Por indicação de Pedro Sette Câmara, soube que Tom Palmer, vice-presidente para programas internacionais do Cato Institute, alegou que Hans Hermann Hoppe – o economista citado há dois posts e que profetizava a criação de um Estado Total após o estouro da bolha imobiliária – escreveu para um jornal cripto-neonazista chamado Junge Freiheit (numa tradução capenga significa algo como “liberdade jovem”). Graças ao Google, descobri um artigo do próprio Palmer, em que fazia a denúncia e explicava por que não aceitava os argumentos de Hoppe.
O que eu li de Hoppe não indica nada de “nazi” em suas análises, mas Palmer não é um sujeito que acusa qualquer um injustamente; almocei com ele quando visitou o Brasil e pareceu-me um homem ponderado, sensato e, sobretudo, muito claro em seus ideais. No seu artigo, o que assusta não são as refutações contra o autor de Democracy: the God that Failed (todas plausíveis, se formos observar que, de fato, o dr. Hoppe tem um quê de “porra louca” em seus textos), mas a evidência de que há, entre os liberais clássicos (o Cato Institute e o Liberty Fund) e os chamados “anarco-capitalistas” (Lew Rockwell e algumas facções do Mises.Org), uma rixa interna em que só a liberdade perde.
Pois uma coisa é a divergência de opiniões; a outra coisa é quando pessoas que deveriam lutar juntas contra um inimigo comum – no caso, o golpe na consciência ocidental que rompe com todo e qualquer elo da tradição cultivada por séculos – resolvem partir para caminhos opostos.
Palmer é coerente em suas observações contra Hoppe; mas será que Hoppe está completamente errado em suas profecias? O perigo é que ambos estão certos, cada um a seu modo. A questão sobre Hans Hermann Hoppe é se ele apóia ou não uma ideologia que prega o extermínio de seres humanos. Se Palmer estiver certo, juro que sou o primeiro a meter a mão na cara do dr. Hoppe, independente ou não dele ser a última encarnação do profeta Elias (afinal, Nietzsche, outro sujeito que os “nazis” adoram, também previu muita coisa e acertou na mosca; errou só no essencial); se Palmer errou, então estamos fritos de qualquer maneira, porque Hoppe está certo em pelo menos uma coisa: já vivemos na Era do Estado Total.
O fato da obra de Hoppe ser justamente uma denúncia de um movimento totalitário e revolucionário – ideologias que foram compartilhadas por socialistas, nazistas e fascistas (Ainda tem dúvidas a respeito disso? Não leu nenhum livro de História? Então leia As Benevolentes, de Jonathan Littell, uma ficção que dissipa qualquer névoa a respeito da “rivalidade mimética” entre o nazismo e o socialismo) – me faz analisar o texto de Palmer com um pé atrás. Mas, repito, Tom Palmer não me parece ser um sujeito que gosta de fazer declarações maliciosas. Portanto, só tenho a lamentar o problema crescente para aqueles que defendem a liberdade de expressão, de consciência e, no fim, da sua própria vontade: O que faremos quando um reino divide-se contra si mesmo – enfim, quando Satanás expulsa Satanás?
Sem dúvida, não procurarei Bill Ayers para saber a resposta.
Estranho, muito estranho. Mas tanto Hoppe quanto seu mestre Rothbard, em última análise, advogam tal como os comunistas e nazistas a utopia de uma sociedade perfeita, que para eles se caracteriza pela total abolição do Estado. Creio que a ideologia da dupla Rothbard-Hoppe se enquadra na idéia de “movimento revolucionário” de Olavo de Carvalho, mas é absurdamente inócua e infinitamente menos perigosa que a dos comunistas e nazista, pois nào apelam para a violência no seu método revolucionário: esperam alcançar a sociedade perfeita apenas pelo livre convencimento racional – pelo menos para Rothbard (The Ethics of Liberty). O que é perfeitamente ridículo.
Martim, permita-me elogiar o seu post!
Aproveito para agradecer os excelentes comentários – uma boa contribuição para o site – de Vinícios de Oliveira e Ricardo Leal.