O peso da paternidade

Se vivemos o início de uma implosão populacional no Ocidente, é porque, para muitos casais, ter filhos parece um sacrifício muito grande, algo que não vale a pena; ou uma responsabilidade à qual não se sentem preparados. Quem sabe um, no máximo dois, e só. Há quem, inspirado por ideais, digamos, conservadores, deplore essa situação, e exorte todos à prática do sacrifício: ter filhos é mesmo um fardo, mas é um dever que sejamos menos egoístas e aceitemos uma vida menos feliz para cumprir o “crescei e multiplicai-vos”.

Outro postura é a adotada por Bryan Caplan, professor de economia da George Mason University, exposta em seu livro Selfish Reasons to Have More Kids: ter filhos é uma experiência muito gratificante, e os custos dela têm sido grosseiramente superestimados. Nossos cuidados com os filhos têm pouco ou nenhum efeito na pessoa que eles serão quando adultos, como indicam pesquisas feitas com filhos adotivos e gêmeos idênticos que cresceram separados. A genética fala mais alto que a formação. Portanto, pode relaxar, curtir e deixar vir os bebês.

Aqui, uma entrevista com Caplan feita pelo blog da revista First Things. A tese é polêmica, e pode talvez desagradar à primeira vista, mas não posso deixar de notar que, de fato, as preocupações com o “jeito certo” de se cuidar de um filho chegam hoje à neurose: métodos educacionais, cursos extracurriculares, brinquedos educativos, cuidados alimentares, produtos para bebê (eu, como pai recente, sei por experiência própria a quantidade de produtos “essenciais” que nunca saíram da caixa). Talvez a tese de Caplan seja basicamente o senso comum de gerações passadas: cuide do bebê e da criança, mas sem exageros; ela vai crescer por conta própria; a responsabilidade não é tão opressiva quanto parece. E talvez isso torne a paternidade e a maternidade mais atraentes para muitos.

7 comentários em “O peso da paternidade

  1. “Nossos cuidados com os filhos têm pouco ou nenhum efeito na pessoa que eles serão quando adultos”

    Este trecho poderia ser facilmente mal interpretado.

  2. Estou aqui com o meu primeiro filho no colo e agora percebo que as pessoas criaram muitas “modas” sobre criação de crianças, e terminaram por achar que ter filhos é difícil demais. Bobagem! Dá trabalho sim, mas não se gasta tanto, nem há tantos perigos e necessidades assim.

    A Paz!

  3. Existe não só um mito de que a paternidade é opressiva, como já vi por aí tratarem a gravidez como uma espécie de doença – se não me engano o Drauzio Varela é dessa opinião.

  4. Santa Ignorância, Batman! E a fenotipia escorre bueiro abaixo. Pra não dizer de coisas como radiação e substâncias cancerígenas, por exemplo DDT e alguns componentes de plástico industrial. E mais importante, pra não falar das pesquisas mostrando que a atividade dos genes muda segundo o ambiente (e, consequentemente, segundo a criação dispensada à criança…).
    O que se destaca aqui, porém, é a irresponsabiidade total revestida de cientificismo que o “autor” do texto defende como se positiva fosse. Ou seja, independente do que for seu filho, você não é culpado… “Vale a pena viver! Não tenha culpa! GOZE!” O filho (e o pai) são meras marionetes cujo destino determina-se por forças tais quais a genética, o darwinismo social, a lei de mercado… E a vida é a do fantoche que finge ser gente por divisar os imaginários fios que o prendem a uma mão invisível. O próximo passo é defender abertamente a perversão (afinal, eu não controlo meus atos…).

  5. Talvez eu tenha errado, o link indica que sim, mas se lembro bem ele falou isso num quadro dele na Globo.

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