Os homens ocos da Avenida Madison

Recentemente, fiz a descoberta de dois nomes que já coloquei no panteão de gênios da sétima arte americana, ao lado de Stanley Kubrick, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, entre outros: David Chase e Matthew Weiner.

O primeiro é o criador e o produtor da melhor série dramática de TV da primeira década dos anos 2000: The Sopranos. Com argumentos inusitados, direção inventiva, vontade de ousar e desejo de transgredir as regras dramáticas, ela transcendia o mote a lá Mafia no Divã (mafioso-com-ataques-de-pânicos-vai-para-a-terapia) para se tornar uma reflexão angustiante sobre a geração que criou e viveu o economic meltdown que transformou o nosso mundo nos últimos dois anos.

Chase acompanhava a produção da série em todos os detalhes e dava liberdade para que os seus roteiristas fizessem o que achavam que deveria ser feito. Um desses sujeitos era Matthew Weiner, que, formado em literatura e filosofia, simplesmente ficou encarregado de escrever e produzir os melhores episódios de The Sopranos, especialmente os da última temporada, que, para quem viu, sabe que é uma das coisas mais chocantes e ambíguas já feitas em qualquer meio artístico.

Quando a série acabou, Weiner tratou logo de fazer o seu próprio show. O canal a cabo AMC então bancou Mad Men, a história de uma agência de publicidade que vive os tumultuados anos 60, com especial atenção à Era Camelot de Kennedy.

A série é um primor de roteiro e realização; está destinada a entrar no imaginário popular da mesma forma que The Sopranos. A ousadia de Weiner, que aprendeu as regras do jogo direitinho com David Chase, é dar tempo para a sua história se desenvolver sem pressa. Cada diálogo e cada silêncio têm um peso enorme no desenvolvimento dos personagens. E, além disso, há um poderoso comentário sobre como os costumes da América mudaram de forma silenciosa, sem que ninguém percebesse.

Neste texto de Ed Driscoll, que comenta os principais eventos da terceira temporada da série (atualmente em exibição na HBO brasileira), temos uma reflexão sobre como Weiner é ambicioso em seu painel histórico e como isto pode ter seus impactos na atual sociedade americana. E não se preocupe com os eventuais spoilers que o artigo de Driscoll possa contar; eles não estragam em nada o prazer de ver as aventuras e as desventuas de Don Draper.

(E quem quiser saber mais sobre Matthew Weiner, leiam esta reportagem da Vanity Fair, publicada no final da segunda temporada de Mad Men. O epísódio mais memorável é quando Weiner pede à equipe para mudar as frutas em um detalhe de cena porque elas estavam, segundo ele, “muito perfeitinhas”. A vida é breve, a arte é longa, etc. e tal)

4 comentários em “Os homens ocos da Avenida Madison

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  2. Caro Jonas:

    Até tenho planos de escrever sobre The Sopranos, mas o problema é que me falta tempo…

    Abraços

    Martim

  3. Sou um grande fã de seriados americanos, mas Mad Men não me cativa. Confesso que assisti apenas aos três primeiros episódios. Há um didatismo ali que me incomoda. Os personagens soam um tanto programados demais. Há sempre um ar de curiosidade, ”ah, olha só o que eles pensavam ali pelo anos 50″. É como se o escritor estivesse mais interessado em expor uma espécie de teoria do que de criar dramas verossímeis. Não passa nem perto de Os Sopranos. Ou de Dexter. Ou Lost. In my humble opinion. Abraço,

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