Sobre Saki, Leões e Coisas de Homem

 

Besta - Leonardo da Vinci

Há uma boa passagem, n’O Gattopardo, em que Lampedusa constata, de maneira profética e resignada, que em três gerações o novo regime republicano transformaria os homens em pequenos gatos mansos e domesticados.

Mais de três gerações se passaram e parece que Lampedusa tinha mesmo razão. Submetido a doses cavalares de “paz, amor & ecologia”, o homem pós-moderno é criado completamente indefeso e despreparado para as situações da vida que exigem dele atitudes, bem, atitudes de homem. O politicamente correto de repente transformou a manlitate em algo moralmente errado e o resultado é que a coragem e outras virtudes clássicas passaram a ser vistas com o sinal invertido.

Acho que foi o Olavo de Carvalho quem recentemente chamou a atenção para esse fato, quando aquele sul-coreano maluco saiu atirando pela Virginia Tech sem que um único aluno ousasse fazer alguma coisa que não correr para salvar a própria pele. Talvez o exemplo ali fosse um pouco extremo, mas a verdade é que essa prostração remete a um fator cultural alarmante.

A propósito do razoável artigo de Cristopher Hitchens sobre Saki, na última Atlantic, Joseph Bottum relembra um de seus grandes contos, The Toys of Peace, que retrata de maneira bastante interessante esse processo. Na história, vemos o que acontece quando um tio resolve comprar aos sobrinhos brinquedos politicamente corretos, ao invés dos bons e velhos soldadinhos e tanques de guerra.

Vejam este trecho (a tradução livre é minha, de maneira que peço desculpas pela qualidade. Mas você pode ler o original aqui):

Uma enorme quantidade de tiras de papel ondulado foi a primeira coisa que chamou a sua atenção quando a tampa foi retirada; os brinquedos mais excitantes sempre vinham assim. Harvey jogou de lado a camada superior e logo apareceu um edifício quadrado, sem nenhum traço característico.

“É um forte!”, exclamou Bertie.

“Não, é o palácio do Mpret da Albânia”, disse Eric, imensamente orgulhoso do seu conhecimento do título exótico; “ele não tem janelas, para que as pessoas não consigam disparar contra a Família Real”.

“É um depósito de lixo municipal”, disse Harvey apressadamente; “todos os resíduos e o lixo de uma cidade são reunidos lá, ao invés de ficarem jogados, prejudicando a saúde dos cidadãos”.

Em um silêncio terrível ele desencravou o pequeno boneco de um homem com roupa preta.

“Este”, disse, “é um homem eminente, John Stuart Mill. Ele foi uma autoridade na economia política”.

“Por quê?”, perguntou Bertie.

“Bem, porque ele quis; ele pensou que seria uma coisa útil de se ser”.

Bertie deu um grunhido expressivo, que transmitiu a sua opinião de que essa seria uma vontade estranha.

Um outro edifício quadrado saiu da caixa, desta vez com janelas e chaminés.

“Um modelo da Associação Cristã da Mulher Jovem de Manchester”, disse Harvey.

“Há lá algum leão”?, perguntou Eric com esperança. Ele vinha lendo história romana e pensou que onde houvesse Cristãos você poderia esperar razoavelmente encontrar alguns leões”.

Se eu fosse o dono de uma editora, “há algum leão?” seria a pergunta eliminatória que eu faria para os escritores que submetessem seus manuscritos. Em caso negativo… Mas divago, porque tudo isso era apenas desculpa para indicar o site The Art of Manliness (via Stefan McDaniel), que trata de mordidas de cobra, caçadas, guias para dar gorjeta como um gentleman, para arrombar uma porta, há perfis periódicos (veja o com Viktor Frankl), enfim, tudo que você precisa saber para não acabar ganhando o Sissy Awards de 2008.

4 comentários em “Sobre Saki, Leões e Coisas de Homem

  1. Excelente senhor Rodrigo Duarte! Precisamos, tão rápido quanto for possível, destruir o mito do metrossexual e coisas do tipo. Os homens precisam reaprender a ser homens, como disse uma vez o sempre excelente Júlio Lemos.
    Este site em inglês é muito bom. Mas precisamos fazer algo por aqui também, a partir da nossa língua, para salvar essa molecada do politicamento correto que destrói a virilidade, nossa dignidade de homens.

  2. Pingback: Quer controlar a educação do seu filho? « De Gustibus Non Est Disputandum

  3. The Art of Manliness é bom, em seu contexto. Mesmo assim não é Manly o bastante – basta ver que há pouco apresentaram um resumo daquele infame programa de virtudes de Benjamin Franklin como se fosse o creme da virilidade.

    Mas é melhor que qualquer outro site sissy para homens que haja por aí.

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