O sacrilégio de Obama

Uma das maneiras de indicar vitória em uma guerra é, sem dúvida, marcar a posse de algo – fincar uma bandeira ou construir um prédio no território onde ocorreu a luta.

É uma espécie de “etiqueta” entre os vencedores e os vencidos.

Por isso, enquanto o Brasil se preocupa com uma eleição que já está decidida desde o início dos tempos, algo mais grave ocorre nos EUA: o debate sobre se deve ou não construir uma mesquita  a dois quarteirões do Ground Zero*, o lugar onde ficavam as torres do World Trade Center, as mesmas que desabaram com o ataque terrorista de 11 de setembro.

As discussões ficaram tão acaloradas que até Barack Hussein Obama entrou na confusão – e, pela primeira vez na história dos EUA, um presidente americano defendeu explicitamente os muçulmanos, afirmando que não havia problemas na construção da mesquita, claro, desde que tudo fosse mantido dentro dos limites da “tolerância religiosa”. Não seria hora de mudar seu nome para Al-Bama?

Como bem apontou Charles Krauthammer, trata-se de um sacrilégio de marca maior. Não se deve construir nenhuma mesquita naquele lugar porque simplesmente deve-se respeitar os mortos que ali foram abatidos.

Mas a suposta tolerância liberal pensa diferente. Acha que todos devem ter uma chance de expressão. Não se sabe se isto é culpa ou pura pusilanimidade.

O que estes supostos democratas não percebem é que a democracia, para funcionar corretamente, deve ter e impor seus limites. É por essa razão que ela não é um valor em si e apenas um sistema de governo; a democracia precisa de uma ordem pré-existente antes de que possa providenciar as liberdades e os direitos de seus cidadãos. E tal ordem não está inscrita nas leis e sim nos costumes de cada povo, que foram alimentados por uma determinada tradição que tem os anos para comprovar a sua eficácia. Em outras palavras: uma democracia nunca pode ser uma anarquia.

Contudo, o que Obama et caterva propõem não é nem uma democracia, nem uma anarquia. É a mais absurda das oligarquias – que, se não for controlada a tempo, se tornará uma oclocracia, o governo da ralé. Sim, da ralé – a ralé espiritual que pensa que uma construção é só uma construção e que uma rosa é só uma rosa.

E, enquanto isso, ficamos aqui, de camarote, pensando em nossas eleições já decididas e vendo o caso mais grave de inflitração muçulmana em um governo americano desde que Alger Hiss foi descoberto como espião da KGB.

 C´est drôle, n´c´est pas?

* Agradeço ao leitor Marco pela correção a respeito da proximidade da mesquita em relação ao Ground Zero, mas ainda assim isto não é motivo para “deixar para lá”. Dois quarteirões, mesmo no padrão nova-iorquino – quem foi àquela cidade sabe que caminhar nela, mesmo que seja por um quarteirão, é uma distância considerável – ainda possui um simbolismo de posse que não pode ser negado.

22 comentários em “O sacrilégio de Obama

  1. Peraí, a mesquita proposta fica a dois quarteirões do Ground Zero, e não no local onde ficavam as torres. A questão principal em discussão é se é legítima a construção da mesquita nessa região.
    Os opositores do projeto estão identificando a comunidade muçulmana como um todo com os terroristas fanáticos, o que considero um absurdo. A liberdade de culto, vigente nos EUA desde o começo da colonização, está em jogo. Será que a vontade popular, mesmo da maioria, pode se sobrepor aos direitos constitucionais de um grupo religioso?
    Entendo que os americanos tem o direito, até mesmo o dever, de lutar para preservar seu modo de vida e as instituições democráticas e pluralistas. O fundamentalismo islâmico deve ser combatido, onde quer que esteja, e a política norte-americana não pode se desprender dos valores que dão seu fundamento. Deve ser rejeitado, assim, qualquer proposta de “relativismo” ou “multiculturalismo” que comprometa o regime democrático e liberal.

    O que não é admissível é adotar medidas que atentam contra os próprios fundamentos da democracia norte-americana, o que inclui a liberdade de culto e a preservação dos direitos das minorias.

  2. Os opositores não estão identificando a comunidade muçulmano com terroristas fanáticos. Krauthammer não faz isso no artigo dele. E não é o caso deste outro artigo do blog Powerline – veja os pontos 3, 5 e 6: http://www.powerlineblog.com/archives/2010/08/027015.php

    A liberdade de culto é fundamento da democracia americana mas se baseia na experiência das brigas entre cristãos. Não entre cristãos e muçulmanos. As diferenças entre estes dois casos podem ter consequências bem diversas.

  3. Caro,

    infiltração por infiltração muçulmana, se isso fosse gravíssimo, a Inglaterra já estaria dominada, porque o Príncipe Charles já é muçulmano – e sufi da tarika Naqshbandi – há mais de uma década!

    Só para constar: não sou muçulmano.

    Abraços.

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  5. O governo não devia apoiar nem se opor, mas permitir um acerto voluntário entre pessoas livres.

    O governo não deveria intervir.

    Se fizerem mesquita em cima do marco zero, tanto faz tanto fez…

  6. Para os caros comentaristas Marco A Araújo, Adriano e André P.: TENTEM construir uma Igreja Cristã em Meca! Tanto faz se uma paróquia católica ou templo protestante. O destino é certo: martírio cristão!

  7. Caro Rodrigo, se Meca não tem liberdade religiosa e nos Estados Unidos tem, existe algum sentido em comparar os dois?

    E antes que entendam errado eu sou contra a construção de templos muçulmanos naquele lugar.

  8. Coincidência ou não, li há pouco o seguinte trecho num texto de Russell Kirk (The chirping sectaries):

    ‘It is a consummate folly to tolerate every variety of opinion, on every topic, out of devotion to an abstract ‘liberty'; for opinion soon finds its expression in action, and the fanatics whom we tolerated will not tolerate us when they have power.’

    O Imã que pretende construir a Mesquita talvez não seja um fanático, mas ele deve refutar de modo veemente toda violência cometida em nome de Alá, inclusive advogando a liberdade para cristãos, ateus, gays e mulheres em terras islâmicas, e desde que seus pares aceitem. Antes disso, aceitar qualquer conversa sobre a Mesquita é ‘tratar bandido com mingau da vovó’.

  9. Fábio, faz todo o sentido. Veja bem, não sou contra a liberdade religiosa (ou livre arbítrio, termo que eu prefiro), mas não dá para aceitar essas provocações simbólicas em países de maioria cristã. E insisto, por muito menos um cristão seria morto e teria seu corpo descarnado em quase todos os países de maioria muçulmana.

  10. haha, eu até respeitava mais ou menos esse site, mas esse post me ajudou a entender melhor o fascismo dos autores e comentadores.

    (não digo isso nem exatamente pela opinião em si, mas pela maneira infantil com que foi defendida)

    o mais cômico é ver alguém seriamente usando de argumento que ‘quem tenta construir igreja cristã em teocracia muçulmana é morto!’.

    a impressão que dá é que todos adoram teocracias assassinas muçulmanas, as tem como modelo.

    e o mais triste é ver que esse tipo de intolerância vulgar é uma das coisas que impedem a articulação dentro do mundo muçulmano de comunidades e doutrinas mais tolerantes (o que seria a única solução viável para o fim do radicalismo islâmico que não passasse pelo genocídio).

  11. E que tal construir um templo ao Deus Júpiter ao lado do Capitólio?

    Mas se o presidente for inteligente mesmo, ele edifica uma mesquita nos jardins da casa branca, justamente pra evitar que um muçulmano joque um avião alí

  12. Martim,

    Shame on you pelo pior texto já publicado na Dicta (papel e on-line). Não entendi o ponto de você repetir os piores clichês do partido da guerra nos EUA, entrando numa discussão que só tem sentido quando formulada em termos culturais totalmente peculiares aos americanos, os quais você nitidamente dá mostras de não compreender.

    Este parágrafo, por exemplo, é um non-sequitur vergonhoso: “O que estes supostos democratas não percebem é que a democracia, para funcionar corretamente, deve ter e impor seus limites. É por essa razão que ela não é um valor em si e apenas um sistema de governo; a democracia precisa de uma ordem pré-existente antes de que possa providenciar as liberdades e os direitos de seus cidadãos. E tal ordem não está inscrita nas leis e sim nos costumes de cada povo, que foram alimentados por uma determinada tradição que tem os anos para comprovar a sua eficácia. Em outras palavras: uma democracia nunca pode ser uma anarquia.”

    É bonito partir de uma análise burkeana da democracia. Feio é pagar o mico de, na frase seguinte, deixar claro que não entende que a tolerância religiosa é precisamente parte integrante da ordem não-escrita e dos costumes subjacentes à democracia americana.

    Depois ainda piora, quando você diz que o que Obama propõe não é uma democracia, e sim uma oligarquia, achando que isso é uma tremenda condenação do presidente americano. Tecnicamente, o sistema americano sempre apresentou mais traços de uma oligarquia do que de uma democracia, mas isso é tão fora do tema que, mesmo descontada a besteira, não entendo porque isso entrou no seu texto.

    Continuando, ainda que as três definições de sagrado com que Charles Krauthamer começa seu texto sejam corretas – e isso é um grande “se”, na medida que as definições 2 e 3 são altamente forçadas – como a construção de um centro islâmico com o objetivo expresso de promover o diálogo entre as religiões pode de alguma maneira manchar a santidade do “ground zero”? Foram os autores do centro que fianciaram, aliciaram e treinaram os pilotos? Foi “o islam” que o fez? Se sim, por que tipo de metonímia? Não se tratam de grupos diferentes de muçulmanos, com visões de mundo diferentes e diferentes pontos de vista sobre a forma de relacionar-se com não-muçulmanos. Pergunto se você tem algum conhecimento, alguma noção da estrutura descentralizada em termos de teologia e jurisprudência do islamismo. Pela foto que ilustra seu post, representando Obama como o décimo-segundo Iman, uma referência clara ao xiismo, quando os ataques do 11/9 foram perpetrados por sunitas, imagino que não, certo?

    Não posso então deixar de me perguntar: por que este texto ridículo, desinformado, preconceituoso e fora de lugar?

    Diogo

  13. Pode até ter uma mesquita em manhattan, mas antes acho necessário construir alguma referência à fase indígena (apalache) da ilha. Quando ela ainda chamava-se Mã-hata-uã (sério), e fora comprada pelos holandeses, usando armas como escambo

  14. Meu Deus, a incapacidade de sutilezas (nem tão sutis assim) é, de fato, uma pneumopatologia. A vaga ideia – não é clara e distinta, portanto não pode ser alçada a conceito – de “tolerância religiosa” tem servido somente para preservar e exaltar qualquer coisa que não o ideário cristão (se for católico então…). A discussão sobre se é no local ou próximo do local do WTC é absurdamente irrelevante e delatadora do modo estúpido que se pensa: se fosse NO local seria ruim? Pois bem, quão próximo já não é?

    O problema é que se perdem, todo dia, outras medidas…

  15. Bom, o que eu li do Krauthammer e de outros poucos americanos que leio não é contra a construção de mesquitas, ou contra a liberdade de culto nos Estados Unidos, e sim contra à localização da mesquita. Mesquita de um Imam que disse, segundo Krauthammer, que não chamaria o Hamas de grupo terrorista porque não é político.

  16. Esse Paulinho Ester é o maior pulha que já comentou aqui. Nos meus comentários eu critiquei a teocracia muçulmana e dito cujo interpreta que eu a esteja defendeno.
    Vá aprender a ler seu analfabeto funcional!
    E além de tudo é um papagaio ignorante repetindo aquela ladainha de que a culpa da intolerância muçulmana é culpa da tolerânia cristã! Andou lendo muito Arnaldo Jabor?
    Vá se tratar seu esquizofrênico!

  17. Mas de que trevas emergiu o homem das 12:42 am. O “rapah” não conseguiu entender uma linha do post, e pois se a escrervinhar. Que dureza, hein, Martim?

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