Os brutos também amam

 

É difícil de assumir e talvez eu me arrependa depois, mas o fato é que gostei muito do vídeo que vai aí em cima. Meus amigos geeks diriam que se trata de um viral e depois fariam uma longa exposição sobre como a internet está mudando a estratégia de marketing das empresas. Meus amigos intelectuais, por outro lado, viriam nele a expressão de tudo o que há de pior no “Mundo Moderno”: a propaganda de uma multinacional que já teve quase um milhão de acessos no Youtube. 

Tentar aprofundar essa análise me parece tão besta quanto discutir, como aconteceu há uns meses, se a Susan Boyle cantava bem. Eu acho inegável que há sim alguma qualidade artística no vídeo e isso já é suficiente para me tirar do beco em que boa parte da arte contemporânea nos colocou ao se preocupar apenas com teorias e mais teorias – deixando de lado a única coisa que costumava importar, ou seja, que uma obra de arte precisa ser bela. 

Mas nem só eu estou confundindo alta cultura com haute couture. Está em cartaz no Metropolitan de Nova York a exposição The Model as Muse: Embodying Fashion. Bem, de Hesíodo a Beyoncé há um longo caminho e não quero nem pensar como seria a Divina Comédia inspirada na Paris Hilton. O fato é que alguma coisa está errada e eu pergunto com Lee Siegel no The Wall Street Journal:  Where Have All the Muses Gone? 

Lee Siegel publicou no ano passado o livro Against the Machine: Being Human in the Age of the Electronic Mob e parece ser mais um que não vê com bons olhos o que a internet está fazendo com as pessoas. Não sei, talvez ainda seja cedo para julgar e de toda forma me parece que o buraco é Down Below…

6 comentários em “Os brutos também amam

  1. Caro Guilherme,

    Já há alguns anos que a animação vive um boom criativo invejável. O diferencial não está na finalidade das obras, mas como você percebeu, no apuro estético de cada uma delas. Falando nisso, não gosto nenhum pouco da banda Coldplay, mas você já viu este clip?:

    http://www.coldplay.com/videostrawberry.php

    Abraço.

  2. …”do beco em que boa parte da arte contemporânea nos colocou ao se preocupar apenas com teorias e mais teorias – deixando de lado a única coisa que costumava importar, ou seja, que uma obra de arte precisa ser bela.”

    Concordo com isso. Muito.

  3. não me parece que o problema com a arte contemporânea seja a proliferação de teorias. não penso que alguém possa ter problema com teorias, porque no fim, e hoje mais do que antes, nada mais simples de ignorar do que uma teoria. mas penso que nos incomoda uma teoria da arte contemporânea que não guarde um lugar para o belo. e esse vídeo é bonitinho, mas não é belo.

  4. Posso estar enganado, mas esse viral (como tantos outros) parece ser apenas mais um caso de plágio descarado. Quando vi o vídeo de seu artigo, lembrei-me imediatamente desta animação japonesa: http://www.youtube.com/watch?v=rmkLlVzUBn4 . É incrível a semelhança entre os dois vídeos. Não sei dizer com certeza qual foi criado primeiro, mas a data de publicação do vídeo “Stop motion with wolf and pig” é de 9 de abril de 2009. Já o vídeo “The PEN Story” data de 2 de julho de 2009.

    Assim como você, normalmente procuro me basear na qualidade artística do filme ao invés de desconsiderá-lo apenas por causa do fim para o qual foi criado (uma peça publicitária, por exemplo). Entretanto, fico realmente ENOJADO com plágio – especialmente quando uma agência de publicidade copia quase que na íntegra o trabalho de um artista independente. Ganhar o mérito às custas do trabalho dos outros é algo que considero inadmissível, e esse vídeo da Olimpus parece enquadrar-se nesse caso: ao que parece, os “criativos” (como os próprios publicitários gostam de se chamar) que o criaram não eram tão criativos assim…

    A propósito, parabéns pelo site.

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