O Sangue de Dresden

Uma guerra pode ser injusta por vários motivos. Uma potência que ataque países vizinhos pela mera sede de conquista age, sem dúvida, injustamente.

No entanto, mesmo uma nação que lute por uma boa causa, que justifique a luta armada, pode comprometer sua posição se se utiliza de meios desproporcionais aos fins almejados. Mesmo a guerra pela libertação de um povo oprimido não justifica o incineramento indiscriminado de civis inocentes da potência inimiga.

Não há dúvidas de que, na Segunda Guerra Mundial, os Aliados lutavam por uma causa justa; eram eles que tinham a posição moralmente superior. O bem estava do seu lado. Mas isso não desculpa todas as barbáries cometidas.

Em fevereiro de 1945, aviões ingleses e americanos bombardearam a cidade alemã de Dresden até sua completa destruição. Não restou uma construção de pé. Casas, escolas, hospitais, igrejas, museus, até o zoológico, tudo aniquilado. Cem mil vidas foram dizimadas em uma noite.

O autor Kurt Vonnegut, que mais tarde escreveria o romance “Slaughterhouse 5″, era prisioneiro de guerra em Dresden; presenciou o bombardeio Aliado e foi em seguida destacado para retirar dos escombros os corpos das vítimas. Novos escritos seus foram encontrados pelo filho, nos quais relata vivamente o que foi esse ataque, que está entre os mais baixos atos de destruição dos Aliados na Segunda Guerra.

6 comentários em “O Sangue de Dresden

  1. Como pode-se considerar necessário a ” Destruction of anything other than military objectives” ? O desaparecimento de civis, mulheres, crianças, cidades, culturas, enfim vidas constituídas ao longo de séculos da história? Como dizia o folheto foi ” unintencional”. Uma brutalidade sem querer!…Faz parte da guerra…nesse caso ainda, para mostrar que os americans tambem são durões.

  2. É por aí, Daniela. Em ensaio de 1936, Elias Canetti observava que a “tensão forte e assustadora sob a qual vivemos” quebrou o espelho que era antigamente o espanto, a perplexidade que nos permitia olhar para os fenômenos numa “superfície mais lisa e tranqüila”. E claro, inferência minha, escolher com alguma serenidade, nos planos individual e político. Despedaçado esse espelho, “no mais minúsculo estilhaço, já não se reflete apenas um fenômeno isolado: impiedosamente, este arrasta consigo o seu reverso”. Degradada em tempos de guerra e violência a comunicação e a confiança na ágora , ou por razões perversas ou pela desrazão paranóica a fala é empurrada para o registro do fragmentário e do antitético (com “t” no meio!); deixa de ser reflexiva. O espanto só não é então amortecido quando o olhar crítico enxerga por meio dele mais do que fenômenos singulares: “o que quer que você veja, e por menos que veja, transcende a si próprio a partir do momento em que é visto” (Canetti novamente). Quem não protege sua perplexidade fica entregue à urgência ao mesmo tempo real e enganosa das manchetes ou informações picotadas; um perigo se quem deixa de espantar-se tem poder de mando em alto grau. Que o digam as famílias debaixo dos bombardeiros. Escolhas dramáticas continuam a ser propostas, mas as diferenças e opções razoáveis – ie, aquelas passíveis de re-conhecimento dialogal – tornam-se cada vez mais fugidias. “Pouquinhas estrelas dando céu; a noite barrava bruta. Digo ao senhor: a noite é da morte? Nada pega significado, em certas horas.” (Riobaldo/Guimarães Rosa dixit, uns dez anos depois de Dresden; escrita de um gigante da literatura do século XX, que auxiliou muitos judeus na década de 40 e esteve quatro meses internado pelos nazistas em Baden-Baden). Aos que não gostam de GR, mas também aos que o admiram e à torcida em geral, permito-me remeter ao belo sermão sobre a Sexta-Feira Santa in “Dogma e Anúncio”, de Ratzinger, crente no Dom do discernimento.

  3. 1) Já que logo acima resvalei para a retórica, lembro agora que a retenção de GR pelos alemães resultou do rompimento de relações diplomáticas e durou o tempo necessário à deportação. Sobre ajuda a emigrantes, it´s all true e apenas o engrandece. 2) Curiosidade histórica: “Slaughterhouse 5″ não pôde circular em alguns estados norte-americanos à época de sua publicação (1969!) http://www. rense. com / general 19 / flame.htm Dei uns espaços no endereço para não ficar preso em algum filtro.

  4. Hm. É preciso reconhecer que é para muito além de esquisito o site linkado no meu post #4, origem da informação pertinente à proibição do livro do KV. Não estou sendo irônico; não havia olhado bem.

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