Seria, a propaganda, do mal?

Qual é o grande problema com as propagandas? Por que é que todo mundo tem alguma propaganda que gostaria de proibir? O que está por trás dessa mentalidade, que vai aos poucos corroendo nossa liberdade de expressão?

Vimos recentemente a tirada do ar da infeliz campanha publicitária da Vovó Safalda, que fez sucesso entre a molecada conscientizada com seu sábio conselho à netinha: “Mas quem falou em casamento? Eu tô falando em sexo!”. Claro que é bem triste ver uma senhora, que devia ser respeitada por sua experiência e sabedoria, por sua capacidade de ir além dos desejos de curto prazo, capitular para a mentalidade de um adolescente tarado e hedonista. Se bem que, perto do que se vê na televisão, essa propaganda era até bem casta. É no mínimo curioso que sensibilidades que agüentaram incólumes décadas de Malhação e Xuxa tenham sido mortalmente feridas ao ouvir uma vovó dizer a palavra “sexo”.

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17 comentários em “Seria, a propaganda, do mal?

  1. Ê Joel, libertários como você no fundo pensam de forma muito parecida com um esquerdista, com a exceção da defesa do mercado.
    Primeiro, o comercial foi retirado do ar por iniciativa da própria empresa, para agradar a parte de seus consumidores que se setiram agravados. E agradou à outra parte mantendo a propaganda na internet. Cadê violação dessa deusa chamada liberdade de expressão?
    Segundo, esse comercial estava passando em horários que crianças ficam grudadas na televisão! No mínimo deveria ter sido restringido o seu horário.

  2. Calma lá…

    O publicitário não é um artista!!! Que mané “liberdade de expressão”. O trabalho dele é vender um produto para o público, ou público-alvo. Entretanto, se parte do público se sente ofendida com uma propaganda, nada mais inteligente do que tirá-la do ar. Já pensou se deixa rolar esse feedback negativo? Tá maluco?

    Quando isso acontece é por causa de um erro na concepção da campanha, e não por censura. Foi veiculada no horário errado, errou o público, o público não recebeu a campanha de forma adequada, etc. Isso nada tem com “queimar livros”. O publicitário não é bastião de nada. É apenas um funcionário que deve fazer seu serviço direito.

  3. Meu caro, eu sei que o comercial foi tirado voluntariamente do ar.

    O meu texto não é apenas sobre leis que proíbem certas propagandas, mas sobre toda a mentalidade que está por trás dessas leis; ou seja, sobre o tipo de moralismo ingênuo e afetado aliado a preconceitos anti-capitalistas que animam toda essa campanha contra a propaganda.

    Nossa liberdade de expressão é corroída não só por leis que proíbem o que pode ou não ser veiculado (essas leis também são antes sintomas do que causas), mas pela duplicidade que tem dominado as mentes, que visa conter as manifestações mais superficiais sem questionar toda a cultura e os valores por trás dela.

    Algo similar ao que aconteceu na ditadura militar. O governo proibia certos livros, certas manifestações de idéias, mas culturalmente falando capitulou integralmente ao pensamento de esquerda. É de se espantar que o “esquerdismo” que você tanto odeia tenha se alastrado com ainda mais força durante o período?

    Os problemas de fundo são, por um lado, o hedonismo e o imediatismo, e, de outro, a destruição do conceito de responsabilidade. A partir do momento que uma propaganda passa a ser apontada como causa da má formação das crianças, ou da má conduta dos jovens, ou do que quer que seja, isso significa que os cidadãos abriram mão da mais básica autonomia mental necessária para se viver como seres humanos.

  4. Se marketeiro é ou não artista nem entrou em discussão.

    Aliás, é uma discussão que nem existe. O mais relevante seria discutir se os artistas são artistas.

  5. Afirmar que haja sim uma hipocrisia endêmica na maior parte das pessoas (muitas delas “cristãs” – nominais -, sem dúvidas) não equivale a negar que haja uma infusão diária de mensagens torpes, como a desse comercial, que só ajudam a promover a derrocada do espírito, como pinçadas de veneno n’um moribundo.

    Que a população hoje tenha “se acostumado” a muitos ditos e situações por aí não quer dizer que esteja tudo bem; pelo contrário, é um sintoma, e um sintoma bem sério. Mostra que o homem já está frio e tremulando sobre o leito.

    Enfim, quando vemos reações como essa do público é porque sabemos que ainda há um fundo de “senso comunis” (n’um sentido bem tomista) no ser humano, mesmo nesse pútrido ser humano moderno.

  6. Joel, meu filho, é fato que o “espírito do capitalismo” nunca fez muito sucesso nestas plagas! Agora, essa de “preconceitos anti-capitalistas” porque consumidores rejeitaram como um produto foi oferecido é demais! Neste caso, os cidadãos abririam mão da autonomia mental, como realmente acontece muitas vezes no Brasil, se tivessem recorrido ao Estado para resolver seus problemas. Definitivamente não foi o que aconteceu! A Havaianas percebeu que poderia ter sua imagem e vendas afetadas se não atendesse às exigências de parte considerável de seus clientes.

  7. Só pra completar, ingênuo não é este moralismo afetado como você chama, mas pensar que só profundas digressões sobre os males de nossa época, prescindindo de atitudes práticas, vão elevar os nossos valores!

  8. Talvez você tenha razão, Rodrigo. Meu uso da campanha da Havaianas foi só para mostrar a desproporção das reações. Quanto às novelas e outros programas, de conteúdo imensamente mais danoso, nenhuma reação pública. A uma propaganda em que figura a palavra “sexo” saindo de uma idosa, reação de condenação imediata. Não tem algo de estranho aí?

  9. Concordo. Tem algo de muito estranho aí. Os brasileiros, ou pelo menos uma parte considerável, que assistem novelas ou consomes qualquer outro produto de entretenimento bem que poderiam se mobilizar, não apelando ao Estado mas diretamente às empresas envolvidas, e tentar melhorar o nível destes produtos.

  10. Eu não entendi uma coisa, Joel, você é contra toda e qualquer “censura” – seja vinda do Estado ou do público – a propagandas ou mensagens divulgadas publicamente? Você considera ineficiente isso?

    O resto acho que entendi, isto é, sua crítica à decadência moral do Ocidente e do homem comum, etc.

  11. Não, não sou contra toda e qualquer censura, vinda do Estado ou do público. Sou contra a mentalidade dominante que enxerga, nesses mecanismos de proibir ou auto-policiar certas manifestações, uma maneira de manter um certo nível ético na mídia ou onde quer que seja.

    Sou contra enxergar o problema na propaganda, na manifestação superficial. Se a cozinha está cheia de gás, o cheiro de gás é o menor dos problemas. Não é um Bom Ar que vai resolver.

    E o texto não tenta ser uma crítica a “como o Ocidente decaiu”. A perda da autonomia e responsabilidade individuais bem que é algo mais recente. Mas a atitude por trás da censura, esse policiamento da manifestação superficial como meio de manter os bons costumes, o moralismo excessivamente preocupado com os sintomas e não com as causas, não são novidade do mundo atual…

  12. Joel,

    Já observou como a esquerda se irrita com propaganda de biscoito e bolacha, mas não diz um a sobre a proliferação de pornografia?

  13. Joel,

    Seu post me fez lembrar um pensamento que tive assim que o Ratinho (sim, ele mesmo) se tornou um sucesso de audiência no SBT.

    Eu via aquele troço por sadismo, masoquismo ou seja lá o que queiram falar, e morria de dar risada.

    Quando perguntava a alguém se já tinha assistido ao programa, a resposta era unânime: “claro que não, eu assisto à novela.” (com caras e bocas de espanto e constrangimento).

    Ou seja, o sujeito acha um absurdo assistir a pessoas ignorantes brigando e bizarrices do tipo, e considera super normal algo como as novelas, que quase sempre têm a mesma lição, escritas por gênios como Manoel Carlos e Daniel Filho (esses sim verdadeiras aberrações): o homessexualismo é normal, pais separados são bacanas e monogamia é coisa de gente ultrapassada.

    É realmente difícil de entender.

    Abraços!

  14. Joel, você viu o artigo no caderno de negócios do Estadão de hoje (pg B15) que fala que legisladores franceses e britânicos querem proibir o photoshot nas propagandas porque isto está fazendo mal – tanto físico como psicológico – às mulheres?

    Veja que pérola essas duas frases:

    – “Quando adolescentes e mulheres olham para tais fotos nas revistas, elas acabam se sentindo infelizes consigo mesmas”

    – “(…) as imagens alteradas estavam prejudicando a capacidade das jovens mulheres de controlar seus próprios destinos”

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