O Pastor Ateu

O Reverendo Klaas Hendrikse é pastor da Igreja Protestante Holandesa, mas suas crenças fogem um pouco do comum. Que o eventual leitor cristão não fique chocado por ele negar a ressurreição física de Cristo. Essa posição é das mais conservadoras, até tradicionalistas, dentre as que o pastor defende.

Pois o Rev. Hendrikse é da opinião que não só a ressurreição, mas a própria existência de Jesus Cristo são eventos simbólicos, mitológicos, assim como (na opinião dele) Sócrates ou Dionísio. Filho de Deus? Bem, para isso ter algum sentido Deus teria que ser uma coisa, existir de alguma maneira. E isso já seria ir longe demais no fanatismo. “Deus não é, de maneira alguma, um ser. Deus não é, de maneira alguma, uma coisa.” Aqui os estudantes de teologia tradicional podem até ver uma esperança, um insight apofático e inegavelmente ortodoxo. Para não dar margem a mal-entendidos, o entrevistador da BBC pergunta, perplexo: “O que é Deus?”, ao que o pastor responde: “É uma palavra para experiência, experiência humana.”

Seu livro “Acreditando num Deus Inexistente” provocou ultraje em setores mais tradicionalistas do protestantismo holandês, mas como suas opiniões são bastante difundidas entre outros pensadores da Igreja, o comitê decidiu mantê-lo em seu cargo. De fato, um estudo constatou que 1 em cada 6 clérigos da Igreja Protestante Holandesa é ateu ou agnóstico. Toda essa inovação doutrinal, missionária e até litúrgica (em outra igreja, os fiéis escrevem em placas coisas que impedem que a terra seja o paraíso – câncer, guerra, fome – e as destroem) tem como meta manter a religião relevante para uma população que vive num livre mercado de crenças e procura alguma satisfação espiritual, embora longe dos conceitos ultrapassados de “Deus”, “existência”, “certo” e “errado”, etc.

A quem espera algum tipo de vida eterna, algo que dê esperanças face à inevitabilidade da morte, Rev. Hendrikse já avisa: “Pessoalmente, não tenho talento para acreditar em vida depois da morte.”

22 comentários em “O Pastor Ateu

  1. A não ser que sua intenção tenha sido “olhem só como florecem asneiras entre os não-católicos (claro, TODOS eles)”, não vejo porque citar algo tão, digamos assim, nulo. Resumindo seu artigo: Vejam que merda! e não é nossa.

  2. Sou da opinião de que não houve ressureição, e que Cristo não morreu na cruz. Foi outra pessoa quem morreu alí. Como concluimos isso? Ele apareceu vivo dois dias depois.

    O que aconteceu é que um seguidor pode ter se candidatado para o sacrificio no lugar de Jesus; Veja, mesmo nos dias de hj, se vc quiser encontrar um fiel que aceite morrer no lugar de seu líder espiritual, não encontrará dificuldade… Aconteceu em Waco, Texas.

    Também acho suspeito o fato de Judas ter “suicidado-se”.

    Sou da opinião que todos eles, apóstolos e Cristo, perceberam que a Judéia tinha se tornado um lugar muito perigoso para pregar a nova religião. Então a idéia de encenar uma “delação” e entregar um outro “Jesus” para morrer na cruz, tornou-se uma forma de sair de cena

  3. Os europeus, esgotados pelo ateísmo tradicional, começam a redescobrir o cristianismo, mas adaptando-o às suas crenças neodarwinistas e filomarxistas. Quem foi que disse que, quando se deixa de acreditar em Deus, acredita-se em qualquer coisa? Acho que foi o Chesterton.

  4. E porque o “certo” e o “errado” têm que estar de acordo com a existência, ou não, de Deus? Afinal de contas, o que é “teologia”? A meu ver, não é ciência, não é crença, não é nada! É a forma como os católicos encontraram para dar uma desculpa elegante para suas asneiras. E, sim, sou um profundo ignorante, não estudei teologia, nem preteno estudar. A vida é curta demais para se perder com perfumarias.

  5. O comentário do Ricardo é MARAVILHOSO!
    Sobre um assunto no qual o próprio reconhece ser um profundo ignorante, ele dá uma curiosa “aula”, cheia de afirmações e negações. O assunto ignorado in totum é, segundo o “professor”, “a forma de uma desculpa elegante” e “perfumaria”; e não é “ciência”, “crença” ou “nada”. Além disso, parece haver uma certa raiva de algo que ignora profundamente (!!??) (Pergunto-me se eu seria capaz de ter raiva das regras gramaticais do devanagari…). Não deixa de ser intrigante como alguém se recusa a perder tempo com algo que “ignora, mas sabe tanto”, e ao mesmo tempo tem energia para ter raiva dele.
    Essa foi uma das mais claras e divertidas manifestações do que Eric Voegelin chamava de “a autoridade da ignorância”; a mais imbatível e insuperável forma de autoridade.

  6. Concordo com o Luiz Renato: nem estas manifestações de frieza espiritual que vemos no protestantismo, tampouco as muitas superstições cegas do catolicismo, arranham o sentido do Verdadeiro Cristianismo – que é supra denominacional e consiste em uma relação real com Jesus Cristo.

  7. “A vida é curta demais para se perder com perfumarias.”

    E, no entanto, aqui está o nosso herói perdendo tempo com “perfumarias.”

  8. Pena que o próprio Cristo não seja adepto desse “supradenominacionalismo”, tendo, pelo contrário, fundado uma Igreja material e concreta para Si.

  9. Comentário como os números 3, 8, 10 e 12 me fazem concordar com determinados sites/blogs que moderam os comentários moderados ou mesmo nem disponibilizam espaço para comentários.

    Vão ler G.K. Chesterton e não encham o saco.

    Abraços,

    H.

  10. Henrique,

    Se não existissem comentários como o meu e de outros aqui este não seria um espaço para comentários, mas sim para babação de ovo. O que você propõe é censura, pura e simples. Pense nisso.

    Abraços

  11. Impressionante como alguns (alô, Henrique!) não tem capacidade para o debate. A agressão é a via mais curta para expressar as idéias (bem primitivo…). Proposta para ler G.K. Chesterton são bem vindas, assim como para ler Agostinho, Pascal ou Kierkgaard. Pior que a visão que limita a Igreja de Cristo a uma instituição, é a falta de argumentos e bom ânimo para debater este ponto. Realmente, deveriam censurar os comentários dissonantes, para que um grupinho de bajuladores mantivessem o “nível de qualidade” de um debate dogmático. Afinal, deve ser assim que funciona no clero.

  12. Pingback: Ateus: reencenando velhos erros | Deus lo Vult!

  13. Isso é uma consequência lógica de uma doutrina que começou relativizando o papel convergente da Igreja enquanto instituição sagrada, e passou a banalizar a Graça como mero efeito colateral da leitura ou estudo da Bíblia, e, por conseguinte, a negar a eficácia dos sacramentos e dos dogmas como autênticas experiências místicas. Com efeito, Kierkegaard observa que a Igreja Protestante de sua época, místicamente falida, já tornara-se uma religião profana, um clube social em ótimos termos com o Estado laico e com a sociedade cética e descritianizada do sec. XIX. Ele ouviu estarrecido, no seio desta Igreja os conceitos mais variados de divindade, até o panteísmo espinozista; os poucos dogmas que restaram eram meros conceitos simbólicos de caráter quase gnóstico. Nela submetia-se a Bíblia a todos as modas metodológicas de historiografia e filologia, rebaixando-a a mais um documento mito-poético da história geral das religiões. No epílogo de “Temor e Tremor” ele faz uma irônica analogia entre essa “Igreja Protestante” e seu suposto rebento “O Capitalismo”, mostrando como a lei da oferta e da procura estava sendo aplicada à sua teologia. E coincidentemente (ou não!) Kierkegaard usa como cenário desta narrativa a Holanda; ele diz o seguinte: “Tendo uma vez na Holanda, baixado demasiado o preço de especiarias, os mercadores fizeram lançar ao mar alguns carregamentos com o objetivo de os elevar de novo. Trata-se de um manobra perdoável e talvez mesmo necessária. Mas, precisamos de idêntica operação no mundo do espírito?Estamos tão seguros de ter chegado ao cume que só nos resta supor, piedosamente, não o haver ainda alcançado, para ter com que preencher o tempo?…”
    Seriam duas boas questões para esse pastor-ateu refletir. Não à toa Kierkegaard, e seu pupilo póstero Karl Barth (grande articulador da teologia-dialética-para-tempos-de-crise) declarariam certa simpatia pela infalibilidade da Cátedra do Bispo de Roma.

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