abominar.

  12. “Na minha opinião, quando os católicos tentam justificar ou relativizar o que ocorreu usando o argumento da moral cristã superior ou dos resultados obtidos, acabam caindo no tal pensamento revolucionário do Olavo de Carvalho, que eles dizem tanto abominar.”
    Primeiro coisa, em que momento do texto ou dos comentários se tenta relativizar o que ocorreu? O que se está argumentando é o fato de muitas civilizações pré-colombianas terem uma cultura altamente destrutiva e opressora!
    Segundo: lembrando o Reinaldo Azevedo, o Inguinorante não está criticando o que o texto ou os comentário disseram, mas o que eles não disseram! Ele simplesmente introduziu o genocídio nos comentários e passou a criticá-los, como se em algum momento tal prática monstruosa e macabra tivesse sido defendida!
    E por último: a Igreja Católica não tem nada a ver com a colonização como ela se deu! Desde o começo a colonização foi uma prática dos Estados nacionais! A Igreja fez sim, foi defender os povos que aqui viviam, basta ver a proporção de indígenas ainda hoje existentes nas populações da América Latina e compará-las com proporção de indígens na América do Norte, majoritariamente protestante!

  13. A colonização espanhola não foi “um ato”. Puxar um gatilho é um ato. Esconder o troco a mais é um ato.

    A colonização foi um processo, composto de vários atos. Assim, não é necessário condená-la ou louvá-la como se fosse um bloco indivisível. Houve boas e más ações nesse processo. A colonização não foi um erro; houve erros na colonização. E acertos também, oras!

  14. em nenhum momento eu coloquei a distinção direita/esquerda, tampouco acredito que isso faça parte indissociável do debate.

    eu concordo, sim, que exista um exagero na vontade de demonizar o homem branco europeu como o maior dos males da humanidade. o que me incomoda no post é a vontade de simplificar o debate na outra direção, caricaturizando um discurso (que na realidade é muito mais complexo e matizado) de forma simplista e jogando tudo no balde do “politicamente correto”.

    eu estudo em universidade pública e encontro diariamente os supostos detentores do “politicamente correto”. não costumam ostentar esse relativismo absoluto e nem uma visão tão simplista da opressão européia (que – é bom lembrar – de fato existia, apesar da moral cristã, que de fato escravizava uma raça e de fato diminuía um dos sexos).

    o que me incomoda é ver um dos lados de um aparente embate de idéias recair no que me parece ser o mesmo erro do outro: simplificando as ideias do outro e jogando tudo num mesmo saco. pra mim é o que acontece quase sempre na dicta.

  15. “o que me incomoda é ver um dos lados de um aparente embate de idéias recair no que me parece ser o mesmo erro do outro”

    [2]

  16. Carlinhos Jaime, pois eu me formei em universidade pública, na área de humanas, frequentei congressos pelo Brasil, e o que eu mais encontrei, inclusive professores, foram caricaturas ambulantes! Pode parecer simplificação mas não é. É uma gente burra e estúpida de verdade!

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