The Beautiful Tree

“Educação, educação, educação!” -Ok, ok, educação é um problema brasileiro e é muito importante. Mas como resolver esse problema? A resposta tradicional de aumentar investimentos no ensino público, para quem não pode pagar, ainda não obteve os resultados que esperávamos. Não haveria algum meio mais eficaz?

Que tal educação privada, gerada e gerida pela própria comunidade? Com todas as suas imperfeições, é essa solução que tem apresentado melhores resultados nas regiões mais pobres do mundo; sem falar que é ela que esteve por trás da educação de nações hoje em dia ricas, antes da universalização e massificação do ensino básico.

Bom, o livro de James Tooley visa mostrar que sim, as pessoas mais pobres podem pagar pela sua própria educação, e o fazem quando têm a oportunidade. E quem dá as aulas? Professores que levam a sério sua vocação, muitas vezes reunindo pequenos grupos na sala de casa; verdadeiros empreendedores da educação. Está aí um livro que deve ser, não apenas inspirador, mas também útil.

13 comentários em “The Beautiful Tree

  1. Pra mim isso é óbvio…

    numa população, pegue 30% das melhores crianças e dê a suas famílias um premio em dinheiro… conforme o desempenho se aproxima do topo maior a premiação…
    e nao é só premio em dinheiro, mas prestigio também. Por exemplo, encontro com celebridades ou autoridades.

    No longo prazo…

    pegue alguns jovens com capacidade comprovada e mande-os estudar nas melhores universidades do mundo, em contrapartida seria-lhes exigido que lecionasse na escola pública por certo periodo ao retornar…

    pra mim é tão óbvio…

  2. Tá, e a matéria dada nessas universidades, qual é? E a doutrinação, como é? Como são esses professores? E o ambiente universitário?

    Negligenciar estas coisas – isto sim é repetir erros.

  3. Não há nada de óbvio em educação privada ser melhor do que a pública.
    Peguemos o exemplo do Chile. Lá, a ideia do grande economista Milton Friedman, Prêmio Nobel e defensor intransigente do livre mercado, homem que admiro, de que fossem usados “vouchers” de educação que dessem a liberdade para que as pessoas escolhessem a escola dos seus filhos não reverteu em bons frutos.
    Nos testes internacionais percebe-se que não há correspondência entre educação privada e qualidade de ensino.
    Portanto, não há nada óbvio quando se trata de educação.
    Outro ponto, as famílias mais pobres no Brasil, segundo dados do IBGE, gastam mais com cigarros do que com a educação dos filhos. Então dizer que “as pessoas mais pobres podem pagar pela sua própria educação, e o fazem quando têm a oportunidade” é meio complicado. Acho que o que entra aqui é uma questão de valores. E creio que a solução não encontra-se na espontaneidade do mercado.
    Mas o livro dá pano para a manga!
    E dando meu pitaco na revista, creio que é uma discussão que seria interessante vocês abordarem: “Como melhorar a educação?”

  4. Na minha opinião, o mínimo que o Estado deveria fazer é desregulamentar a educação privada, de forma a permitir esses micro-empreendedores da educação, muitas vezes pessoas da própria comunidade pobre, mas um pouco mais educados do que a média de seus vizinhos, e com uma maior gana em aprender e ensinar. Também facilitaria para redes privadas aumentarem seu alcance, com serviços ainda mais baratos.

    O MEC deveria ter poder apenas sobre as escolas públicas. Ninguém sendo obrigado a cursar escolas privadas (afinal, existem escolas públicas), não vejo motivo algum para impor a burocracia e a certificação estatal sobre elas.

  5. Joel, concordo plenamente com você. Não há o menor motivo para o MEC impor seus critérios às escolas privadas. Nem de estabelecer requisitos diferenciadores de origem pública ou privada no que se refere aos alunos ingresantes nas universidades ou no mercado de trabalho.

    Gosto muito desse tema e apóio a sugestão do José. Na minha opinião, os requisitos do MEC é uma das principais barreiras que impedem a melhoria da educação no país. E o chato é saber que esses entraves só existem por uma questão de poder, de autoritarismo. Se fosse por uma questão de controle sobre a qualidade do ensino, muitas e muitas faculdades que temos por aí deixariam de existir. Falo disso com conhecimento de causa.

  6. “Outro ponto, as famílias mais pobres no Brasil, segundo dados do IBGE, gastam mais com cigarros do que com a educação dos filhos.”

    Isso é verdade apenas para as famílias que vivem na pobreza extrema ou, mais tecnicamente, na miserabilidade, que é mais grave do que a simples pobreza.

    Os dados completos estão na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2002-2003 do IBGE:

    http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2002/pof200220032aed.pdf

    A tabela 1.1.1 (pág. 117) mostra que, de fato, as famílias brasileiras que em 2002 ganhavam até R$ 400 por mês em gastavam em média R$ 3,63 por mês com educação e R$ 5,20 reais por mês com fumo. Essas famílias abrangiam cerca de 15% da população brasileira, segundo os dados da tabela 6 (pág. 60).

    Mas as famílias que ganhavam de R$ 400 a R$ 600 reais por mês dividiam essas despesas de forma praticamente igual: R$ 6,83 por mês para a educação e R$ 6,81 por mês com fumo. Essas famílias compunham cerca de 14% da população brasileira.

    Porém, quando a renda familiar passava de R$ 600 mensais, as despesas com educação eram maiores do que com fumo — tanto maiores quanto maior a renda. Esse era o caso de aproximadamente 71% da população brasileira.

    Que concluir disso? As famílias brasileiras que estão passando fome e lutando pela sobrevivência física realmente dão mais valor ao cigarro do que ao estudo. Mas isso é compreensível: para alguém que está em risco de vida, o longo prazo é uma simples abstração, e nada que não traga alguma satisfação imediata (seja um pão ou um cigarro) tem grande importância.

    Mas assim que se passa desse nível de miserabilidade e a mera sobrevivência física se torna assegurada — ainda que rigorosamente não se tenha mais nada além do mínimo alimentar necessário — o longo prazo começa a ser uma preocupação, e o estudo já desponta como uma prioridade.

    Assim, os dados do IBGE, a meu ver, tendem mais a confirmar a tese de Tooley do que a desmenti-la. Os miseráveis que mal têm o que comer de fato preferem gastar seu escasso dinheiro em cigarros do que em mensalidades de escola privada; mas eles também não vão à escola pública, apesar de gratuita e obrigatória, porque não estão em condições de trocar a luta pelo pão (ou pelo cigarro) de hoje pela promessa de almoço melhor daqui a vinte anos. Essa faixa social têm problemas imediatos prementes demais e foge da escola de qualquer maneira, porque esta não os atende. Mas os pobres que têm o mínimo necessário para subsistir — ainda que decididamente pobres, segundo qualquer definição razoável de pobreza — claramente dão mais valor à escola do que ao cigarro. Esse setor, que no Brasil de 2002 já superava 70% da população nacional, é o público potencial de escolas comunitárias e cooperativas como as descritas no livro de Tooley, que têm todas as condições para conhecer aqui o mesmo sucesso que conhecem na Índia ou na Nigéria — desde que a burocracia não as sufoque.

  7. “As pessoas mais pobres podem pagar pela sua própria educação, e o fazem quando têm a oportunidade.”

    Joel, francamente. As pessoas mais pobres não podem pagar pela educação e o que é pior, mesmo se pudessem, não pagariam. Elas preferem comprar cigarros mesmo, ou um celular novo.

    “Que tal educação privada, gerada e gerida pela própria comunidade?”

    QUA QUA QUA. Aqui não se sabe nem sentar numa mesa pra comer. Prefere-se bermuda e chinelo de dedo à calça e sapato. Nossa classe média é semi-analfabeta. Essa gente NUNCA vai gerar e gerir um sistema educacional. Foi muito bacana lá nos EUA e na Europa, aqui são outros 500. Mas é claro que isso não nos impede de tentar, mas achar cegamente que a solução está aí…

    “A resposta tradicional de aumentar investimentos no ensino público, para quem não pode pagar, ainda não obteve os resultados que esperávamos. Não haveria algum meio mais eficaz?”

    Joel, o investimento em educação pública brasileira é uma brincadeira de mau gosto, todos sabemos disso. Tentar justificar sua alternativa por aí é no mínimo esquisito.

    Por que não tentar os 2? Por acaso um maior investimento no ensino público anula a possibilidade de se facilitar o surgimento de instituições privadas de ensino?

    Poxa vida, a gente fala tanto contra doutrinação e estereótipos ideológicos, e você nos vêm com essa birra direitista “público X privado”. Parece um comunista às avessas.

    O público pode dar certo e o privado também.

    Abraços a todos.
    Inguinorante.

  8. Joel, talvez você pudesse colocar um link remetendo ao post que você fez sobre o livro há alguns meses. Só pra registrar o início de tudo.

    À parte o problema do cigarro (que, dizem, faz bem para o cérebro), a impressão que tenho (já que nao li o livro) é que o ponto central da discussão se traduz na pergunta sobre até que ponto, como e se o Estado tem obrigação de interferir na educação de seus cidadãos. Ao contrário do Inguinorante, acho fundamental tentar traçar os limites entre o público e o privado para reconhecer quais são nossas obrigações, direitos e limitações de ação. Não se trata de birra direitista; trata-se de procurar o que é justo ou não. Ou alguém acha justo que o MEC obrigue dois jovens judeus, educadas muito melhor em casa do que numa escola pública brasileira, a fazer uma prova sobre a História do Handebol, a fim de que possam entrar numa faculdade??

    Ninguém disse que o público necessariamente dá errado. Nem que o privado sempre dá certo. A questão nem é essa. O importante é enxergar que há soluções diferentes, e até mais práticas e mais simples do que as mais comuns.

    Mas, como um direitista reacionário que sou, tenho plena certeza de que, se é público, se é administrado pelo Estado, tem grandes chances de fracasso.

  9. Marcelo, será que essa sua última frase vale pro Canadá ou pra Suécia?

    É a isso que me refiro no meu post.

    Essas soluções lançadas ao vento de forma generalista, desconsiderando por completo a realidades sobre as quais pretende-se aplicá-las, por mais “alinhadas com a direita” ou “reacionárias” que pareçam, são tão doutrinárias e utópicas quanto as idéias comunistas ou socialistas.

  10. Inguinorante, não sei se vale para o Canadá ou para a Suécia (tenho quase certeza de que há uma distorção entre causa e efeito aí), mas vale para o Brasil, justamente, como você diz, a minha realidade mais imediata.

    De qualquer modo, onde fica o humor nessa estória toda? Mais ainda, e se eu começar a defender a privatização do Tesouro Nacional? Ou a estatização do McDonalds? Por que dizer isso seria tão escandaloso? Por mais idiota que seja, não vejo motivos para se enervar tanto. Até porque o simples fato de eu afirmar, de acordo com as regras do politicamente correto, que o branco é preto não faz ninguém acreditar nisso.

    Sou contra o patrulhamento das ideologias generalizantes estapafúrdias e idiotas!! E contra o direito de os comunas se reunirem também!! Onde já se viu tamanho privilégio??

  11. Joel, obrigado pelo post e pela indicação do livro.

    A educação no Brasil, e acredito que também em qualquer outro país, é reflexo da cultura. Ou será o contrário?

    Diz-se que a uns anos atrás a educação, mesmo a pública, era melhor, e nota-se que o nível cultural era maior. Assim sendo, somos levados a pensar que com a massificação (reduzir o “analfabetismo”, educação para todos!) da educação a mesma decaiu, ocasionando a queda no nível cultural. Eu não acredito que a massificação, por si só, rebaixou o nível cultural.

    Acredito que foi o ‘esquerdismo’ (ou ‘progressismo’) que ao tomar conta de todos os espaços (revolução gramsciana?, revolução cultural?) de discussão e idéias, fez com que qualquer coisa um pouquinho fora deste fosse descartada (isolada, nem sequer pensada, tirada fora da grande discussão cultural). Temos uma cultura (falo da cultura geral e não de alta cultura) somente interessada em discussõezinhas de picuinhas ‘políticas’, dinheirinho, trivialidades, etc. Com uma cultura destas não é de se estranhar que a educação fosse pelo mesmo caminho (paulo freire, ‘apostilização’, professor de geografia comunista…).

    É claro que existem exceções, mas elas tão isoladas entre si e em tão pouco número que não tem efeito nenhum.

    Acredito que a melhora na educação somente acontecerá depois de uma melhora da cultura, e para tal iniciativas como a revista Dicta & Contradicta, cursos do IFE e do IICS (Martim Vasques e demais professores), Olavo de Carvalho, etc.

  12. Pergunta: a estrutura de incentivos criada pelo Estado com o pretexto de resolver problemas sociais promove ou pune ações e atitudes irresponsáveis como gastar mais da renda com cigarro do que com educação?

  13. Belíssima pergunta, Joel.

    Aliás, essa Lei de incentivo ‘a cultura é uma maravilha.

    Eu sou peão de obra. Minha profissão é de suma importância para a sociedade. Exijo a criação da Lei de Incentivo à Construção Civil…

    Existe raça mais sem vergonha na cara do que essa meia dúzia de mulambos que rondam a TV mendigando dinheiro da União pra fazerem peças de teatro e etc???

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