Saber tudo sobre o nada

Newton afirmou que via mais longe porque se apoiava em ombros de gigantes. A ciência moderna utiliza muito bem esse princípio, mas vê mais longe apenas ao custo de focar a visão em áreas cada vez menores.

A evidência é de artigo da Economist que divulga uma pesquisa de James Evans, da Universidade de Chicago. Segundo ele, a disponibilização de artigos científicos online, ao invés de estimular um aumento no número médio de trabalhos citados por acadêmicos, provocou uma diminuição. A explicação plausível é que cada vez menos os pesquisadores “batem os olhos” em artigos de áreas fora de sua especialidade.

A vítima óbvia desse fenômeno é a interdisciplinaridade. A questão que se levanta é: vale a pena saber tudo sobre a menor das partículas se o número de pessoas com esse conhecimento será sempre contado com os dedos da mão?

6 comentários em “Saber tudo sobre o nada

  1. Se me permite, tenho estudado algumas coisas sobre isto no Brasil, especificamente em Economia. Acho um pessimismo exagerado. Há problemas mais relevantes do que este na publicação científica como o favoritismo (“puxa-saco”) que é bem menos profundo – mas mais prejudicial, creio – do que o que você coloca. A discussão é boa, muito boa. Em termos de Brasil, não conheço as outras áreas (he he he), mas em Economia, alguns estudos sobre o tema são os meus com Ari e Joao R. Faria, J. Victor Issler (FGV-RJ) e Walter Novaes (PUC-RJ) que dão uma idéia dos problemas das publicações científicas brasileiras em Economia.

    Desviei um pouco do tema e, inevitavelmente, pelo que trabalho, falei de mim mesmo (sorry), mas eu acho esta discussão muito bacana. Bom post.

  2. Em muitas ciências, a especialização crescente é inevitável. Conforme aumenta o conhecimento total, a fração dele que cada homem consegue apreender diminui. O avanço da ciência depende dessa especialização.

    E isso não vale para todas as ciências. História e Física obviamente ganham com a especialização. Já Filosofia e Economia, parece que não tanto (talvez até percam).

    Que a especialização ocorra nos ramos nos quais ela traz resultados positivos é ótimo. Mas que isso ocorra sem tais ganhos, meramente por dinâmicas institucionais da produção científica, é de fato algo preocupante.

  3. O fato é que não é possível ser um especialista (realmente) bom, sem ter um entendimento mais elaborado do todo. Acaba ficando muito fácil se perder nos detalhes.

    A nova mecânica de acesso aos “papers” (que não são mais papers coisa nenhuma) termina por evitar ainda mais um encontro casual com aquele conhecimento que não está diretamente relacionado com nossa área de atuação. Mas quem sabe que a diferenciação mora na amplitude do horizonte de busca e interelacionamento do conhecimento, não deixa deixa esse encontro por conta da casualidade.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>